segunda-feira, 31 de julho de 2017

O outro em comunhão - I João 1:7

“Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.” (1 João‬ ‭1:7‬)

O Deus que se revela em Jesus é um Deus plural. Assim ele se revela quando se convida a criar em Gen. 1:26 (Façamos...) e quando cria a humanidade em Gen. 1:27 (...homem e mulher...), assim ele se afirma, ao orar pela humanidade reconciliada: "para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” (João‬ ‭17:21‬).

Ele, que está na luz sendo plural, na pluralidade nos desafia a sermos luz com os outros, como ele. Se na filosofia de J.P. Sarte "o inferno são os outros", na teologia do Deus que se revela em Jesus "os outros" são parceiros de manifestação da presença luminosa divina que se manifesta em comunhão.

Na comunhão com Deus - não PRIMEIRAMENTE na observância de dogmas, na participação de eventos religiosos de sociabilidade ou na adesão à instituição que os produz - nossas vidas são "desinfernizadas" e o outro, um irmão, como nós, em processo de purificação em Jesus.

domingo, 30 de julho de 2017

Comunhão coerente - I João 1:6

“Se afirmarmos que temos comunhão com ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade.” (1 João‬ ‭1:6‬)

Não somos computadores. Tanto nossas limitações quanto as limitações e diferenças de percepção e de memória do outro, além da multiplicidade de realidades que nos cercam, envolvem-nos em situações que aumentam as possibilidades de sermos classificados como incoerentes. 

Temos, entretanto, memória e percepção suficientes para nos mantermos conscientemente coerentes dentro de um nível saudável para nós e para os que nos cercam. Sabemos, portanto, que estamos sendo incoerentes sempre que defendemos uma coisa e vivemos outra diferente. A própria consciência nos acusa disso.

Se digo, por exemplo, que estou em comunhão com Deus, essa comunhão também deve ser buscada em relação ao semelhante. Se isso não ocorre, a incoerência fica caracterizada, pois é na comunhão com o outro que a comunhão com Deus se autentica. Essa incoerência significa o mesmo que estarmos em trevas ou, numa outra linguagem, vivendo uma mentira. 

sábado, 29 de julho de 2017

O Deus da Comunhão - I João 1:5

“Esta é a mensagem que dele ouvimos e transmitimos a vocês: Deus é luz; nele não há treva alguma.” (1 João‬ ‭1:5‬)

João ouviu muitas mensagens de Jesus. Ele mesmo disse que não registrou todas, mas as essenciais ao exercício da fé. Comunhão era assunto essencial e ele registrou: ““Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti...” (João‬ ‭17:20-21‬)

Agora ele fala de Deus como o Deus da comunhão. Sim, pois como a sequência da leitura de sua carta nos indica, luz e trevas têm a ver com andar ou não em comunhão. Ser luz é ser capaz de enxergar o outro, de amá-lo e de, com o outro, andar em comunhão. Deus é luz. Deus é comunhão. Deus é a luz da comunhão.

Quando Jesus disse: "Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará em trevas", no contexto da mulher que poderia ser apedrejada por ter sido pega em adultério, não referia-se à moralidade, mas à capacidade de enxergar o outro, perdoá-lo, e com ele construir comunhão, em vez de apedrejá-lo. Quem não é capaz de enxergar o outro, mas apenas conceitos para enquadrá-lo e condená-lo, não é capaz de amá-lo, de aceitá-lo e, com ele, caminhar em comunhão.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Proclamação da alegria - I João 1:4

“Escrevemos estas coisas para que a nossa alegria seja completa.” (1 João‬ ‭1:4‬)

Há quem faça uso da "palavra" para produzir  reação rápida dos ouvintes ou leitores aos apelos. Enchem o público alvo de sentimentos como medo ou culpa para arrancar decisões espetaculosas regadas à lágrimas, cujos resultados são tão duradouros quanto flores do campo. Porém, gerar medo ou sentimento de culpa não é finalidade da proclamação do evangelho.

Gerar medo ou culpa são formas de manipulação usadas por quem busca resultados imediatos para impressionar. É a mesma tática de propaganda usada por determinadas empresas para vender seus produtos. Até conseguem compradores "desavisados", mas com nível zero de fidelidade ao produto.

