segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Entre favelas e palácios

Ao longo do meu ministério pastoral tenho transitado por favelas e palácios. 

Nessas caminhadas aprendi que o xis da questão não é se desenvolvemos nosso ministério com empobrecidos ou enriquecidos, mas se os valores espirituais que vivemos e ensinamos os aproxima ou os afasta, possibilitam pontes ou aprofundam abismos, geram paz pelo compromisso com justiça ou guerra pela incitação do ódio e do preconceito. 

Um ministério pode ser junto a enriquecidos e ser de natureza divina, ser junto a empobrecidos e ser de natureza diabólica. 

O que determina a qualidade do ministério pastoral não são as condições sócio-econômicas de quem alvejamos, mas os valores espirituais que norteiam nossas atitudes, palavras e ações.

Tudo depende do que estamos deixando o Jesus dos evangelhos fazer em nossa vida e do que estamos fazendo com o Jesus dos evangelhos, junto a empobrecidos e enriquecidos.

Soberania libertadora de Deus X escravização de ídolos

“Filhinhos, guardem-se dos ídolos.” (1 João‬ ‭5:21)

Jack Trout e Al Ries, no livro Marketing de Guerra, dizem, em, outras palavras, que o coração do consumidor é o campo de batalha daqueles que querem lhe vender seus produtos. Não por acaso, Salomão nos alerta: "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida" (Pv 4:23).

O coração é o nosso centro de defesa da vida. Aquele ou aquilo que conseguir dominá-lo - tornar-se seu ídolo - terá controle sobre sua vida, para o bem ou para o mal. Pedro estimula a resistência: “... o Diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar. Resistam-lhe...” (1 Pedro‬ ‭5:8-9‬).

A cada um, então, compete decidir que postura adotará diante de tantas possibilidades de ídolos que se apresentam em nosso cotidiano. O ensino final desta carta joanina é que devemos nos proteger deles. Não faz sentido que alguém que conhece a soberania libertadora de Deus em Jesus, se deixe escravizar. "Guardem-se dos ídolos".

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Razäo de ser de Jesus - I João 5:20

“Sabemos também que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento, para que conheçamos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos naquele que é o Verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.” (1 João‬ ‭5:20‬)

O evento Jesus no mundo teve por finalidade dar entendimento à humanidade a respeito de Deus e possibitar que esse Deus fosse conhecido naquilo que seria necessário à ela conhecer para experimentar uma vida de qualidade eterna.

Em Jesus, Deus é descrito como amoroso, por isso é verdadeiro e digno de aceitação e obediência. Ao aceitarmos Jesus em nossa vida, estamos aceitando um Deus de amor e o amor de Deus, pois Jesus é não apenas resultado do amor de Deus por nós, mas também, ele mesmo, a encarnação do amor de Deus, o paradigma, portanto, para nossa conduta neste mundo.

Sendo Jesus a manifestaçåo visível de Deus e a expressåo exata da qualidade de vida eterna necessária à humanidade, nada nem ninguém deve ocupar o centro de nossa existência. Ele deve ser soberano em nossas vidas e “tudo o que fizerem, seja em palavra seja em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai.” (Colossenses‬ ‭3:17‬).

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Agentes de Deus no império do mal

“Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno.” (1 João‬ ‭5:19‬)

Império do mal pode ser uma expressão forte, mas que o mal impera, não há como negar. O grau de corrupção sistêmica, os índices de violência, a péssima distribuição de renda, as condições subumanas em que sobrevive parcela significativa da população, a ética do medo reinante, são alguns exemplos que indicam o "poder do maligno" no mundo.

Por detrás de cada exemplo citado e de tantos outros, de tantas áreas da vida que poderíamos mencionar, pode-se identificar a ausência de atitudes e valores espirituais do reino de Deus, tais como amor, justiça, solidariedade, honestidade, transparência, misericórdia, bondade, verdade, enfim. A ausência desses, repito, atitudes e valores espirituais, mais do que incompetência técnica, dá sustentação político-estrutural às condições maléficas vigentes.

