quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O amor como garantia da verdade - I João 3:19

“Assim saberemos que somos da verdade; e tranquilizaremos o nosso coração diante dele” (1 João‬ ‭3:19‬)

Vivemos a era das polarizações. Com o advento das redes sociais e a extraordinária ampliação das possibilidades de expressão de pensamentos e sentimentos,  aquilo que era privilégio de meia dúzia de mortais - veicular opiniões - tornou-se possibilidade real de uma esmagadora maioria. Hoje podemos expressar em tempo real o que pensamos, mesmo que, muita vez, sem pensar, atraindo iguais e retraindo, até com violência, desiguais.

Cada um e seu gueto, sua tribo, com sua indubitável e, portanto, inquestionável verdade, atropela o outro como um rolo compressor. Não há uso inteligente do cérebro, nem humildade mínima para reconhecer a máxima: "cada ponto de vista é a vista de um ponto" e, assim, admitir, ainda que por segundos, a possibilidade do seu "ponto de vista" impossibilitar que a pretensa verdade seja tão verdadeira como parece.

Podemos, porém, mudar totalmente esse quadro, levando a sério o ensino joanino: amar é a única atitude que nos garante pertecermos a verdade. Cultivando esse paradigma, a profunda convicção de estarmos com a verdade se manifestaria amorosamente com a mesma força, garantindo corações e relacionamento melhores com Deus e com os que nos cercam.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Amor em ação e verdade - I João 3:18

“Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade.” (1 João‬ ‭3:18‬)

Dizer que amamos nos faz bem. Ouvir alguém dizer que nos ama, também. As palavras têm um forte efeito em nossas vidas e são capazes de mudar nosso rumo. Falar, porém, como diz o ditado, é fácil; fazer é que são elas. Falar é fácil, difícil é colocar o guizo no pescoço do gato.

Amar é uma atitude. Amar é uma decisão. Amar é uma escolha. Amar é uma ação. Amar é um sentimento que nos impulsiona a agir em favor de alguém que necessita de nós. Pode ser alguém de quem não gostamos. Pode até ser um inimigo. Mas se está necessitado e podemos ajudar, somos desafiados a amar agindo, ajudando, como manifestação de amor.

Amar em verdade, ou seja, a nossa ação em favor de alguém deve ser retrato, realização, daquilo que dizemos ser o sentimento que domina nosso coração. Coerência. Apenas dizer que sentimos amor, sem transformar isso em ações concretas, objetivas, em favor da pessoa que dizemos amar, não seria amor verdadeiro e esse tipo de atitude deve ser descartado de nossas vidas.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Incompassiva disputa - 1 João 3:17

“Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus?” (1 João‬ ‭3:17‬)

Há relação entre amor de Deus, irmão necessitado, recursos materiais e compaixão?  A resposta está obvia nas palavras de João, que coloca dúvida na presença do amor de Deus no coração de quem se fecha, incompassivo, diante da necessidade do irmão.

Alguns disputarão: "...isto vos mandamos, que, se alguém não quer trabalhar, não coma." (2 Tess. 3:10). Outro gritará: "os pobre, sempre os tendes convosco" (Mc 14:7). Outro se contraporá: "Aquele que roubava, não roube mais. Antes trabalhe, fazendo com as suas próprias mãos alguma coisa de bom, para que assim tenha com que ajudar aos pobres." (Ef. 4:28). Ou ainda: “Somente pediram que nos lembrássemos dos pobres, o que me esforcei por fazer.” (Gálatas‬ ‭2:10‬). Nessa disputa, o necessitado padecerá por falta de compaixão.

Quando, porém, o amor de Deus se faz presente no coração, o jogo imaturo, egoísta, politizado, de textos bíblicos, como fundamentação, se desfaz. Se estou a caminho e vejo alguém espancado e saqueado, não pergunto se devo ou não ajudá-lo. Simplesmente, movido pela compaixão que a presença do amor de Deus produz, amo, penso e ajo. Simples assim.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Ser amado e amar - I João 3:16

“Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos.” (1 João‬ ‭3:16‬)

Não sei se Robert Estienne, erudito francês que dividiu em versículos os capítulos do Novo Testamento, em meados do século XVI, tinha consciência da relação temática entre João 3:16 e I João 3:16. É que a relação é muitíssimo interessante porque os dois textos se complementam quanto às dimensões vertical e horizontal do amor manifesto em Cristo Jesus.