A proclamação do evangelho dispensa manipulação. Sua essência - diferente do evangeliquez de empreendimentos religiosos - atende necessidades reais e profundas da alma humana. Quem a ouve, responde positivamente, pois ela não ilude com promessas de riso fácil ou ausência de aflições ou ainda, muito menos, com exigências desumanas. Antes, gera alegria, um tipo de experiência produzida pela presença graciosa de Deus, inclusive em meio a vales da sombra da morte.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Proclamação da comunhão - I João 1:3

“Proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocês também tenham comunhão conosco. Nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo.” (1 João‬ ‭1:3‬)

As polarizações ideológicas de natureza política, econômica, social, religiosa, teológica, enfim, estão cada vez mais visíveis. O espírito bélico por detrás de nomenclaturas intelectualizadas como direita, esquerda, centro, liberal, progressista, conservador, moderado, fundamentalista, calvinista, arminiano, reformado, são pontas de icebergs dos muros que nos separam.

Conquanto diferentes em natureza e grau, os conflitos sempre existiram, inclusive onde haviam "dois ou três" reunidos com Jesus ou em seu nome. Tiago, João e os discípulos disputando lugares de prestígio; judeus de fala grega e de fala hebraica em Jerusalém; Paulo e Barnabé decidindo viagens missionárias;  irmãs da igreja filipense; João e Diótrefes, enfim, são exemplos disso.

Cientes desse potencial humano para conflitos, a finalidade de produzir comunhão da proclamação das igrejas merece ênfase. O "para que" da proclamação - gerar comunhão - precisa muito ser mais acentuado. Se a comunhão não for a ideologia norteadora da proclamação da igreja, a própria existência dela - igreja - pode produzir efeitos opostos aos de sua edificação por Jesus.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Vida eterna (II) - I João 1:2:

“A vida se manifestou; nós a vimos e dela testemunhamos, e proclamamos a vocês a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada.” (1 João‬ ‭1:2‬)

Se a vida eterna se manifestou, foi vista e dela pode-se testemunhar, isso indica , mais uma vez, que ela deve ser tratada não somente como uma expectativa futura, mas também como uma possibilidade presente. Por ser uma realidade já constatada no passado, em Jesus, ela pode ser narrada no presente como guia de nossas vidas.

Se a vida eterna, que estava com o criador, manifestou-se em Jesus, já não há necessidade de especulações, muito menos floreamentos, sobre como seria a vida "no céu" e, muito menos, quem iria "para o céu". A vida " no céu" é a vida plena em Jesus. Vai "encontrar-se no céu", quem se encontra com Jesus.

Se a vida eterna manifestou-se na vida de Jesus, disso decorre que o querigma, a proclamação da igreja, é a vida "de Jesus" e "em Jesus". O didaquê, o discipulado promovido pela igreja, é o da identificação de cada um com a vida de Jesus, encarnação da vida eterna, manifesta por Deus a nós. 

domingo, 23 de julho de 2017

Palavra da vida (II) - I João 1:1

“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam—isto proclamamos a respeito da Palavra da vida.” (1 João‬ ‭1:1‬)

A proclamação do evangelho não é, primeiramente, a proclamação de um texto, mas de uma pessoa, ainda que a fonte mais antiga e segura de informação e o meio mas comum e objetivo disponível sobre esta pessoa, e de mediação com ela, seja um texto. 

O texto em si, entretanto, não é suficiente. Para que o texto cumpra sua finalidade, a manifestação do espirito é essencial, pois o texto também é capaz de matar, mas o espírito de vivificar. Portanto, texto e espírito devem caminhar em harmonia na proclamação. 

Quando texto e espírito andam de mãos dadas, a "palavra de Deus" ganha seu mais profundo sentido: a pessoa de Jesus, o verbo, a palavra, o sentido, que se fez carne e habitou entre nós. Nele encontramos liberdade do legalismo, do antinomismo e do anomismo. Jesus, portanto, é a palavra da vida que proclamamos.

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quarta-feira, 19 de julho de 2017

Espíritos graciosos - Filipenses 4:23

“A graça do Senhor Jesus Cristo seja com o espírito de vocês. Amém.” (Filipenses‬ ‭4:23‬)

Se há um conceito que precisa ser resgatado na vida da igreja, esse conceito é graça. Não como chave de disputas desrespeitosas entre calvinistas e arminianos, nas quais essa palavra comumente passa distante do seu significado, mas como motivadora nos relacionamentos interpessoais dos crentes, nas denúncias dos desvios alheios e na proclamação do caminho de salvação.

