terça-feira, 31 de outubro de 2017

O Seminário "liberal" onde estudei

"Há sempre algum proveito quando o mestre não é de inteira confiança: o aprendiz precisa convencer-se a si mesmo sobre as verdades" (Soren Kierkgaard, em "As obras do amor")

Estudei em um seminário taxado pejorativamente de "liberal". Digo pejorativamente porque há um misto de desonestidade e pequenez intelectual em quem a ele aplica este termo. 

DESONESTIDADE, porque a intenção de quem usa o termo não visa construir pontes em busca do fortalecimento da unidade na diversidade. Antes, quem assim o taxa geralmente é um construtor de muros, amante da discriminação alheia, em busca de proteção  do próprio status quo, de sua zona de conforto, do incômodo de quem o contesta, da hegemonia do seu poder.

PEQUENEZ INTELECTUAL porque o termo liberal pode significar tanta coisa que, por paradoxal que possa parecer, até de conservador pode ser sinônimo. Por exemplo: o capitalista conservador é liberal, pois defende a manutenção do liberalismo nas relações de mercado. Para ele, conservar as relações de produção e consumo distantes do controle do Estado seria o melhor caminho à vida em sociedade. 

Outro exemplo: os batistas nasceram sob a bandeira da defesa da liberdade. Liberdade de crença, de pensamento, de opinião, de interpretação das Escrituras, de reunir-se, de organizar-se, de autogerir-se como igreja local, de cooperar com outras igrejas e não controlá-las, defendendo tudo isso bem distante das "garras" do Estado que controlava a Igreja Anglicana e as manifestações religiosas na Inglaterra do século XVII.  

Logo, ser um batista conservador deveria ser apegar-se e lutar para conservar essas raizes "liberais". Isso, entretanto, contraria  o agir daqueles que se autodenominam "conservadores", cuja praxis - teoria e prática - insiste em pretender uniformizar e controlar o pensamento coletivo, movido por uma visão político-empresarial diametralmente oposta aos exemplos de Jesus e que, sob pretexto de unificar forças visando fortalecimento denominacional e crescimento numérico, estão agindo como o Estado inglês agia com os insurgentes da igreja quando do nascimento do movimento batista.

O seminário "liberal" onde estudei era - e era aqui não significa juizo de valor sobre o que hoje é, mas minha percepção histórica dos tempos em que lá estudei - um espaço PLURAL. Embora autônomos e com senso crítico regido por razão, não por rancor, não percebia postura desafinante da parte dos professores com os quais estudei em relação à denominação mantenedora. Era visível o predominante conservadorismo em torno do respeito à liberdade de pensamento no corpo docente.

Essa pluralidade - que alguns equivocada, maldosa e pejorativamente classificam como "liberalismo" - foi decisiva no preparo de muitos líderes com postura de "servos não subservientes" que têm se destacado em todos os espaços  decisórios dentro e fora da denominação batista.

No seminário "liberal" onde estudei, éramos estimulados a ler diretamente o que pensavam os que pensavam a teologia, a missão, a eclesiologia, enfim, em vez de ficarmos restritos ao pensamento dos professores sobre o que pensavam os que pensavam esses assuntos. Os professores expunham seus pensamentos, tinham opinião própria, mas o espírito não era substituir a cabeça do aluno por suas cabeças, pois isso não seria educação desejável, mas lavagem cerebral. 

Ninguém é exclusivamente liberal ou conservador. A pessoa consciente de sí, do grupo com o qual caminha e dos grupos alternativos ao seu redor, reconhece que esses conceitos precisam ser continuamente entendidos, redefinidos, e se misturam em nós - trocadilho -, em maior ou menor grau, dependendo do assunto e do contexto. Apequena-se, portanto, quem usa a palavra "liberal" politico-teologicamente de forma pejorativa, visando desvalorizar, marginalizar ou destruir o outro, seja por ignorância ou má-fé.