Interessante também é nosso comportamento diante dos dois textos. O primeiro - "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que nele crer nâo pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo. 3:16) - sabemos de cor (to know by heart) . Já o segundo - I João 3:16 - raramente encontramos alguém que o recite.

No primeiro, somos beneficiados pelo amor de Deus que deu seu filho em nosso favor. O segundo, entretanto, nos desafia a dar nossa vida "por nossos irmãos". Memorizar um texto que fala do amor de Deus por nós parece motivar-nos mais do que um que nos desafia a amar de maneira prática. Porém, o desafio está posto.



quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Ódio versus Vida Eterna - I João 3:15

“Quem odeia seu irmão é assassino, e vocês sabem que nenhum assassino tem a vida eterna em si mesmo.” (1 João‬ ‭3:15‬)

Já sabemos que, em João, vida eterna não tem significado escatológico. Não significa primeiramente, portanto, uma experiência futura, em outro lugar. Antes, é uma experiência presente, que ocorre na psique e se irradia, contagiando todas as demais dimensões da existência humana.

O ódio é o acúmulo de um sentimento negativo, consciente ou inconscientemente, contra alguém, motivado por ofensa sofrida, que não foi saudavelmente canalizado, por medo, impotência, conveniência política, enfim. Por ser uma energia negativa guardada na alma, ele corrói a existência, causando enfermidade e dor a quem o alimenta e aos que estão ao redor.

O ódio, portanto, assassina a vida de quem por ele é possuido e é gatilho contra a vida de quem dele é alvo. É incompatível com a vida de quem declara-se discípulo de Jesus. Saber disso deve nos estimular a lidar melhor com nossos medos e ofensas, a fim de não negarmos a vida eterna recebida em Cristo Jesus, tornando-nos assassinos.




segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Graça para amar - I João 3:14

“Sabemos que já passamos da morte para a vida porque amamos nossos irmãos. Quem não ama permanece na morte.” (1 João‬ ‭3:14‬)

Quando eu era adolescente, li um livro do evangelista Billy Graham no qual ele ilustrava que seu cachorro não fumava, não bebia bebidas alcoólicas, não ia ao cinema, não dançava, enfim, nem por isso poderia ser identificado como uma nova criatura em Cristo.

João nos aponta vários traços que caracterizam a personalidade de uma pessoa que teve um encontro com Jesus. Exemplos: não anda em trevas, isto é, fora da comunhão, (1:6); se assume como pecador (1:10); obedece os mandamentos de Jesus (2:3); anda como Jesus andou (2:6); não odeia seu irmão (2:9); pratica a justiça (2:29); não permanece no pecado (3:6); não pratica o pecado (3:9) e ama os irmãos (3:14). A partir deste ponto (3:14), outros traços continuarão a aparecer, mas o amor passa a ser o principal foco da carta.

É importante termos clareza desses traços espirituais de personalidade dos seguidores de Jesus e nos empenharmos para que se tornem evidentes em nossas vidas. Porém, importante também é nos lembrarmos de nossas limitações humanas e do indispensável reconhecimento da nossa dependência da graça divina, sem a qual nada seremos capazes de produzir.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Odiados sim; odiosos, jamais! - I João 3:13

“Meus irmãos, não se admirem se o mundo os odeia.”
 (1 João‬ ‭3:13‬)

A possibilidade de sermos odiados em função da fé que professamos é real. Jesus alertou-nos: “Todos odiarão vocês por causa do meu nome.” (Lc. 21:17‬). Paulo declarou: “De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.” (2 Tim. 3:12‬). 