Desejar que "a graça do Senhor Jesus Cristo seja com o espírito de vocês" exige que se reconheça Jesus como um ser, acima de tudo, que se caracteriza como gracioso. Mas, se o foco da fé cristã não for o conhecimento da pessoa de Jesus, suas atitudes, sua ética, sua escala de valores e prioridades, como poderia a graça ser reconhecida?

Se reconhecemos Jesus como sendo gracioso e desejamos que essa graça se faça presente na vida da igreja, faz-se necessário que nos empenhemos em ser agentes de graça, sentindo, pensando, agindo e falando graciosamente. Sem Jesus como foco de  interesse, em vez de generosidade prevalecerá a inveja, em vez de paz reinará a briga, em vez de graça, a desgraça. E o "amém" não será a palavra final.

domingo, 16 de julho de 2017

Santos no palácio - Filipenses 4:22

“Todos os santos enviam saudações, especialmente os que estão no palácio de César.” (Filipenses‬ ‭4:22‬)

Santos e palácios raramente combinam. É que palácios são sede de poder, riqueza e bacanais, elementos com os quais a ótica dos santos difere daqueles que neles reinam. Os que reinam nos palácios geralmente dominam pessoas e organizações em favor de si e dos seus e, se necessário, matam os divergentes.

Santos são amorosos, aguerridos, compassivos, empáticos, justos, solidários e enxergam o outro como semelhante, empenhando-se sempre para que todos tenham oportunidade de alcançar vida digna. São mais propensos a dar a própria vida do que tirá-la de alguém. Sentem  prazer possibilitando que o outro supere suas dores e tenha suas necessidades supridas.

Quando santos entram em palácios, não o fazem para se tornar reis-déspotas, mas servos-subversivos. Não podendo negar suas naturezas, sempre estarão procurando um jeito de utilizar poder e riqueza em favor de todos, especialmente dos mais necessitados. Que muitos santos nos saúdem dos palácios.

sábado, 15 de julho de 2017

Missão da igreja e discipulado

Compartilho esta palavra sobre missão das igrejas no mundo, girando em torno da idéia de fazer discípulos que são, fazem  e falam baseados nas atitudes, na ética e nos compromissos de Jesus.

Se você puder investir um tempo para ouví-la e der um retorno, especialmente naquilo que discorda ou não está claro, eu agradeceria. Isso me ajudaria a tratar do assunto de maneira melhor no meu ministério pastoral e nas prédicas e preleções que faço.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Todos os santos - Filipenses 4:21

“Saúdem a todos os santos em Cristo Jesus. Os irmãos que estão comigo enviam saudações." (Filipenses‬ ‭4:21‬)

Na cultura religiosa brasileira, podemos destacar pelo menos três tipos de santos: 1) os que são aprendizes em sua religião, ensinados por um chamado "pai"; 2) os que são reconhecidos em sua religião depois de mortos, por bem feito extraordinário e transformados em intercessores perante Deus; 3) os que são declarados santos em sua religião durante sua vida, mesmo sem méritos pessoais, por confiarem no ministério sacrificial de Jesus Cristo.

A definição do conceito "santo" também pode se dar de pelo menos 3 maneiras: 1)  alguém dotado de poder especial; 2) alguém que se dedica exclusivamente a causas religiosas; 3) alguém que cultiva vida saudável em si e pelos outros, em todas as dimensões, movido pela comunhão com Jesus de Nazaré.

A compreensão da fé como sendo inclusiva, ié, que "em Cristo Jesus" os seres humanos - homens e mulheres - são recolocados em situação de igualdade essencial, reconhecidos como criados a imagem e semelhança de Deus, abrindo-lhes o caminho para uma vida saudável, em todas as suas dimensões - corporal, espiritual, emocional, política, econômica, enfim - tem sido abraçada por mim como a que melhor supre nossas necessidades.

terça-feira, 11 de julho de 2017

Glórias a Deus - Filipenses 4:20

“A nosso Deus e Pai seja a glória para todo o sempre. Amém.” (Filipenses‬ ‭4:20‬)

Deus não precisa de bajulação, portanto não precisa de bajuladores. Elogio, louvor a Deus, é um desejo humano, não uma necessidade divina. Daí Paulo declarar: "Ele não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas.” (Atos‬ ‭17:25‬).