Quem se declara pertencente a Deus - não confundir com pertencente a uma igreja ou religião - precisa ter clareza e consciência do que o torna diferente e que diferença essa diferença faz ou poderia fazer em seus relacionamentos interpessoais, ecológicos, socias, enfim, para minimizar os efeitos do "poder do maligno" no mundo.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

A propósito da morte de Billy Graham

Estava aqui pensando, a propósito da morte de Billy Graham, nessa quarta-feira, 21/2/2018. Talvez tenha sido o top dos assuntos nas redes sociais, especialmente entre os batistas.

Considero justo. Cresci ouvindo falar dele e li alguns - 4 ou 5 - de seus livros na adolescência. Viajei por uma rodovia que leva seu nome, não tenho certeza se na Carolina do Sul, do Norte ou no Tennessee. Com Jonh Sttot como arquiteto-chefe, liderou o evento que produziu o Pacto de Lausanne, fruto do encontro de 2400 líderes de 150 paises do planeta, que norteou toda uma geração de pastores espalhados pelo mundo, a partir de 1974. Era respeitado.

O curioso é que, por ser um homem de diálogo, conquanto ortodoxo (e esse conquanto é essencial, pois há um tipo de "ortodoxo" que não dialoga nem com seus próprios pensamentos divergentes, pois trata di-vergência como sentimento diabólico), repito, por ser um homem de diálogo, encontrava-se com líderes das mais variadas matizes político-religiosa-ideológicas. Logo, mantinha uma eixo de posições rotuladas de conservadoras, mas assimilava algumas veementemente rejeitadas por conservadores radicais, leia-se fundamentalistas.

Assim sendo, e este é o ponto que estava pensando quando iniciei este registro, se fizermos um levantamento de todas as frases grafadas por ele, que circularam ontem pelas redes sociais, veremos que há idéias pra gostos e correntes de pensamento bastantes variados e cada um usou aquela que afirmava melhor sua própria cosmovisão.

É o que, na Idade Média, denominava-se "argumento de autoridade". Ou seja, o peso, o valor do argumento, dependia de quem o havia proferido. Se Billy Graham falou, merece, no mínimo, respeito. Billy Graham merece, sim, todo o nosso respeito.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Protegendo-se do pecado - I João 5:18

“Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não está no pecado; aquele que nasceu de Deus o protege, e o Maligno não o atinge.” (1 João‬ ‭5:18‬)

Há quem ensine que "não está no pecado" significa que um discípulo de Jesus não seja passível de pecar. Esse pensamento é utilizado por marqueteiros da fé, responsáveis pela manutenção de imagem "positiva" da instituição religiosa, ou por pregadores que sobrevivem de "alimentar culpa" para "vender graça". Eles transformam igrejas em comunidades de hipócritas ou, pior, de neuróticos.

Há um aspecto técnico da tradução desse versículo que deve ser pesquisado pelos interessados. A frase "aquele que nasceu de Deus o protege" que, a meu ver, induz ao pensamento de que alguém de fora - no caso Jesus - protegeria o discípulo do pecado, também pode ser traduzida como "aquele que nasceu de Deus a si mesmo se protege".

Essa segunda opção parece-me teológica e factualmente mais razoável, uma vez que traz para o indivíduo a responsabilidade de proteger-se do pecado, ié, daquilo que é nocivo a si, ao semelhante e ao meio ambiente onde a vida se desenvolve. Sua experiência com Jesus, conhecimento de sua vida e ensinos e confiança na graça divina geram renovação de mentalidade e de motivação para não se deixar vencer pelo "maligno", bem no espírito do ensino de Tiago: "sujeitai-vos, pois, Deus, resisti ao diabo e ele fugirá de vós".

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Injustiça é pecado - I João 5:17

“Toda injustiça é pecado, mas há pecado que não leva à morte.” 
(1 João‬ ‭5:17‬)

Sim, injustiça é pecado. Ela mata sonhos, esperanças, liberdade,  segurança, saúde, etc. Talvez ela seja a principal evidência de que o mundo jaza no maligno e uma das mais fortes pilastras de sustentação à expressão "o salário do pecado é a morte".