Há, porém, um detalhe que faz diferença: uma coisa é ser odiado, outra, odioso. Pode-se ser odiado por pessoas más, quem se empenha em viver corretamente. José do Egito, por exemplo (Gen. 39). Odioso, entretanto, é aquele cuja própria natureza é má.

Pressupõe-se que a natureza de um discípulo de Jesus seja amorosa e não odiosa. Se é amorosa, cai na graça do povo (Atos 2:42-47). Cabe, então, as palavras de Lloyd-Jones, citadas por John Stott: "A glória do evangelho é que, quando a igreja é absolutamente diferente do mundo, ela invariavelmente o atrai. É então que o mundo se sente inclinado a ouvir sua mensagem, embora talvez no princípio a odeie".

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Cada um por si, mal para todos - I João 3:12

“Não sejamos como Caim, que pertencia ao Maligno e matou seu irmão. E por que o matou? Porque suas obras eram más e as de seu irmão eram justas.” (1 João‬ ‭3:12‬)

Na narrativa bíblica da criação, Caim é irmão de Abel, ambos filhos de Eva e Adão. Trabalhavam na agropecuária e ofertavam a Deus parte do produto do trabalho. Certa vez, Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a de Caim. Caim enfureceu-se. Deus, então, esclareceu que a rejeição não era ao produto, mas à sua má conduta. Conduta corrigida, oferta aceita, problema resolvido.

Caim, entretanto, transformou o irmão em Bode Expiatório. Em vez de corrigir a própria conduta, optou por matá-lo. Matou-o sem justificativa objetiva. Inveja? Rancor? Pura maldade? Para João, embora ambos tivessem a mesma origem biológica, a ação de Caim decorreu de sua escolha de vida: pertencer ao Maligno.

Cada um escolhe o rumo de sua vida.  Porém, uma má escolha não prejudica apenas a quem a escolhe. Pode significar a morte também de quem faz escolhas certas.  O bem e o mal que escolhemos, pode ser o bem e o mal de quem não escolheu. Quando cada um vive para si, o mal pode sobrevir a todos. Portanto, não  dá pra não se interessar pelas escolhas do outro. Harmonizar direitos individuais e interesses coletivos sempre será um desafio, mas enfrentá-lo é necessário. Ser indiferente, jamais.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Mensagem Original - I João 3:11

“Esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que nos amemos uns aos outros.” (1 João‬ ‭3:11‬)

Não há discurso mais antigo da fé cristã precisando ser conservado ou, talvez, restaurado, priorizado e enfatizado do que esse. Ele nos remete à mensagem original de Jesus, nosso Senhor e Salvador. Não há, entretanto, discurso mais esquecido em nossos diálogos, pregações e práticas. 

Somos diferentes. Sentimos diferente. Pensamos diferente. Reagimos diferente. Nossa cultura familiar e social são diferentes. Nossas circunstâncias são diferentes. Nossa percepção da realidade é diferente. Nossas histórias são diferentes. Conflitos, portanto, são inevitáveis.

Podemos, entretanto, trabalhar para que nossas diferenças gerem beleza e não doença, gerem tensões criativas e não doentias e consigamos nos manter em níveis agradáveis de convivência. Isso somente é possível se, acima de tudo, estivermos comprometidos com esta mensagem original de Jesus: "que nos amemos uns aos outros".

domingo, 12 de novembro de 2017

Filhos de Deus ou do Diabo? - I João 3:10

“Desta forma sabemos quem são os filhos de Deus e quem são os filhos do Diabo: quem não pratica a justiça não procede de Deus, tampouco quem não ama seu irmão.” (1 João‬ ‭3:10‬)

Quer identificar quem é filho de Deus e quem é do Diabo? João responde que a resposta as seguintes perguntas indicam como saber: pratica a Justiça? Ama seu irmão?

Filiação espiritual segundo João, repito, não é uma mera consequência de nossa condição de criaturas. Esse fato não nos coloca na condição de filhos de Deus, pois isso se dá por afinidade de natureza espiritual, identificada através dos frutos que a vida de cada um apresenta.

