quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Sonhos de Deus

Sonhamos sonhos que estão no coração de Deus. Estão explícitos em sua Palavra. São facilmente identificados nos exemplos e palavras do unigênito filho seu.

Sonhamos sonhos que fazem parte não somente de um desejo abstrato, mas que podem ser transformados em "planos de paz, e não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança". (Jer. 29:11)

Sonhamos sonhos que incluem crianças, pois delas é o reino dos céus; que incluem idosos e jovens, pois, pelo agir do Espírito, eles podem ter sonhos e visões; que incluem quem tem fome, quem tem sede, quem é imigrante, quem não tem vestimenta, quem está enfermo ou aprisionado e tantos mais que não foram citados, mas, como todos, por Deus são amados, por isso aqueles que os abençoa serão por Deus abençoados, aqueles que os tratam com honra, por Deus também serão horados. (Mt 19:14; Joel 2:28; At 2:17; Mt 25)

Sonhamos sonhos que incluem ricos que se deram conta de sua pobreza, que se aperceberam de sua pequenez, que subiram a árvore da humildade, que desceram de sua altivez, que abriram as portas de suas casas e escancararam o coração, que admitiram seus pecados e redefiniram sua suprema devoção, que reconheceram de quem haviam roubado e enxergaram empobrecidos como irmãos, que com isso mostraram que em sua casa, já entrou a salvação. (Lc 19; Gal. 2:10)

Sonhamos sonhos que não são sonhos de uma pessoa, de um partido político, de uma ideologia de esquerda ou de direita, de uma igreja, de uma denominação. São sonhos de Deus que burbulham em nosso coração. Se são sonhos de Deus, também serão sonhos meus.

Vez por outra uma igreja, um partido, uma pessoa, se torna capaz de catalisar esses e outros sonhos de Deus. Muito comumente, por descuido, maldade ou limitação se perde pelo caminho da insensibilidade, do descaso, até da corrupção. Eles ficarão no passado, no esquecimento cairão. Mas os sonhos continuarão vivos, pois não são de uma pessoa, de uma igreja, de um partido, de uma ideologia apenas política ou de qualquer instituição. São sonhos de Deus e, por isso, sempre nossos serão. Nada nem ninguém pode descartá-los, aprisioná-los, muito menos matá-los, ainda que a golpes consiga adiá-los. São sonhos de Deus, Ele sempre irá ressuscitá-los, reinclui-los, libertá-los, revigorá-los.

Se são sonhos de Deus, repito, também serão sonhos meus.




segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Testemunho de vida - I João 5:11

“E este é o testemunho: Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho.” (1 João‬ ‭5:11‬)

Quando o assunto é testemunho, não podemos mais cometer o equívoco de tratá-lo pelo avesso. Pode ser neurotizante definir um cristão pelo que não pode fazer ou pelo que não é. Paull Tillich foi muito feliz ao declarar que "o neurótico é aquele que, tentando evitar o não-ser, evita o ser".

Não se pode testemunhar que Deus nos deu vida, negando a vida. Considero absurdo teológico, verdadeiro crime contra o ser humano, a pregação que afirma vida eterna como vida depois da morte do corpo, em detrimento, em prejuizo, da vida presente, neste corpo.

Não há contradição. Vida eterna é vida em comunhão com Deus. Seus reflexos são neste tempo e no futuro. Jesus Cristo é o caminho da reconciliação com Deus, o paradigma da caminhada neste mundo. Ele é a luz da vida, não a vela da morte. Esse é o testemunho de Deus, testemunho de vida, vida em Jesus.

domingo, 28 de janeiro de 2018

Testemunho divino - I João 5:10

“Quem crê no Filho de Deus tem em si mesmo esse testemunho. Quem não crê em Deus o faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá acerca de seu Filho.” (1 João‬ ‭5:10‬)

O testemunho de Deus acontece no coração daquele que crê em Jesus. Ele se dá através da ação do seu espírito que habíta dentro de nós. A presença e o sentimento da graça divina são experimentados de maneira tão fortes que testemunhos externos são desnecessários.

O testemunho do Espírito de Deus nos convence "do pecado, da justiça e do juizo". Ele, portanto, não é uma peça publicitária a serviço de uma instituição religiosa, nem um discurso elaborado para esconder nossos desvios, mas uma expressão "sem cera" daquilo que proporciona: fé iluminadora em Jesus de Nazaré.