Parece-me óbvio que devemos nos empenhar para reverter um quadro de injustiça naquilo que salta aos olhos e esteja ao nosso alcance modificar, seja nos círculos de relacionamentos dos quais participamos, seja nas estruturas de qualquer natureza que servem de sustentação a agrupamentos ou empreendimentos humanos.

O que não se justifica é nos tornarmos amargos em função do conceito "injustiça" ou usá-lo como argumento para nossos fracassos e infelicidades. Parafraseando Wayne W. Dyer, em "Seus pontos fracos", podemos nos esforçar para eliminar injustiças sem nos deixarmos derrotar psicologicamente pela existência delas.

Violência no Brasil, intervenção só no Rio?

Há muito tempo aprendi a prestar mais atençāo a dados do que a discursos, mais atençāo a dados do que a imagens que valem por mil palavras discursivas.

Pensei nisso agora, ouvindo sobre a intervenção federal na segurança do Rio.

De tudo que encontrei disponível, não há dados que comprovem que o Rio seja uma ilha de violência no oceano pacífico chamado Brasil. 

Lembro-me de que em junho passado, participando de reunião de uma comissão de pastores no Rio, um pastor carioca da gema ficou admirado quando lhe disse que deixaria Campinas para fixar residência no Recife. O Recife está muito violento, disse-me o morador do Rio. 

Por que, então, intervenção na segurança do Rio e não na do Recife? Só por que a Globo selecionou algumas imagens, editou um discurso e repetiu em todos os seus horários nobres, revigorando ainda mais a qualidade podre do partido que governa o Rio? Por que o Rio tornou-se o pior cartão postal do partido do "tem que mudar o governo para estacar essa sangria" ou do "tem que manter isso aí, viu"?

Pense bem para que, em outubro, possamos dar uma resposta vigorosa nas urnas.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Acadêmicos curiosos versus intercessores solidários - I João 5:16

“Se alguém vir seu irmão cometer pecado que não leva à morte, ore, e Deus dará vida ao que pecou. Refiro-me àqueles cujo pecado não leva à morte. Há pecado que leva à morte; não estou dizendo que se deva orar por este.” (1 João‬ ‭5:16‬)

Podemos falar com Deus diretamente, confiantes de que ele nos ouvirá e cientes de que nos atenderá segundo sua vontade. Intermediários individuais ou institucionais foram banidos na cruz de Cristo, quando, simbolicamente, foi rasgado o véu do templo que definia limites de acesso às pessoas comuns àquele espaço sagrado e exclusivo do templo, à presença de Deus.

Em Jesus, não apenas conquistamos a liberdade de ir diretamente a Deus em favor de nós mesmos, mas também nos tornamos sacerdotes em favor dos semelhantes. Assim, posso falar diretamente com Deus em favor de mim e também daqueles que estão em necessidade.

O ensino de João nos desperta a querer saber que pecado seria esse pelo qual não adiantaria orar. Nada contra essa curiosidade acadêmica. Porém, no ato de orar, a solidariedade tira de foco essa ocupação e coloca todo pecador, indiscriminadamente, no rol de nossas intercessões. Todos somos pecadores, todos podemos e devemos interceder uns pelos outros na luta em favor da vida.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Paradigmas sobre oração - I João 5:15

“E, se sabemos que ele nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que temos o que dele pedimos.” (1 João‬ ‭5:15‬)

Saber que Deus nos ouve é, primeiramente, um ato de fé. Fé que é fortalecida através das interpretações que damos a textos das Escrituras e no conhecimento das experiências nelas narradas ou fé construída a partir de experiências extraordinárias que acumulamos em nossa história que indicam, com razoável grau de acerto, a relação entre uma oração feita e um fato ocorrido que com ela se casa.

Dessa forma elabora-se a fé e consolida-se o paradigma: "ele nos ouve em tudo o que pedimos". É um paradigma essencial à esperança, pois sem essa instância superior para recorrermos em nossas angústias, oriundas das múltiplas experiências neste planeta, viver aqui poderia ser em si um inferno.

