quinta-feira, 29 de setembro de 2016

É hora de partir da Igreja Batista da Graça.SSA


Chegou a hora de partir. Partir, dividir, separar, são palavras que trazem em si uma carga de dor e tristeza. A elas, sempre associamos a ideia de deixar pra trás algo que gostaríamos de levar conosco. Mas, se pudéssemos levar conosco, não estaríamos partindo, apenas seguindo em frente.

Chegou a hora de seguir em frente, partindo.

Aqui chegamos em janeiro de 2005. Não viemos por necessidade material ou de realização profissional. Onde estávamos e o que fazíamos supria suficientemente essas nossas necessidades. Viemos por um impulso que denominamos “chamado”. Viemos por intuir que havia uma missão a cumprir. Viemos por deduzir que o que nos impulsionava era divino.

Para vir pra cá, deixamos pra trás o sonho que milhares, quiçá milhões, de pessoas acalentam – morar nos Estados Unidos -, mas que nunca havia sido sonho nosso. Para lá fomos por entender tratar-se de uma porta que Deus abriu inesperadamente pra nossa família. Olhando para trás, não temos dúvidas de que Deus nos abençoou com aquela oportunidade.

Vamos partir da mesma forma que partimos dos ministérios por onde passamos: por uma decisão interior consolidada e não por falta de condições ou ambiente de trabalho. Nossa filosofia tem sido nunca partir deixando a instituição à qual servimos em situação pior do que a que encontramos. Nunca conseguimos deixá-las em condições ideais, primeiro, porque nossos ideais são nossos e não de todos, muito menos de Deus; depois, por não sermos nem termos a pretensão de ser o protótipo da perfeição. Mas sempre nos empenhamos para deixar o barco em condições de continuar navegando, de preferência melhor do que quando assumimos.

Não podemos, claro, dizer o mesmo quanto aos relacionamentos. Não deixamos todos os relacionamentos vivenciados melhores do que no início. Se há alguma coisa na qual conseguimos imitar Jesus – e ainda assim não pelos mesmos motivos nobres dele – é na capacidade de gerar tensões. Nesse quesito, não há como não sair em desvantagem. Quando chegamos, não tínhamos problemas com ninguém. Agora, saímos desafinados com vários. Ainda bem que, como diria tom Jobim, “no peito dos desafinados também bate um coração”. Enquanto o coração bater, há oportunidade para buscar-se harmonia, mesmo dissonante.

Assumimos a Igreja Batista da Graça cientes de que havia uma crise. A igreja vivia momentos de divisão parcialmente consolidada em mais de uma direção, com 2 de seus 3 pastores de longo tempo, diversos de seus líderes fundadores e dezenas de seus membros tendo partido.

O Centro Comunitário estava sob “aviso prévio” da Visão Mundial, organização responsável por aproximadamente 50% de suas receitas e por quase todos os projetos em desenvolvimento e já existia uma comissão estudando a continuidade ou não da Escola Municipal em suas dependências.

Com esse perfil assumimos seu pastorado e lideramos a igreja por caminhos difíceis. Em alguns momentos parecia-nos que o barco afundaria, mas Deus foi gracioso enviando anjos – seres de carne e osso que se compadeceram e nos ajudaram – e juntos controlamos as fontes de crises político-patológico-espirituais.

Nesse período, além da transição necessária à Igreja e ao CECOM, acabamos nos envolvendo também em um processo de transição na Convenção Batista Baiana durante 4 anos. Da mesma forma, Deus enviou anjos para fazer o que não teríamos competência técnica, política e espiritual para realizar e também sobrevivemos às turbulências.

Podíamos não ter noção da profundidade e natureza dos problemas, mas tínhamos noção de quem nos conduzia, por isso, ainda que por vezes temerosos, enfrentamos os desafios e fomos agraciados.

Sempre que partimos, sabíamos um pouco dos desafios que nos esperavam e sabíamos para onde íamos. Hoje, porém, sabemos apenas que chegou a hora de partir. Não sabemos para onde vamos, nem que desafios nos esperam, mas estamos convictos de “com quem” estamos indo e isso nos anima a seguir em frente.

Não estamos partindo por problemas da ou com a Igreja Batista da Graça. A IBG tem um perfil atípico e uma estrutura organizacional com um grau de complexidade diferente, mas é isso também que faz com que ela seja a igreja abençoadora que é. Partimos por uma consciência de que precisamos de um tempo diferenciado para refazer as energias e por um desejo de perceber com mais nitidez algo que acreditamos ser de Deus, mas que ainda não está claro em nossos corações. Fatos de diversas naturezas vividos nesses 3 últimos meses aprofundaram nossa convicção disso.

Guardando as devidas proporções e pretensões, partimos tendo como norte as palavras “sai da sua terra... e vá para a terra que eu lhe mostrarei”. “Não tenha medo! Eu sou o seu escudo; grande será a sua recompensa”. (Gen. 12:1, 15:1). Hoje não temos nenhuma certeza – o que não é novidade -, exceto de que estamos muito bem acompanhados, assim como a Igreja também continuará muito bem acompanhada.

É hora de partir. Obrigado Deus. Obrigado Igreja Batista da Graça.


Edvar Gimenes de Oliveira e Gláucia Carvalho Gimenes

sábado, 10 de setembro de 2016

Amor a missões, uma senha para o pecado.