Quando o testemunho divino é aceito por nós, testificamos com isso o quão verdadeiro Deus é. Negá-lo, porém, fazendo Deus mentiroso a respeito de Jesus, não o prejudica, afinal, ele é o que é independente do que dele pensamos ou como a ele reagimos. Prejudicados somos nós mesmos, pois negar fé em Jesus é o mesmo que dizer não ao amor, à vida, à verdade em sua versão mais completa.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Testemunho de maior valor - I João 5:9

“Nós aceitamos o testemunho dos homens, mas o testemunho de Deus tem maior valor, pois é o testemunho de Deus, que ele dá acerca de seu Filho.” (1 João‬ ‭5:9‬)

O testemunho de pessoas é importante, mas sempre deve ser visto como um relato de experiência própria. Por ser pessoal, ela fala mais de si e do que experimentou, do que de quem causou a experiência. Exemplo: o cego de Cafarnaum,  quando perguntado sobre Jesus, respondeu: "não sei se ele é pecador ou não. Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo!”” (João‬ ‭9:25‬).

Ouvimos testemunhos e não nos cabe negar a experiência testemunhada. Nada, porém, nos impede de avaliar a causa da experiência, seja para dar os devidos créditos a quem os merece, seja para evitar distorções frustrantes a quem passaria a esperar de determinado causador aquilo que dele poderia não receber.

No caso de Deus, entretanto, o testemunho sobre Jesus - "este é o meu filho amado em quem tenho prazer", por exemplo - não provém de alguém impactado emocionalmente por uma experiência ou limitado em sua percepeção da realidade ou um beneficiário  em determinada situação, mas daquele que é soberano, agindo amorosamente em favor da humanidade. Esse teria, segundo João, maior valor.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Testemunho unânime - I João 5:8

“o Espírito, a água e o sangue; e os três são unânimes.” (1 João‬ ‭5:8‬)

Há um entendimento predominante de que João estaria usando  palavras cujo sentido seria de fácil compreensão aos leitores imediatos, mas que, em nosso tempo, por não dispormos de informações suficientes a respeito, torna-se arriscado querer afirmar com exatidão o sentido delas.

Entretanto, podemos dizer que aceitamos o testemunho a respeito de Jesus, como o cristo de Deus, pela ação do Espírito Santo em nossos corações. Trata-se, portanto, de experiência subjetiva, que   toca nossa emoção de maneira singular, seja através de sentimentos ou pensamentos, gerando uma convicção interior que muda positivamente o eixo norteador de nossas vidas.

Também não é estranha a compreensão de que esse testemunho da fé em Jesus como cristo divino seja dado pela igreja através das ordenanças do batismo e da ceia. Neles, a ação de Jesus em favor da humanidade é relembrada, reafirmada e proclamada.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Fé através do testemunho - I João 5:7

“Há três que dão testemunho: ..." (1 João‬ ‭5:7)

Cremos em Jesus como o Cristo pela fé. Ainda que fatos objetivos e experiências subjetivas possam fortalecer - e fortalecem - a fé, é pelo testemunho que temos acesso ao conhecimento da pessoa de Jesus, o Cristo divino.

Em seu evangelho, João declara: “Jesus realizou na presença dos seus discípulos muitos outros sinais milagrosos, que não estão registrados neste livro. Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome.” (João‬ ‭20:30-31‬). Nesse caso, os sinais testemunham; o registro, os tornam acessíveis aos leitores.

O testemunho é imprescindível à fé. Algo, repito, objetivo ou subjetivo, toca o ser humano e o leva a posicionar-se por crer ou não em Jesus, o Cristo divino. A fé, porém, é o sentimento que o domina quando aceita o testemunho. E, no final de sua carta, no verso que segue, João destaca 3 testemunhos visando fortalecer a fé no Cristo, Jesus de Nazaré.

sábado, 20 de janeiro de 2018

Entre o Jordão e o Calvário - I João 5:6

“Este é aquele que veio por meio de água e sangue, Jesus Cristo: não somente por água, mas por água e sangue. E o Espírito é quem dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.” (1 João‬ ‭5:6‬).

Partindo da hipótese mais comum, que seria a que relaciona àgua e sangue - expressões reconhecidas como obscuras por parte significativa de estudiosos - ao batismo e crucificação de  Jesus, isso nos remete as duas experiências que apontam dois momentos opostos da vida de Jesus e de nossa vida.