É legìtimo que cada comunidade de fé defina suas manifestaçōes litúrgicas à luz de suas crenças, valores culturais e manifestaçōes estéticas que conseguiu desenvolver. Ridículo é ver pessoas discutindo a respeito de qual estilo de música ou liturgia agrada mais a Deus ou, pior, brigando em torno do "louvor". 

Dar glórias a Deus só faz sentido quando é fruto de reconhecimento sincero da extraordinariedade da vida e não de tentativas inúteis de manipulação divina ou de barganha com Deus. Quando uma pessoa é impactada pela glória de Deus, sua primeira reação é silenciar, encantada. ““O Senhor, porém, está em seu santo templo; diante dele fique em silêncio toda a terra”.” (Habacuque‬ ‭2:20‬).

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Riqueza essencial - Filipenses 4:19

“O meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus.” (Filipenses‬ ‭4:19)

Jesus, o Cristo, armazena em si as riquezas essenciais de natureza espiritual que Deus disponibiliza para que a humanidade tenha suas necessidades supridas. São essas riquezas que determinam o valor que damos às pessoas, às coisas materiais, ao meio ambiente, enfim,  e a maneira como nos relacionamos com eles.

Quem com Jesus se relaciona, se identifica com suas atitudes e as cultiva, nutrido pela graça, está no caminho para lidar com dinheiro, sexo e poder. Esses três elementos agrupam em si os maiores desafios que todos enfrentamos, ainda que em graus e circunstâncias diferentes, e estão na raiz dos conflitos que nos aterrorizam.

Desafios econômicos, políticos, emocionais, sociais, estruturais, enfim, sempre existirão. Quando, porém, são enfrentados por pessoas cujas atitudes - traduzidas em ética - se harmonizam com as presentes na vida de Jesus, produzem resultados mais favoráveis aos interesses coletivos e ao bem estar comum.

domingo, 9 de julho de 2017

Ofertas ou ofertantes? (II) - Filipenses 4:18

“Recebi tudo, e o que tenho é mais que suficiente. Estou amplamente suprido, agora que recebi de Epafrodito os donativos que vocês enviaram. São uma oferta de aroma suave, um sacrifício aceitável e agradável a Deus." (Filipenses‬ ‭4:18‬)

Se há um tipo de oferta agradável a Deus, provavelmente há uma desagradável. Essa poderia ser a proveniente de ofertantes cuja motivação não fosse abençoar um necessitado ou apoiar uma causa ético-espiritualmente reconhecida como necessária ao bem comum.

Também poderia não ser oferta agadável a Deus aquela cujo meio de levantamento tenha sido movido por sentimentos de disputas partidaristas ou de empoderamento político do doador. Embora somente Deus possa dizer o que lhe agrada, podemos deduzir, à luz do que ele revelou de si mesmo, o que lhe agradaria ou não.

Cabe a cada um avaliar motivos e finalidades das ofertas nas quais se envolve e julgar-se à luz dos valores espirituais que regem o reinado de Deus, visando dar o melhor de si, seja em quantidade ou qualidade. E, se é o beneficiário, que avalie o significado de "necessidade" para si, a fim de que não se torne um peso desnecessário aos outros.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Ofertas ou ofertantes? (I) - Filipenses 4:17

“Não que eu esteja procurando ofertas, mas o que pode ser creditado na conta de vocês.” (Filipenses‬ ‭4:17‬)

É claro que as palavras de Paulo, neste capítulo, são um excelente meio para fundamentar levantamento de ofertas para causas do reino desenvolvidas pelas igrejas em nossos dias. Entretanto, parece-me, o foco de Paulo não era as ofertas, mas os ofertantes.

Ao destacar as ofertas, Paulo (que no decorrer da carta também destaca atitudes equivocadas dos filipenses que os deixavam em situação de DÉBITO), com o caso destaca mais uma atitude positiva que aumentava o CRÉDITO daquela igreja. Era isto que ele procurava: aumentar o crédito deles, não arrancar mais ofertas.

Nossa história é um balanço contábil. Nela registramos aquilo que aumenta nossos créditos ou débitos. Somos nós, atravez de atitudes, palavras e ações, que determinamos se haverá mais crédito ou débito registrado. Paulo estava valorizando o crédito da igreja. Isso é muito importante nestes dias, quando alguns cristãos enfatizam os "débitos" das igrejas nas mídias (mais para ficar bem na fita com opositores do que para ajudar na correção) e pouco ou nada falam de seus créditos.