Tornei-me um pastor e líder  conservador quanto aos princípios da tradição batista mais antiga por ter estudado em um seminário cujos professores foram competentes, honestos e tiveram autonomia para nos ensinar a estudar, em vez de programar nossas jovens mentes para tornar-nos meras mãos e mentes de obra manipuláveis por pessoas inescrupulosas que se aproveitam daqueles que cultivam boa-fé 

Qualificar o seminário onde estudei de "liberal" é um elogio, se entendido o significado amplo dessa palavra e seu vínculo com as mais remotas histórias dos batistas. Por outro lado, chamá-lo de "conservador", em termos populares, como usado por alguns político-ideólogos de religião, pode ser agressivo às histórias dos batistas, pois esses ideólogos, em vez de conservarem o espírito de liberdade, criam camisas-de-força, identificando-se com, repito, o Estado inglês do século XVII do qual nos libertamos, quando levantamos a bandeira da liberdade para nós e para todos.

Em resumo: no Seminário "liberal" onde estudei, fomos estimulados a considerar seriamente a veracidade das palavras de Jesus: "Eis que vos envio como ovelhas em meio a lobos, portanto, sejam simples como as pombas, mas prudentes como as serpentes". Ainda bem que estudei nesse Seminário "liberal" e aprendi bem essa lição!

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Esperança - I João 3:3

“Todo aquele que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro.” (1 João‬ ‭3:3‬)

Vivemos em função do que almejamos nos tornar, seja daqui a pouco, seja daqui a muitos anos, em todas as dimensões de nossas vidas. Mesmo sem nos darmos conta, sem termos plena consciência, sem, portanto, planejarmos estrategicamente, é sempre uma realidade nova, ou no mínimo diferente da vigente em determinado momento, que nos move todo instante. 

Somos um eterno vir-a-ser, movidos à esperança. Esperança que não deve ser confundida com a passividade do verbo esperar, mas com a expectativa motivada pelo desejo de melhoria, de mudança. Por isso "a esperança é a última que morre", pois é ela que anima e norteia nossas decisões.

A esperança fundamentada em Jesus produz muitos bons desejos e nos conduz a mudanças. Uma delas é o desejo de purificação. Não uma purificação por razões político-puristas, até porque o purismo é uma ilusão, ou mesmo moralistas, mas pelo desejo de vida plena,  de saúde - ou santidade na linguagem sacerdotal -, para si e para todos, em todas as áreas da vida, fruto da comunhão com Deus.



quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Pessoas mais amorosas - I João 3:2

“Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é.” (1 João‬ ‭3:2‬)

À luz das narrativas bíblicas, podemos distinguir três condições diferentes sob as quais a humanidade tem vivido com Deus: 1) a de criatura; 2) a de pacto; 3) a de amor. É por essa razão que João trata, nós seus leitores, como amados. Em Jesus, estamos sob a supremacia do amor divino.

Hoje, então, não apenas somos criaturas ou temos um pacto - relação jurídica caracterizada por leis -, mas experimentamos uma relação amorosa. Essa relação amorosa de intimidade com Deus é transformadora, pois o amor é a mais eficaz arma de transformação positiva da realidade humana. 

O que nos tornaremos como consequência dessa relação amorosa com Deus? Como isso impactará nossa vida? João diz não saber. Mas sabe que seremos semelhantes a Deus, pois fomos criados à sua imagem e semelhança. Certamente, então, o que nos espera é muito melhor do que somos e enxergamos, até porque, se Deus é amoroso, nos tornaremos, no mínimo, pessoas mais amorosas. Isso é o céu.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Filhos de Deus - I João 3:1

“Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos! Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu.” (1 João‬ ‭3:1‬)

Todos somos filhos de Deus. Todos fomos criados por Deus. Assim creio, juntamente com mais de 95% da população do planeta e Satanás que se declaram crentes na existência de um ser que está por detrás (ou para além) da existência, denominado "Deus" em língua portuguesa. (Os outros menos de 5%, por fé ou outro motivo, optam por negar ou desconsiderar um "Deus" como criador).