No batismo, Jesus é declarado como "este é meu filho amado, no qual me comprazo". Na cruz, seu sangue sendo derramado no madeiro em meio a dores, ele declara: " meu Deus, meu Deus, porque me desamparaste?". No primeiro, o sentimento de acolhimento; no segundo, rejeição.

Todo discípulo de Jesus precisa ter consciência de que, se no batismo o momento é festivo, de recepção e abraços, na caminhada, a vida comprometida com os ensinos e exemplos de Jesus inclui sofrimento e, muita vez, rejeição. Não os sofrimentos inerentes à vida de todo ser humano neste planeta, mas os decorrentes do compromisso com princípios e valores espirituais que contrariam interesses incompatíveis com os que caracterizam o Reino de Deus.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Perfis inadequados, experiências vitoriosas


Estive falando recentemente em um retiro estadual de pastores sobre assuntos relacionados a chamado, missão, vocação, necessidades, enfim, e, nesse meio, a questão do perfil foi ventilada.

Depois disso, pus-me a pensar e lembrei-me de conversas que tive com casais que se conheceram através de sites de namoro na internet. Uns se deram bem e estão casados até hoje; outros, nem tanto.

Uma dessas pessoas – cujo casamento não deu certo - me dizia que o processo, via site, incluía responder determinadas questões sobre si. O sistema “entenderia” qual seria seu perfil, cruzaria as informações com as de outras pessoas que também estavam em busca de alguém e encontraria a pessoa adequada ao seu perfil. Encontraram-se, casaram-se, mas não foram bem sucedidas.

Perfis e construção de acordos

Como ponto de partida, nada contra. Porém, relacionamento humano não é fórmula matemática. Pelo contrário, um mais um precisa ser igual a um ainda que tudo que caracterize cada um seja de dois.  E, para dois conviverem juntos, o acordo é essencial, como bem indagou o profeta Amós: “andarão dois juntos se não estiverem de acordo?”

Andar juntos, independente do perfil, sempre exige acordo e acordo se constrói cotidianamente a partir da vasta e diversificada realidade e não de fantasias, teorias ou hipóteses.

Os perfis podem ser parecidos, mas a realidade nos impõe a necessidade de lidarmos com situações tão diferentes que precisamos encontrar maneiras de transformar limão em limonada, mediante contínua abertura para o diálogo.

Os perfis podem ser muito diferentes, mas é possível aprender a conviver de maneira saudável, como John Drescher procurou ensinar em seu livro “Os opostos se atraem” (a tradução literal do título, a meu ver mais adequada ao propósito do livro, seria “Quando os opostos se atraem”).

 

A relatividade dos perfis

 

Depois que estudei “A Janela Johari” (criada por Joseph Luft e Harrington Ingham, em 1955), entendi que descrever um perfil é mais desafiador do que se pensa. Isso porque, como eles defendem, há elementos em nossa personalidade que: 1) são conhecidos por nós e desconhecidos por terceiros; 2) são conhecidos por terceiros e desconhecidos por nós; 3) são desconhecidos por nós e por terceiros; 4) são conhecidos por nós e por terceiros.

 

Isso significa que quando defino meu perfil, o faço com base no que conheço de mim. Preciso estar ciente, então, que eu mesmo não conheço tudo que me identifica, que me caracteriza.

 

O mesmo acontece quando alguém vai definir o perfil de terceiros. Ele deve ter ciência de que o faz com base em vivências com o outro, num tempo e espaço específico ou com base em informações da percepção de outros que também ocorreu num determinado contexto e, por isso, não pode ser – a experiência – congelada, muito menos absolutizada.

 

Perfis como trilha, não trilho

 

Assim, conquanto seja importante o esforço da definição do perfil, seja na escolha de um parceiro conjugal, seja na escolha de uma atividade profissional ou ainda na escolha de um profissional para trabalhar conosco, é essencial a consciência de que surpresas agradáveis e desagradáveis são inevitáveis e de que, por isso, identificação de perfil sempre deve ser entendida como trilha, não trilho.

 

Traço essencial a ser identificado no perfil de alguém é a capacidade de lidar com a inexperiência que sempre nos alcançará em algum ponto, bem como manifestações de predisposição para fazer escolhas visando transformar adversidades em situação favorável aos interesses dos que caminham juntos.