E tudo o que sei sobre doutrinas bíblicas? E o fato de pertencer a uma denominação religiosa com marca respeitada, com poder político e econômico? E o fato de ser fiel aos costumes - moral - tradicionais da cultura onde me desenvolvi? E o fato de ser assíduo aos serviços religiosos de minha igreja? E a minha fidelidade na entrega regular de dízimos e ofertas? João responderia: se não forem decorrentes de uma vida amorosa e justa, sua paternidade não será divina.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Nascido de Deus - I João 3:9

“Todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado, porque a semente de Deus permanece nele; ele não pode estar no pecado, porque é nascido de Deus.” (1 João‬ ‭3:9‬)

Vivi um tempo em que ir ao cinema, cantar MPB ou mulher usar calça comprida, maquiagem ou bijuterias eram tidos como pecado por grande parte dos evangélicos.  Esses são apenas alguns dos muitos possíveis exemplos de como costumes, tradições, vistos como pecado, deixaram de fazer parte da lista dos comportamentos proibidos por igrejas.

Isso não significa que o fenômeno pecado deixou de existir, mas que o enquadramento de determinados costumes, antes entendidos como pecaminosos, foram reavaliados à luz de novas compreensões. Para que um comportamento fosse classificado como pecado passou a ser necessária a especificação dos malefícios que causaria à pessoa praticante, a terceiros ou ao meio ambiente e nâo apenas ser costume - mores - ou tradição.

Uma pessoa consciente, autônoma, que de fato foi agarrada - expressão usada por Kierkgaard - pelo amor de Deus, que foi alcançada pela graça preciosa - expressão de Bonhoeffer -, portanto nascida de Deus - expressão de João -, jamais sentiria prazer em viver pecando, ainda que suceptível ao pecado.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Jesus e o Diabo - I João 3:8

“Aquele que pratica o pecado é do Diabo, porque o Diabo vem pecando desde o princípio. Para isso o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo.” (1 João‬ 3:8)

Biblicamente, o Diabo é o pecador de referência, o pecador-padrão, o pecador-mor. Ele não é o "pecador do mês", mas dos séculos. Não é aquele humano que circunstancialmente comete desvios em face de um ambiente que serve de gatilho para sua genética pecaminosa, mas um pecador contumaz, consciente. Seria, digamos, a própria encarnação do pecado.

Jesus de Nazaré é o antídoto. Sua missão foi destruir o que o Diabo fez e faz na vida humana. ““O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas-novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor”.” (Lucas‬ ‭4:18-19‬)

O Diabo é o ladrão de vida. "O ladrão vem apenas para roubar, matar e destruir...". Jesus é o restaurador da vida. "...eu vim para que tenham vida e a tenham plenamente.” (João‬ ‭10:10‬). Nossas escolhas e praticas indicam a quem estamos efetivamente vinculados, o tronco do qual nos nutrimos.

domingo, 5 de novembro de 2017

Não se deixe enganar - I João 3:7

“Filhinhos, não deixem que ninguém os engane. Aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo.” (1 João‬ ‭3:7‬)

No afã de levar alguma vantagem, de impor seu modo de pensar, de impor-se politicamente, enfim, parte das pessoas não tem nenhum constrangimento em enganar outras. Isso se dá em todos os setores e atividades da vida. Daí o imperativo: "não deixem que ninguém os engane". 

Para isso é necessário perspicácia, isto é, usar a inteligência, desenvolver a capacidade de percepção, prestar atenção à realidade, aos discursos e, principalmente, às ideologias subjancentes a eles. Isso exige empenho, determinação, foco, estudo, reflexão... Nas palavras de Jesus: "ser simples como as pombas e prudentes como a serpente".