João, porém, introduz uma nova definição para o conceito "filho de Deus", a partir de outro marco histórico-teológico que é Jesus. Assim como a mãe, cuja filha que foi baleada no Colégio Goyases, em Goiania, declarou a data do crime como um novo marco de nascimento da adolescente, assim também, João trata a experiência humana com Jesus como uma espécie de "refiliação", declarando que, em Jesus, alcançamos uma nova condição de filhos.

O novo pressuposto estabelecido indica que "filho de Deus" não se define pela condição de criatura, mas pela relação amorosa vivenciada entre Deus e a humanidade através do elo Jesus. Essa nova condição gera estranheza naqueles que não a experimentaram porque altera as atitudes, palavras e ações daqueles que com Jesus - não com uma instituição religiosa primeiramente - se comprometeram.

sábado, 21 de outubro de 2017

Ser Justo - I João 2:29

“Se vocês sabem que ele é justo, saibam também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele.” (1 João‬ ‭2:29‬)

A vida não é justa. Wayne W. Dyer escreveu em "Seus pontos fracos": "Se o mundo fosse organizado de tal forma que tudo tivesse que ser justo, nenhum ser vivo poderia sobreviver nem um dia. Os pássaros seriam proibidos de comer os vermes e o interesse pessoal de cada um teria que ser atendido". 

Nenhum de nós é justo. Está escrito: "Não há um justo, nem um sequer." (Rom. 3:10). E se não estivesse escrito, saberíamos por experiência, por constatação. Portanto, nossa postura de entusiasmo frente a vida não deve alimentar-se de expectativas irreais. Nem é bom dependermos, para nos sentirmos felizes, de algo impossível de concretizar-se, pelas próprias características da vida no planeta.

O desafio joanino é que, inspirados em Jesus, tenhamos "fome e sede de Justiça" e sempre consideremos o bem estar comum em tudo o que dissermos ou fizermos. E que, em cada situação de injustiça com a qual nos depararmos, lutemos para que o reparo seja feito e a justiça brilhe. Essa é uma das evidencia nossa relação com Jesus.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Jesus, Igreja e Bíblia - I João 2:28

“Filhinhos, agora permaneçam nele para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e não sejamos envergonhados diante dele na sua vinda." (1 João‬ ‭2:28‬)

Há dois elementos da fé cristã que são extremamente essenciais: Igreja e Bíblia. A Igreja como resultado da missão de Jesus, como corpo do Cristo, como família de Deus, como comunidade do Espírito, como sinal e laboratório do Reino, enfim, e a Bíblia como inspirada por Deus para revelar o caminho de uma vida saudável ou santa, na linguagem sacerdotal ou eterna, na linguagem joanina, em Cristo Jesus.

Igreja e Bíblia são extremamente importantes no projeto divino, mas jamais a ponto de ter primazia sobre aquele que, por suas atitudes de serviço, humildade e obediência foi elevado acima de todo o nome, diante do qual "todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor". Pelo contrário, Igreja e Bíblia sempre deverão ser entendidas à luz da vida e ensinos de Jesus.

O foco de qualquer cristão é manter-se unido a Jesus, não somente em termos místicos, existenciais, mas especialmente pedagógicos, aprendendo diariamente com sua vida e ensinos e, a partir desses - vida e ensinos -, confrontando e avaliando a si mesmo e a realidade ao redor. Jesus, Igreja e Bíblia são, na prática, inseparáveis, mas o que faz toda diferença é o foco primeiro de nossa atenção: Jesus. Ele é o diferencial no aqui e agora, na qualidade de nossas relações com pessoas e coisas, e no porvir "diante dele na sua vinda".

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Unção, ensino e Bíblia - I João 2:27

“Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em vocês, e não precisam que alguém os ensine; mas, como a unção dele recebida, que é verdadeira e não falsa, os ensina acerca de todas as coisas, permaneçam nele como ele os ensinou.” (1 João‬ ‭2:27‬)

Não são poucos os que nos apresentam cotidianamente, alternativas de caminhos de vida, em termos religiosos, filosóficos, enfim. São caminhos apresentados tanto por quem caminha contra ou em paralelo a nós, quanto até por quem caminha institucionalmente ao nosso lado.