 

Perfis, passado e futuro

 

Vale salientar que um perfil é fruto de dados passados que apontam comportamentos passados. Como não somos seres mecânicos, tanto a caminhada produz mudanças, quanto as reações podem não ser iguais a anteriores, dependendo das variáveis presentes.

 

Por isso, na identificação de um perfil deve-se lembrar que quando o traçamos, o fazemos pensando em uma realidade conhecida. Porém, realidades desconhecidas borbulham aos milhares em nosso dia a dia, fazendo florescer reações surpreendentes – positivas ou negativas - em todo ser humano e empreendimentos por ele criados.



Perfis inadequados, experiências vitoriosas

Ressalto, finalmente, ser comum aceitarmos ou rejeitarmos um desafio baseado no perfil que traçamos de nós mesmos ou traçado por alguém, mas, pelas razões expostas, isso não significa necessariamente segurança de sucesso ou fracasso. Há fatores que, a despeito do perfil histórico identificado corretamente ou não, podem produzir resultados diferentes em cada situação. Pensemos nos casos que seguem:

1.    O caso Moisés (Ex. 3 e 4)

Moisés teve um chamado de Deus para uma missão. Porém, em vez de considerar quem o chamava e lhe dava a missão, comparou-se com Faraó, aquele que liderava um projeto contrário ao plano de Deus.

Não bastasse isso, Moisés via-se como alguém que não falava bem. Conquanto Deus se apresentasse a ele como o todo poderoso criador “da fala”, ainda assim ele pediu que Deus enviasse outro. Deus irou-se, mas providenciou um porta-voz. Problema solucionado.

Além das dificuldades que declarou acreditar ter, demonstrou também perfil inadequado para administrar o processo de julgamento dos problemas do povo. Era concentrador e isso era ruim para ele e para o povo. Deus, porém, usou seu sogro Jetro para ensinar-lhe a estratégia de dividir o povo em grupos e escolher “dentre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, dignos de confiança e inimigos de ganho desonesto” (Ex. 18). Problema solucionado.

De um homem que se percebia com um perfil inadequado e demonstrou, por vezes, falta de habilidade, Moisés tornou-se uma referência de liderança que ultrapassou barreiras geográficas e temporais, por ter cumprido com sucesso sua missão.

2.    O caso Gideão (Juizes 6)

Gideão era agricultor e estava focado em produzir e proteger sua produção dos midianitas. Estava insatisfeito, lamentava a situação e sentia-se abandonado por Deus. Foi desafiado a enfrentar o inimigo, mas demonstrou baixa auto-estima. Sua insegurança era tal que, mesmo tendo recebido a promessa da companhia de Deus, pediu sinais que ratificassem que Deus estaria mesmo com ele.

Seguindo a orientação divina, executou uma estratégia que priorizou a qualidade e não a quantidade de guerreiros; organizou um exército com menos de 1% da mão de obra disponível e alcançou sucesso na empreitada.

3.    O caso Amós (Amós 1 e 7)

Era agropecuarista, teve uma visão da realidade sócio-religiosa-ético-espiritual, sentiu-se chamado a denunciá-la, foi visto como conspirador político e desafiado a deixar Israel.
Diante disso, ratificou seu perfil de criador de ovelhas e cultivador de figos, porém, diante do chamado e da visão dados por Deus, enfrentou o desafio e cumpriu sua missão.

4.    O caso Davi (I Samuel 16 e 17)

Saul sentia-se atormentado e seus funcionários recomendaram musicoterapia. Davi atendia ao perfil de músico e como tal foi contratado. Conquistou o rei por outras qualidades que tinha e, de “musicoterapeuta”, passou a ser escudeiro de Saul.

Seu irmão, Eliabe, definiu seu perfil como presunçoso e de coração mau. Saul, por sua vez, ao saber que ele estava interessado em enfrentar Golias, definiu seu perfil como “sem condições de lutar contra este filisteu”, pois era apenas um rapaz.

A percepção, entretanto, que Davi tinha de si, com base em enfrentamento de ursos e leões era diferente. Sentia-se habilitado à missão de derrotar Golias. Saul aceitou o argumento de Davi, mas, ainda assim, quis enquadrá-lo numa armadura. A armadura era adequada aos olhos de Saul, mas inadequada ao perfil de Davi.