Ajuda-remuneração - Filipenses 4:16

“pois, estando eu em Tessalônica, vocês me mandaram ajuda, não apenas uma vez, mas duas, quando tive necessidade.” (Filipenses‬ ‭4:16‬)

Por que a igreja ajudava financeiramente o apóstolo Paulo? A resposta seria porque ele se dedicava à pregação do evangelho. Se esse era o fato, não seria o caso de ajudarmos financeiramente  membros de igrejas que hoje também trabalham incansáveis nas causas do reino?

Paulo "fazia tendas" para auferir renda e sustentar-se, mas as viagens constantes, a dedicação às pessoas (igrejas-povo) e à escrita, além do tempo na prisão, reduziam, suponho, sua possibilidade de ganhos. Daí a necessidade de complemento que só poderia vir daqueles que acreditavam na importância do trabalho feito por ele.

O fato em si, de alguém desenvolver tarefas na igreja, não justifica remuneração, exceto se for essencial ao seu funcionamento, exigir tempo que impeça a pessoa de auferir renda própria, exigir qualificação técnica específica ausente nos demais irmãos ou impor custos fora da normalidade à pessoa. Considere-se ainda que hoje, além da "igreja-povo",  existe a "igreja-instituição" pelas imposições legais de movimentação financeiro-contábil, patrimonial, trabalhista e previdenciária, que exigem mais tempo e qualificação de alguns para cumprí-las.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Generosidade e visão estratégica - Filipenses 4:15

“Como vocês sabem, filipenses, nos seus primeiros dias no evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja partilhou comigo no que se refere a dar e receber, exceto vocês;” (Filipenses‬ ‭4:15‬)

Há dois tipos de ajuda pessoal que merecem atenção da igreja. Um, é a ajuda a pessoas em situação particular de adversidade econômico-financeira, classificado como de natureza social; outro, a ajuda a alguém que abre mão da produção econômico-financeira para sustento próprio a fim de dedicar-se à promoção do evangelho, classificado como investimento estratégico.

O primeiro tipo - ajuda social -  exige compaixão e lucidez, para avaliar o quadro de alguém que se apresenta necessitado. Compaixão, para ser capaz de colocar-se no lugar da pessoa, de sentir suas dores e motivar-se a ajudar. Lucidez para não ser enganado por aqueles que agem de má-fé visando subtrair dinheiro da igreja.

O segundo tipo - investimento estratégico - exige visão das necessidades humanas e reconhecimento da seriedade e qualidades de pessoas vocacionadas que se propõem a dedicar-se ao suprimento dessas necessidades. A igreja filipense parece ter sido pioneira, por sua generosidade e visão, a investir estrategicamente em Paulo, exemplo que merece ser reconhecido e seguido.


terça-feira, 4 de julho de 2017

Um apelo aos pastores sobre política

Quando ouço ou leio um pastor defendendo que a mensagem do evangelho é apenas pra vida após a morte do corpo, alienando sua igreja, com seus ensinos, da participação nas questões político-econômico-sociais ou, pior, criticando e difamando os colegas que, diferente dele, estimulam os crentes a exercerem a cidadania integral (espiritual, emocional, artística, econômica, política, social...), fico me perguntando:
1. Ele é ignorante?
2. Ele é covarde?
3. Ele teme os que comandam (não necessariamente os que ocupam os cargos) seu sistema religioso-denominacional?
4. Ele está agindo de má-fé para explorar os membros da igreja?
5. Ele tem consciência de que o seu salário faz parte de um sistema político-econômico e não religioso-celestial?
6. Ele sabe que os dízimos dos membros da igreja nascem da produção deles dentro do sistema econômico e não do religioso-celestial?
7. Ele sabe que  o paletó, a gravata, a camisa, a calça, a cueca, as meias, os sapatos que ele usa nascem na produção econômica e não religioso-celestial?
8. Ele sabe que o aluguel da casa dele, a roupa, a comida, os estudos dos seus filhos, o transporte, tudo, enfim, em torno do qual sua vida gira, é fruto da atividade econômica dos membros da igreja  e não de atividade religioso-celestial?
9. Ele sabe que a própria atividade religiosa que ele dirige faz parte da máquina econômica ao produzir bíblias, livros, partituras, instrumentos musicais, púlpitos, bancadas, cadeiras, equipamentos eletrônicos, de som, de ceia, de batismos, gerando emprego, renda, lucro aos que nela trabalham?
10. Ele sabe que a programação da igreja dele alimenta serviços de hotelaria, acampamentos, salões de festas, centros de convenções, empresas de transportes viários, aéreos, marítimos,  etc, etc, etc, elementos que fazem a economia girar, gerando salários e, desses, dízimos que são entregues, inclusive para que ele receba seu salário?
11. Ele, que só fala do céu, aliena a igreja e critica seus colegas é ignorante, covarde ou de ma-fé, quando não vê que a economia não funciona apenas em torno da iniciativa de cada um, mas sob leis do Estado?
12. Ele sabe que essas leis não caem do céu, mas são fruto de embates políticos entre fortes interesses divergentes ou, quando convergentes, têm representado mais os interesses de quem as faz - os vereadores, deputados e senadores - ou de quem financia a campanha eleitoral de quem as faz, inclusive contra os interesses do povo?