Porém, sabemos o caminho a seguir e isso não é fruto de apologética. Apologética é necessária a racionalistas, a quem precisa sustentar-se em provas, vivendo, portanto, por vista e não por fé. Não seguimos Jesus porque na Bíblia está escrito: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida e ninguém vem ao pai senão por mim" (Jesus). Ou "Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" (Pedro). Isso seria fundamentar a fé em um livro, não em uma pessoa. A Bíblia é essencial, mas por causa da pessoa de Jesus.

O fundamentalismo teológico surgiu como contraponto ao iluminismo, na tentativa de racionalizar a experiência espiritual usando linguagem e metodologia científica. Não conseguiu, entretanto, produzir pessoas melhores - pelo contrário - do que as que seguem Jesus pelo sentido espiritual e existencial gerado pela fé e pela convicção interior, inclusive com base em observação exterior, de que seguir as atitudes de Jesus nos eleva como seres criados à imagem e semelhança de Deus. Sem desmerecer a importância do ensino das Escrituras para nossas vidas, ATÉ PORQUE SÃO ELAS QUE DE JESUS TESTIFICAM, é a unção que nos sustenta no caminho, diz João.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Enganadores - I João 2:26

“Escrevo estas coisas a respeito daqueles que os querem enganar.” (1 João‬ ‭2:26‬)

Todos nós nos enganamos, isto é, cometemos erros seja por ignorância, falta de atenção, zelo excessivo, paixão ou limitações outras. Isso não elimina as consequências naturais do erro cometido, mas pode atenuar aquelas que são passíveis de punição.

Não só nos enganamos, mas também acabamos por enganar aqueles que, seja por imposição hierárquica, seja por aceitarem nossa liderança, seguem pelos caminhos que abrimos sem a devida reflexão e reação. Façamos, portanto, diferença entre os que se enganam e enganam agindo com boa-fé e aqueles que enganam agindo com má-fé, com segundas intenções.

Se todos nos enganamos ou estamos sujeitos a ser enganados, estudar os assuntos e os comportamentos humanos nos ajudam a diminuir os riscos de sermos vítimas de enganos ou de nos tornarmos enganadores. Por outro ângulo, se não posso julgar as intenções dos enganadores, posso, estando atento, estudando, reduzir o risco de enganar-me. Este é o papel intencional das Escrituras joaninas: ajudar-nos a não sermos enganados. Nem enganar, diria eu.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Promessa de vida eterna - I João 2:25

“E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna.” 
(1 João‬ ‭2:25‬)

Em João, repito, o conceito "vida eterna" tem a ver com uma qualidade de vida cujo início se dá não após a morte do corpo, mas a partir da plantação da semente do evangelho no coração.  Essa foi a vida prometida por Jesus quando declarou: ““Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.”  (João‬ ‭3:16‬)

Porque Jesus prometeu por amor, amorosamente, nós que dizemos nele confiar, que nos autodenominamos seus seguidores, seus discípulos, nos com-prometemos a amar. Porque a vida prometida por Jesus decorre do amor de Deus, nós também nos com-prometemos a conviver em amor e dele deixar brotar nossas atitudes, palavras e ações. 

Se vivemos numa cultura na qual promessas não são valorizadas, comprometer-se também não é um produto em alta. Talvez disso decorra a qualidade muito moralista - com todo respeito a moral -, mas pouco amorosa dos compromissos de parte barulhenta dos que se apresentam nas mídias como humildes porta-vozes, advogados e únicos proprietários da "palavra de Deus".