Quanto ao paradigma "temos o que dele pedimos", merece reflexão à luz de nossas reais experiências e de tantos outros textos das Escrituras, com destaque para o próprio Jesus que não só admitiu que poderia não ter o que pedia, mas apontou-nos outro paradigma de oração: “Meu Pai, se não for possível afastar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade”. (Mateus‬ ‭26:42‬).

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Oração e vontade de Deus - I João 5:14

“Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos alguma coisa de acordo com a vontade de Deus, ele nos ouvirá.” (1 João‬ ‭5:14‬)

Paulo foi explícito, em seu sermão no Areópago, ao dizer que Deus "“não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas.” (Atos‬ ‭17:25‬). Deus é soberano. Ele não se orienta por magia ou outro tipo de manipulação, inclusive religiosas. Ele faz sua vontade  que, segundo o próprio Paulo, "é boa, agradável e perfeita". (Rom. 12:2)

Quando sua resposta aos nossos pedidos é demorada ou é simplesmente um incompreensível não, ainda assim o ensino de Jesus é que continuemos nossas buscas, insistindo perseverantemente em oração, porque, como ele mesmo disse,  “se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir!”” (Lucas‬ ‭11:13‬). E seu Espírito nos consola e ilumina.

Passado o tempo, sob novas circunstâncias, geralmente compreendemos melhor que, conquanto as coisas não tenham transcorrido como desejávamos, superamos os desafios e continuamos a jornada. O que não me parece razoável é crer que uma "invisível sonda", criada por "invisíveis seres humanos", se comunique a trilhões de quilómetros de distância com a NASA e não crer que o criador do universo que sonda, esquadrinha, perscruta, "escaneia" nossos corações, não possa nos ouvir.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Vida eterna: coerência e segurança - I João 5:13

“Escrevi estas coisas a vocês que creem no nome do Filho de Deus, para que saibam que têm a vida eterna.” (1 João‬ ‭5:13‬)

Os textos de João foram escritos tendo em mente pessoas que já haviam crido em Jesus de Nazaré, o Cristo de Deus. Eles são uma lembrança de que elas eram portadoras de vida eterna. Essa lembrança poderia ajudá-las de duas maneiras, pelo menos:

Primeiro, na necessidade de coerência no modo de viver. Uma vez que havia uma clara distinção entre um tipo de vida vivido na comunhão com Deus e outro fora dessa comunhão, aqueles que creem deveriam viver coerentemente com a qualidade de vida eterna alcançada pela fé em Jesus.

Depois, ajudaria na reafirmação da segurança de que, em Cristo Jesus, estavam em paz com Deus e poderiam desfrutar de tudo que decorre dessa comunhão direta (sem necessidade de intermediários) com o criador, especialmente de poder dirigir-se livremente a Ele, com Ele conversar e a Ele levar suas necessidades, bem como as de terceiros.



quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Jesus é a vida - I João 5:12

“Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida.” (1 João‬ ‭5:12‬)

Nesses mais de 2000 anos ou antes deles, nenhum outro nome impactou tanto a humanidade como a pessoa de Jesus de Nazaré. Hipóteses das mais diversas tentam justificar tanto poder de influência de alguém nascido numa região desprezada, sem tecnologias de informação, de transportes ou de material bélico como os de hoje. 

A resposta dos que com ele conviveram é simples: era o filho unigênito de Deus, a palavra e o sentido da existência encarnados.  Nele a vida eterna se materializou e quem nele confia torna-se participante dessa qualidade de vida que se manifesta desde o presente e se projeta para o futuro.

Não por acaso cantamos: "Depois que Cristo me salvou, em céu o mundo se tornou; até no meio do sofrer, é céu a Cristo conhecer. Oh Aleluia sim é céu, fruir perdão que concedeu; em terra ou mar seja onde for, é céu andar com o Senhor! Prá mim mui longe, estava o céu, mas quando Cristo me valeu; feliz senti meu coração, entrar no céu da retidão! Bem pouco importa eu ir morar, em alto monte, à beira mar; em casa ou gruta boa ou ruim, com Cristo aí é céu pra mim!" (Hino 490 do Cantor Cristão)