A seu modo, Davi enfrentou Golias e venceu.

O que aprendemos desses casos?

a)    Podemos ser bem sucedidos em uma missão apesar do perfil que traçamos de nós mesmos;
b)    Não devemos nos deixar influenciar e, muito menos, abater, pelo perfil que as pessoas traçam para nós;
c)    A falta de perfil adequado – reconhecido por nós ou por terceiros – não significa que sejamos incapazes de cumprir uma missão que Deus nos dá;
d)    Podemos até cometer falhas pontuais no desenvolvimento da missão, mas no conjunto da obra somos vitoriosos quando, apesar do perfil, nos abrimos ao agir de Deus;.
e)    A abertura para o agir de Deus em nossa vida faz total diferença no cumprimento de uma missão.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Fé em Jesus, o caminho da vitória - I João 5:5

“Quem é que vence o mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus.” (1 João‬ ‭5:5‬)

Para João, as expressões "crê em Jesus" e "nascido de Deus" têm o mesmo significado. Sendo Jesus o Cristo de Deus, a encarnação divina, a palavra e o sentido que se materializaram, confiar nele produz um novo nascimento, uma nova visão de vida caracterizada pelo amor a Deus, a si e ao próximo.

Jesus, portanto, não é apresentado como um santo protetor, um anjo da guarda, alguém pelo nome do qual se grita em momentos de desespero, angústia ou necessidade, mas aquele com quem um relacionamento de confiança altera a natureza da nossa cosmovisão de vida.

A vitória sobre o mundo, isto é, sobre as estruturas vigentes na sociedade que exploram, oprimem, deprimem e matam a vida, é relacionada por João a quem confia em Jesus, cujo caráter sofre mudanças por viver uma relação de intimidade e obediência com Deus.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Fé em Deus, fé na vitória - I João 5:4

“O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.” (1 João‬ ‭5:4‬)

Fé é um fenômeno que acontece no vácuo. É um sentimento que persiste onde falta um elemento material, objetivo, de conexão. É, por isso, "o firme fundamento das coisas que não se veem". Se esse elemento surge ela desaparece por absoluta falta de necessidade. Se esse elemento surge o "justo" viverá pelo que vê e não pela fé (Hab 2:4, Rom. 1:17).

Diante dos desafios industriais, filosóficos, políticos e existenciais surgidos a partir do final do século XIX, enquanto parte dos cristãos aderiu ao diálogo com pensadores da época, buscando respostas que fortalecesse a fé cristã, outra parte polarizou o pensamento usando a mesma metodologia científica na tentativa de comprovar suas crenças. Parece-me natural que esse segundo caminho enfraquecesse a fé, pois seus adeptos focaram mais no COMO das narrativas bíblicas do que no PORQUÊ.

A fé, porém, embora não abdique da razão, mantém-se viva a despeito da falta dela. Em vez de ser conflitante com a ciência, cujo espaço de atuação é o  COMO tudo funciona, ela mantém-se no seu espaço do PORQUÊ tudo funciona como funciona. Fé e ciência, portanto não se opõe. Onde o COMO está obscuro a fé alimenta a esperança e o otimismo por sua ênfase no PORQUÊ e sua relação com ele. Nisso reside o diferencial e a força da fé. Ela não alimenta o obscurantismo, antes, ajuda-nos a nos mantermos vivos a despeito dele. Esse é seu papel e importância para que sejamos vitoriosos neste mundo tanta vez inóspito.

sábado, 13 de janeiro de 2018

Amor: obediência leve - I João 5:3

“Porque nisto consiste o amor a Deus: em obedecer aos seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados.” (1 João‬ ‭5:3‬)

Amar não é um discurso vazio ou uma expressão destituída de conteúdo ou uma fala inconsequente. Antes, amar é uma atitude que, por ser consistente, sempre se traduz em algo. Não há como dizer "eu te amo" sem que uma ação - passada, presente ou futura - esteja associada a isso. Tanto quem diz, quanto quem houve, tem em mente uma expectativa de ação concreta decorrente. Exemplo: "DEUS AMOU o mundo de tal maneira QUE DEU  seu filho...". (Jo. 3:16). 