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Conservar - I João 2:24


“Quanto a vocês, cuidem para que aquilo que ouviram desde o princípio permaneça em vocês. Se o que ouviram desde o princípio permanecer em vocês, vocês também permanecerão no Filho e no Pai.” (1 João‬ ‭2:24‬)

Nem tudo que ouvimos desde a nossa infância deve ser conservado, nem tudo que ouvimos desde a nossa infância deve ser rejeitado. Não é o rótulo de antiguidade ou de modernidade que torna uma coisa boa ou ruim. 

Entre tudo o que foi dito no passado e está sendo dito no presente estamos nós, com o poder e a liberdade de julgar e decidir entre o que deve ser conservado e o que deve ser rejeitado em cada contexto no qual estivermos inseridos. Contamos com um coração e um cérebro dados por Deus, além do auxílio do Espírito Santo, da vida e ensinos de Jesus, dos "céus que proclamam a glória de Deus", das Escrituras que revelam a interação do divino com o humano, enfim, para julgarmos e decidirmos.

Essencial é não abrirmos mão da boa notícia de que em Jesus, não no catolicismo, no protestantismo, no pentecostalismo ou qualquer outro ismo, a graça e a verdade divinas se materializaram. Ou, como escreveu João: “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.” (João‬ ‭1:14‬). Disso não devemos abrir mão.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Deus e (m) Jesus - I João 2:23

“Todo o que nega o Filho também não tem o Pai; quem confessa publicamente o Filho tem também o Pai." (1 João‬ ‭2:23‬)

Falando de Jesus, João inicia seu evangelho dizendo: “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus e era Deus. Ele estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito. Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens.” (João‬ ‭1:1-4‬).

Relatando o momento em que Jesus se despede dos discípulos, João descreve Tomé perguntando-lhe sobre o caminho. Ao responder Jesus identifica-se como sendo Deus dizendo: "ninguém VEM ao pai senão por mim" e reafirma que quem o conhece, conhece o Pai. Filipe, então, pede que ele lhes mostre o Pai, ao que ele responde: "Quem me vê, vê o pai" (Jo 14).

Para João, portanto, Jesus encarnava Deus, claro, naquilo que podemos e necessitamos conhecer para que nossa vida encontre sentido e se fortaleça na fé, na esperança e no amor. Daí sua afirmação: dizer não a Jesus é dizer não a Deus, confessar a Jesus é confessar a Deus. 

domingo, 8 de outubro de 2017

Mentiroso - I João 2:22

“Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo: aquele que nega o Pai e o Filho." (1 João‬ ‭2:22‬)

"“Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito: 'O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor'. Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; e ele começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir”.” (Lucas‬ 4:16-21)

“Chegando Jesus à região de Cesareia de Filipe, perguntou aos seus discípulos: “Quem os outros dizem que o Filho do homem é?” Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros, Elias; e, ainda outros, Jeremias ou um dos profetas”. “E vocês?”, perguntou ele. “Quem vocês dizem que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Respondeu Jesus: “Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não foi revelado a você por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus.” (Mateus‬ ‭16:13-17)

Jesus é o Cristo, o ungido de Deus. Essa era a narrativa dos primeiros discípulos de Jesus. Essa, portanto, foi, tem sido e continuará sendo a verdade anunciada pela igreja de Jesus. Qualquer narrativa que nega isso é falsa, é mentirosa e quem a narra não é digno de confiança, é mentiroso. 

sábado, 7 de outubro de 2017

Verdades - I João 2:21

“Não escrevo a vocês porque não conhecem a verdade, mas porque a conhecem e porque nenhuma mentira procede da verdade.” (1 João‬ ‭2:21‬)

Verdade tem a ver com narrativa, tem a ver, portanto, com a relação entre um fenômeno (por exemplo, o evento Jesus) e a descrição desse fenômeno (a narrativa dos que, por exemplo, com Jesus estiveram). Quanto maior for a aproximação ao fenômeno, no tempo e no espaço; quanto mais atenta, acurada, a percepção em relação a tal fenômeno e mais profunda a consciência que a pessoa tem de suas emoções frente ao fenômeno, maior a probabilidade dela descrever, narrar o fenômeno tal qual ocorreu e sua verdade ser crível.