Pastor, meu colega, se você não se sente preparado ou não fala sobre isso com sua igreja com medo dos poderosos da política religioso-denominacional, partidária ou econômica, pelo menos coloque-se em ORAÇÃO diante de Deus e DECIDA não enganar os membros de sua igreja ou criticar seus colegas. Isso já é um grande passo.

Um dia você estará diante de Deus para prestar contas do seu ministério e, acredito, muito menos do que a quantidade de pessoas que te ouviu dominicalmente ou do que a quantidade de eventos eclesiástico-denominacionais nos quais você falou ou assistiu, ou ainda menos do que a quantidade de dinheiro que você colaborou para que sua igreja levantasse para sustentar "a obra", você prestará contas da alienação e difamação que promoveu e da covardia que não superou, prejudicando a vida abundante que Jesus veio trazer a este mundo.

A vida dos membros de sua igreja, futura e presente, é do interesse de Deus. Todas as dimensões da vida dos membros de sua igreja - não só a espiritual - fazem parte do interesse de Deus. Não foi o diabo quem nos criou como seres artísticos, políticos, econômicos, sociais, emocionais, etc.. Isso nós lemos nas Escrituras e vemos na vida de Jesus.

Peça, então, ao Espírito Santo de Deus que tê de coragem, que ilumine a sua mente e que encha seu coração de honestidade, empatia e compaixão pra não alienar, iludir ou enganar os membros de sua igreja e, assim, possa dizer ao final de cada etapa de trabalho que realiza o mesmo que Paulo disse:  "Vocês sabem como vivi todo o tempo em que estive com vocês, desde o primeiro dia em que cheguei à província da Ásia. Servi ao Senhor com toda a humildade e com lágrimas, sendo severamente provado pelas conspirações dos judeus. Vocês sabem que NÃO DEIXEI DE PREGAR A VOCÊS NADA QUE FOSSE PROVEITOSO, mas ensinei tudo publicamente e de casa em casa. Testifiquei, tanto a judeus como a gregos, que eles precisam converter-se a Deus com arrependimento e fé em nosso Senhor Jesus." (Atos‬ ‭20:18-21‬).

Pense nisso, meu colega!

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Interesse pelo outro (II) - Filipenses 4:14

“Apesar disso, vocês fizeram bem em participar de minhas tribulações.” (Filipenses‬ ‭4:14‬)‬‬

É comum, diante de nossas aflições, nos empenhamos em solucionar o problema sem ajuda alheia. Admitir a situação adversa e buscar a superação por meios próprios é uma maneira de reafirmar a autonomia. Recusar ajuda, entretanto, não é uma postura adequada. 

Recusar ajuda pode ser sinal de arrogância,  sentimento que não é benéfico nem pra quem está em aflição, nem à construção de relacionamentos interpessoais saudáves. Pior ainda é tratar com desprezo uma manifestaçåo de generosidade. Daí Paulo, embora tenha aprendido a adequar-se a quaisquer situações, reconhecer a importância da solidariedade filipense.

Participar das aflições alheias, ajudando em sua superação, é um ato de bondade. Aceitar a ajuda é uma maneira de valorizar uma ação necessária em sociedades nas quais, por razões que não vem ao caso, se gera cada dia mais pessoas indiferentes a quem está ao redor.