No caso do amor a Deus, uma obediência é a ação que se espera de quem a Ele se declara. Causa e ação não se separam. Não existe amor a Deus sem obediência aos seus mandamentos. Se dizemos amar a Deus, mas nenhuma ação objetiva de obediência acontece, isso não é amor. A obediência a Deus é o conteúdo do amor que dizemos nutrir por ele. 

Essa obediência não provoca dor, mesmo quando cercada de adversidades, de desafios. Sendo resultado de uma experiência amorosa, ela é feita de maneira consciente, rica de significado mais profundo, logo, sem manipulações. Se o amor de Deus não manipula, responder a ele com obediência é prazerozo. Por isso "seus mandamentos não são pesados".

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Amor: fechando o círculo virtuoso

“Assim sabemos que amamos os filhos de Deus: amando a Deus e obedecendo aos seus mandamentos.” (1 João‬ ‭5:2‬)

Se anteriormente João ensina que amamos a Deus reconhecendo Jesus como o ungido, o Cristo, o logos, bem como amando-nos uns aos outros, nesta parte da carta, depois de ter dito que "nós amamos porque Deus nos amou primeiro", ele retorna ao caminho natural: "...amamos os filhos: amando a Deus...". E fecha o círculo virtuoso.

Amar a Deus, inicialmente, seria amar uma abstração, por mera intuição.  Brotaria da perceção da beleza da criação, da maneira extraordinária como a natureza funciona, da grandiosidade do universo, da complexidade da harmonia de todos os sistemas que possibilitam a existência da vida no planeta, da beleza dos pássaros, dos rios, das flores, dos luminares... seus cheiros, suas cores, seus gostos, seus sons, suas sensações, enfim.

Porém, faltaria algo relacional. Assim, ele revela-se na história humana não só como o criador que nos encanta com sua criação, mas também como o Espírito que trabalha em nosso coração, em nossas atitudes, valores e, finalmente, como Jesus de Nazaré que habitou em nosso meio como Salvador, como Luz do mundo, como paradigma de conduta. Nessa triplice manifestação, aprendemos seus mandamentos, todos derivados de um e nele resumidos: Amarás o senhor teu Deus...e a teu próximo como a ti mesmo".

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Decisão

A mente segue estável numa direção;
O coração, como que rebelde, na contramão.
Se por um lado um diz calmamente que sim,
Por outro, o outro, insistentemente, diz: não, não, não!
O coração, alegremente, parece ir para o ataque,
Na defensiva fica a mente com razão,
O coração viaja livre e leve pelo vento,
A mente, caminha firme com pés no chão.
O sonho de um é a liberdade da criação;
O do outro, a segurança da manutenção.
Galhos balançam, caules se envergam em movimento,
Raizes rígidas, se alimentam no escuro, sem sol, nem vento.
Múltiplos sons, graves e agudos, atigem a alma.
Ouvidos se focam, distinguem origens, testam a emoção.
Uma parte entende a mensagem como um suave sim.
Outra insiste, bastante sensível, como um sonoro não.
A alma se cansa, se contorce, reclama e se agita
Ora se desfalece, ora se revigora, ora grita
Ansiosa pede socorro ao eterno infinito
No silêncio responde: "és livre", ampliando o doloroso grito.
Delicioso é experimentar a liberdade.
Sem alternativas seria sentir-se na prisão.
Doloroso é o peso da resposabilidade.
Com oportunidades, difícil é a decisão.


Amor: triângulo amoroso - I João 5:1

“Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus, e todo aquele que ama o Pai ama também o que dele foi gerado.” 
(1 João‬ ‭5:1‬)

João é taxativo: a relação de confiança na pessoa de Jesus altera a condição humana diante de Deus. "Nascido de Deus" é uma outra expressão para "filho de Deus". O sentimento, a idéia, por detrás das expressões, é que a comunhão com Deus se concretiza na fé em Jesus. 

Crer, claro, não se refere a um mero assentimento intelectual, mas a uma relação de confiança, de intimidade, de identificação com a natureza da missão, com a vida e a morte, com o caráter de Jesus de Nazaré. Essa confiança é, portanto, transformadora das atitudes, palavras e ações.