Essa verdade experiencial pode ou não ser igual a verdade histórica, pois essa é resultado não da experiência direta do narrador, mas de sua capacidade de juntar informações, abstrair e elaborar uma narrativa do fenômeno, com base em descrições diversas, narradas por terceiros sobre um fenômeno. E ambas - a verdade experiencial e a histórica - podem ser diferentes da verdade política - a meu ver a menos confiável - pois essa está menos interessada em descrever o fenômeno como se deu e mais a quem sua narrativa beneficia ou prejudica em termos de manutenção ou perda do poder sobre pessoas e coisas.

A leitura da carta de João nos faz perceber que havia um conflito de verdades na comunidade. Havia a verdade dos que com Jesus estiveram, que cotidianamente com ele conviveram e foram impactados por sua vida e uma outra narrativa que negava elementos essenciais do evento Jesus tal qual a comunidade conhecia. João, claro, relembrava os leitores da verdade que conheciam, mostrando a falácia das narrativas divergentes. Esse conflito de verdades sempre nos acompanhará.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Unção e conhecimento - I João 2:20

“Mas vocês têm uma unção que procede do Santo e todos vocês têm conhecimento.” (1 João‬ ‭2:20‬)

Unção era um ato cerimonial simbólico do judaísmo - tipo imposição de mãos na ordenação ao ministério pastoral ou o mergulho nas águas batismais protestantes - cujo característico era o derramamento de óleo sobre a cabeça de pessoa reconhecida oficialmente para o exercício sacerdotal.

Como linguagem figurada, a expressão bíblica foi maximizada pelo pentecostalismo, passando a ser usada para caracterizar alguém cujas qualidades carismáticas sobressaltavam aos olhos comunitários em reuniões marcadas por emoção e catarse.

Em João, "unção" - reconhecimento comunitário - e "conhecimento" deixam de ser exclusividade de uma elite religiosa ou "espiritual" e passam a ser reconhecidos como marcas de todos os comprometidos com o Cristo de Deus (ungido de Deus), Jesus de Nazaré - fonte da nossa unção -, uma vez que nele, todos se tornam sacerdotes com livre acesso a Deus, sem necessidade de intermediários, sejam pessoas ou instituiçôes.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Anticristos saem e ficam - I João 2:19

“Eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem saído mostra que nenhum deles era dos nossos.” (1 João‬ ‭2:19‬)

Não pode sair do nosso meio quem em nosso meio não esteve. Estiveram entre os primeiros discípulos, estão entre nós e estarão entre os que depois de nós vierem. Não nos iludamos pensando que anticristos fizeram parte somente das igrejas primitivas. Eles também, repito, estão entre nós e, talvez, nem sairão.

E mais: sair do nosso meio não é indicação de que se é um anticristo. Pelo contrário, embora sair não seja recomendável, há quem saia justamente porque pessoas com traços de anticristo não só permanecem, mas também ocupam funções e cargos na igreja, exercendo influência doentia sobre a comunidade.

Porém, querer identificar quem poderia ser anticristo entre nós, na igreja, não é uma escolha saudável. Melhor é conhecermos o caráter do Cristo, do ungido de Nazaré, e, movidos pela graça, sob a ação do Espírito Santo, nos empenharmos em nos identificar com ele e amorosamente ajudarmos os demais da igreja a fazerem o mesmo.

domingo, 1 de outubro de 2017

Moralidade seletiva (A propósito das repercussões de mostras de museus em POA e SP)

Respeito o direito daqueles que estão protestando contra algumas expressões "artísticas" apresentadas recentemente em museus de Porto Alegre e São Paulo. 

Também não se afinam - tais expressões - ao meu gosto estético. 

Também tenho minhas dúvidas quanto a teleologia pedagógica e sua ideologia ética. 

Também exige a ativação de neurônios bem acima dos que possuo para desencadear minha capacidade de abstração e de reflexão filosófica. 