Não se trata de tornar-se um paranóico, mas de ter consciência da possibilidade de sermos enganados e não permitir que isso ocorra. Conferir discurso e prática, por exemplo, é um caminho para identificar enganadores.  A prática da justiça, por exemplo, não apenas o discurso em defesa da justiça, é que nos torna justos, como justo foi Jesus de Nazaré.

sábado, 4 de novembro de 2017

Incompatibilidade - I João 3:6

“Todo aquele que nele permanece não está no pecado. Todo aquele que está no pecado não o viu nem o conheceu.” (1 João‬ ‭3:6)

É possível ser "crente" e conviver com pecado. Os demônios, por exemplo, são "crentes" de estremecer, segundo Tiago, mas convivem com mentira, homicidio, perseguição, engano, furia, injuria, injustiça, opressão,  tentação, destruição, ardilosidade, orgulho, sedução, enfim, convivem com o que é pecaminoso.

Aquele, porém, que convive na comunhão com Jesus, está sujeito a pecar, mas não faz do pecado sua escolha, seu estilo de vida. Sua convivência com o que é efetivamente pecaminoso não é amistosa e seu coração está sempre ligado na graça divina em busca de libertação, pois sabe que aquilo que é, de fato, pecado, à saude não faz bem.

Para João, conhecer a Jesus e estar em pecado é algo incompatível, isto é, não combina. É conflitante conhecer a Jesus e continuar convivendo com aquilo que é nocivo à própria vida, à vida da coletividade, ao ambiente no qual a vida se desenvolve. O pecado sempre será aquilo que adoece, que destrói a vida e Jesus sempre o que cura, o doador de vida, a própria vida. Dai pecado e vida em Jesus serem incompatíveis.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Conhecimento, pecado e vida - I João 3:5

“Vocês sabem que ele se manifestou para tirar os nossos pecados, e nele não há pecado.” (1 João‬ ‭3:5‬)

Conhecimento é resultado da interação de nossos corpos com a realidade que nos cerca, inclusive a virtual. Isso se dá através dos sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato). Essa interação é mediada por linguagem e processada em nosso cérebro. É mais, portanto, do que recepção e memorização de informações. É transformação de informações em significados que, por sua vez, ganham nova vida através de atitudes, palavras e ações.

Pelas palavras de João, a qualidade de vida denominada por ele de eterna deveria estar vinculada ao conhecimento que teríamos da razão de ser da vinda de Jesus e de sua natureza pessoal. Jesus manifestou-se para tirar os pecados -"Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" - sendo, ele próprio, sem pecado. O conhecimento disso deveria nortear nossa vida como paradigma.

Lembremo-nos, porém, de que aos olhos dos fariseus, Jesus era pecador. Tanto ele, por exemplo, quebrava a lei do sábado, quanto apoiava seus discípulos quando assim procediam. Cito isso para dizer que, se não construirmos um conhecimento adequado do que seja pecado, continuaremos sendo escravos dele mesmo conhecendo que Jesus não tinha pecado e veio para libertar-nos dele.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

O gosto agridoce do pecado - I João 3:4

“Todo aquele que pratica o pecado transgride a Lei; de fato, o pecado é a transgressão da Lei.” (1 João‬ ‭3:4‬)

Gostar ou não gostar da palavra pecado é direito de cada um. Se em alguma situação da vida ela foi aplicada de maneira equivocada, traumatizou e desagradou, isso não altera o fenômeno, seus significados e efeitos. Pecado faz parte de nossas vidas e suas consequências podem ser desagradáveis, ainda que, num dado momento e circunstância gere prazer.

É pouco relevante, também, a que lei João se refere, como pouco relevante seria, nesta devocional, discutirmos se quebramos a lei por causa do pecado ou se pecamos por causa da quebra da lei. O fato é que a transgressão da lei não é somente consequência de pecado, mas é também um tipo de pecado e traz consequências. 

Reafirmar o "pecado" não visa alimentar paranóias, ratificar podres poderes, reforçar culpas ou moralismos, mas reconhecer o fenômeno, o problema e as consequências. Exemplo: quem desobedece a lei no trânsito o faz pensando em ganhar tempo, fugir de obstáculos, mas pode gastar dinheiro com multa, perder o direito de dirigir por seis meses, além de colocar em risco sua vida e a do outro. Filosofando, psicologando, teologando ou não, o fato é que "pecado" - transgredir a lei - pode ser até prazeroso, mas também produz múltiplas e dolorosas consequências.