A relação de Deus e Jesus é tão estreita que amor a Deus e amor a Jesus não se separam. Quem ama a Deus, ama a Jesus. Quem ama a Jesus, ama a Deus. Quem ama a Deus e a Jesus, ama o semelhante. Quem ama o semelhante, é nascido de Deus e quem ama a Deus, demonstra isso amando ao próximo, num saudável triângulo amoroso.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Amor: o mandamento da coerência - I João 4:21

“Ele nos deu este mandamento: Quem ama a Deus, ame também seu irmão.” (1 João‬ ‭4:21‬)

Jesus usou o imperativo dezenas de vezes. Eu mesmo fiz uma série de 27 mensagens sob o tema: "Os imperativos de Jesus". (Curiosamente, o imperativo mais usado pelos evangélicos - IDE - não aparece nesse tempo verbal, nos textos gregos de Mt. 28:19). Nenhum imperativo, entretanto, é tão enfatizado quanto este de João que chamo de "mandamento da coerência". 

Os autoproclamados "defensores: da fé" (um tipo de fé), da "ortodoxia" (um tipo de ortodoxia), "da palavra" (alguns textos da Palavra) ou do "conservadorismo" (algumas reservas de interesse e zonas de conforto), sentem-se incomodados quando lhes lembramos a palavra amor. É que, quando se ama, mesmo que se tenha o, em tese, bom senso de defesa da fé e da ortodoxia, do compromisso com a "palavra" ou de conservar algo, isso nunca seria feito belicosamente, "desconservando-se" o amor.

João é tão enfático, repete tantas vezes o assunto amor, está tão afinado nisso com os discursos de Jesus ou Paulo, por exemplo, que a única explicação para alguns pregadores da Bíblia (e não da mensagem do evangelho de Jesus) sentirem dificuldade em defender suas teses, sem manifestação de amor, seria pela falta  do essencial: amor a Deus, pois quem ama a Deus, ama - não detona - também seu irmão.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Amor: a marca da fé verdadeira - I João 4:20

“Se alguém afirmar: “Eu amo a Deus”, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.” (1 João‬ ‭4:20‬)

Deus ama gente. Aversão a gente, portanto, é incompatível com a natureza de Deus. Se é assim com a natureza de Deus, também o é com a natureza daqueles que se dizem discípulos de quem é a expressão  do amor de Deus às gentes - Jesus.

Pior do que isso: a aversão rancorosa, amarga, cheia de sentimentos de vingança, conhecida como ódio, nada tem a ver com aqueles que declaram professar fé em Deus. Dizer-se discípulo de Jesus e manifestar sentimentos de ódio por razões de escolha política, ideológica, bíblico-teológica, enfim, é então, uma incoerência profunda.

João, que não usa de meias palavras, que não adota o eufemismo, vai direito ao ponto. Quem diz amar a Deus e odeia seu irmão, é MENTIROSO. E, em outro de seus textos, diz: “Fora (da cidade celestial) ficam...todos os que amam e praticam a mentira.” (Apocalipse‬ ‭22:15‬). A verdade da fé e a fé verdadeira são, antes de tudo, amorosas. O resto é secundário.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Amor: fonte original - I João 4:19

“Nós amamos porque ele nos amou primeiro.” (1 João‬ ‭4:19‬)

Faço parte da população mundial que acredita que tudo o que existe foi criado e, quanto mais informação recebe confirmando a extensão e complexidade do Universo e compara com a pequenez e fragilidade humana, mais encantada fica com a idéia que consegue supor, da extraordinariedade  que é a FONTE ORIGINÁRIA disso tudo que convencionamos denominar DEUS.

Impressiona-me ainda mais pensar que, a despeito da distância,  tamanho, força e poder incalculáveis, inimagináveis, que nos diferenciam deste criador, aquele que É se interesse por aquilo e aqueles que EXISTEM por obra de suas "mãos" e, mais do que isso, seja capaz de amar de maneira tão grandiosa e ao mesmo tempo tornar-se acessível, como ocorreu ao encarnar-se num simples e empobrecido menino chamado Jesus que cresceu na até então insignificante, desprezível e desconhecida Nazaré.

Dessa fonte de amor jorra o que dá sentido à existência humana e alimenta a esperança que nos impulsiona em direção ao futuro, mesmo que as aparentes probabilidades circunstanciais alimentem expectativas pessimistas que nos pressionam a desistir. A lembrança de que somos capazes de amar porque somos amados primeiro por Deus, anima o nosso viver e energiza-nos para lutar contra forças que se opõem ao cumprimento de nossa missão de vida nesta poeira do universo que chamamos de Terra.