Sinto-me um analfabeto artístico frente ao nível de abstração dos que conseguem apreciar tais expressões. 

Sem trocadilhos, sinto-me mais pro garoto que gritou: "o rei está nu", do que para os súditos que paparicavam: "bela camisa, fernandinho".

Mas, como já dizia minha avó, "uns gostam dos olhos; outros, da ramela". O que seria de nós se não fosse assim?

Fico, entretanto, observando as manifestações de protesto, especialmente de pessoas, igrejas e pastores com os quais mantenho vínculos afetivos e organizacionais e meus botões cerebrais são automaticamente acionados exigindo de mim respostas. 

Por exemplo: 1) por que tanto reagimos se tão avesso somos a artes em nossas igrejas ou pouco investimos nelas? 2) Por que reagimos apenas em relação à moral e silenciamos sobre ética? 3) Por que a moral sexual provoca reação e as morais econômica, política, religiosa e ecológica, por exemplo, não nos sensibilizam e silenciamos sobre elas em nossos púlpitos? 4) Seria, nosso silêncio, por traumas psicológicos, medo político ou pobreza intelectual?

Responda-me: O que causa mais dano às famílias brasileiras? Uma exposição de arte na qual meia dúzia de quem tem um pouco mais de dinheiro e teve acesso à escolaridade bem acima da média pode ver ou taxas de juros extorsivas que empobrecem os já pobres tirando das famílias o acesso à saúde, segurança, educação ou ao transporte? Uma exposição de arte ou leis injustas que aumentam as desigualdades sociais, provocando violência desenfreiada?

Estava pensando no seguinte, em termos bíblicos, como nossa moralidade é seletiva:

1. Quem silencia deve gostar da imoralidade dos juros de 400% aa no Brasil, a despeito do que nos declara este Salmo: “Senhor, quem habitará no teu santuário? Quem poderá morar no teu santo monte? Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo; que de coração fala a verdade e não usa a língua para difamar; que nenhum mal faz ao seu semelhante e não lança calúnia contra o seu próximo; que rejeita quem merece desprezo, mas honra os que temem o Senhor; que mantém a sua palavra, mesmo quando sai prejudicado; que não empresta o seu dinheiro visando a algum lucro nem aceita suborno contra o inocente. Quem assim procede nunca será abalado!” (Salmos‬ ‭15:1-5‬)

2. Quem silencia deve gostar da imoralidade do fato de 6 brasileiros acumularem fortuna (herança) igual a de 100 milhões (CEM MILHÕES) de conterrâneos seus, a despeito do que nos disse Jesus: ““Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração.” (Mateus‬ ‭6:19-21‬)

3. Quem silencia deve gostar da imoralidade do tratamento dado a imigrantes refugiados em muitos países ricos do planeta, a despeito do que nos diz as Escrituras: “Pois o Senhor, o seu Deus, é o Deus dos deuses e o Soberano dos soberanos, o grande Deus, poderoso e temível, que não age com parcialidade nem aceita suborno. Ele defende a causa do órfão e da viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe alimento e roupa. Amem os estrangeiros, pois vocês mesmos foram estrangeiros no Egito.” (Deuteronômio‬ ‭10:17-19‬)

4. Quem silencia deve gostar da imoralidade de ítens, especialmente da discriminação desfavorável aos empobrecidos, das reformas trabalhista e previdenciária ou mesmo do REFIS que está sendo aprovado no Congresso, a despeito do que diz o profeta: “Ai daqueles que fazem leis injustas, que escrevem decretos opressores, para privar os pobres dos seus direitos e da justiça os oprimidos do meu povo, fazendo das viúvas sua presa e roubando dos órfãos!" (Isaías‬ ‭10:1-2‬)

É triste constatar essa moralidade seletiva, de quem se esgoela diante da moral sexual e silencia, quando não se delicia, diante da imoralidade política, econômica, religiosa ou ecológica, por exemplo, que estão sendo estampadas diariamente nas páginas dos jornais.