Edvar Gimenes de Oliveira

Uma das palavras mais fortemente incentivadas no meio batista é a palavra “amor a missões”. Por ter um significado positivo entre nós e, portanto, trazer consigo um forte elemento de aceitação, de inclusão, todos os que circulam nos meios denominacionais batistas, especialmente pastores e líderes, se empenham para, de alguma forma, associar seu nome à frase “amor a missões”.

Ter o nome associado a esta frase é uma espécie de senha que permite acesso a todos os espaços de poder e prestígio denominacionais. Para conseguir essa senha, basta participar de viagens missionárias; contribuir para algum programa de Adoção Missionária; comparecer a congressos missionários; integrar-se em um grupo de promoção missionária; contribuir financeiramente para uma agência missionária ou, pelo menos, declarar, repetida e publicamente seu “amor a missões”. Isso o tornará uma pessoa recebida com elogios, aplausos até, especialmente entre os que trabalham com organizações que sustentam missionários.

A questão é que isso cria um problema à obra genuinamente missionária, um problema bastante simples. É que enfatizar “amor a missões” leva muitos a colocar a atividade meio acima da atividade fim, a substituir o criador pela criatura e o amor às pessoas no cotidiano pelo amor às empresas que atuam como agências missionárias e aos seus empreendedores.

Não por acaso, conhecemos pessoas que são extraordinárias promotoras de missões, que arrancam leite de pedra em nome de missões, mas também são capazes de arrancar o sangue do seu “irmão” que não se iguala a elas nas prioridades eclesiásticas, nos valores espirituais a serem enfatizados, nas atividades a serem desenvolvidas.



Pessoas que foram ensinadas a amar missões sem ser-lhes dito que “amar a missões” não é amar agências missionárias, seus dirigentes e empreendedores, em detrimento do amor a Deus e ao próximo; que para Deus, todo o dinheiro que é levantado por “amor a missões” sem o correspondente amor – que se manifesta em respeito - ao próximo no cotidiano de nada vale.

Não há na Bíblia uma só recomendação para que amemos missões.

A recomendação é, primeiro, que amemos a Deus sobre todas as coisas e, depois, ao próximo como a si mesmo. Ela alerta: se dissermos que amamos a Deus a quem não vemos e não amarmos ao próximo, a quem vemos, somos chamados de mentirosos. Isso, mesmo que em alto e bom som, através de atitudes, palavras ou ações, declaremos “amor a missões”.


Observe que nem estou falando do paradigma errado que define missões como multiplicação de igrejas. Estou enfatizando que, se queremos mesmo que a frase “Jesus transforma” seja eficaz, é essencial deixarmos claro que nosso trabalho missionário é fruto, primeiro de nossa resposta ao amor de Deus por sua criação e, depois, do nosso desejo de amar nossos semelhantes – aqueles que estão próximo de nós no dia-a-dia - , a fim de que sua vida – não só sua alma no futuro – seja afetada, em todas as dimensões, já a partir deste tempo presente, pelo amor de Deus manifesto em nós e através de nós.

Um incentivo missionário à multiplicação de igrejas sem a devida compreensão e consciência de que o fazemos por amor às pessoas, desejando que suas vidas, em todas as áreas, sejam envolvidas pelo amor de Deus, faz com que multipliquemos organizações eclesiásticas que mascaram as injustiças e os desamores presentes em corações de pessoas que declaram amar missões, mas agem como se não amassem o senhor das missões, nem as pessoas que são o alvo do amor do senhor das missões.


É um pecado terrível pensar que estamos ensinando uma nova igreja a ser missionária pelo fato de a ensinarmos, primeiramente, a dar ofertas para agências missionárias, desde a sua organização, sem que ela -  a novel igreja - esteja consciente e livremente convertida à crença de que dar oferta é uma, dentre “N” manifestações do amor de Deus que podemos e devemos demonstrar às pessoas em suas mais diversas necessidades.


Não ensinemos pessoas a “amar missões”, isso é pecado. Que nós as ensinemos a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmas; que todo investimento feito como manifestação de amor pelas pessoas é investimento missionário, inclusive investimentos financeiros que visam sustentar pessoas ou agências missionárias com o objetivo de, através delas, tornar real nosso amor pelo semelhante como um ser integral em suas múltiplas dimensões.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Fim de uma etapa - Desligamento do pastorado da Igreja Batista da Graça.SSA

À Diretoria da Igreja Batista da Graça, SSA.
CC Conselho Diretor e Fiscal

Prezadas irmãs e irmãos,

“Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: ... tempo de calar e tempo de falar ... tempo de lutar e tempo de viver em paz.”
‭‭(Eclesiastes‬ ‭3:1, 7-8‬)

Através desta, comunico minha saída do pastorado desta Igreja, a partir de 6 de outubro de 2016, conforme anúncio feito oralmente ao Conselho Diretor na reunião dessa quarta-feira, 7 de setembro de 2016.

Tenho buscado, juntamente com Gláucia Gimenes, a orientação de Deus para  nossas vidas e entendemos necessitar de um tempo, sem cargos institucionais, para enxergar com mais clareza outros caminhos que Deus está abençoando para trilhar neles.

Somos muito agradecidos a Deus por nos ter dado o privilégio de caminhar com tantas pessoas comprometidas com seu evangelho nesses quase 12 anos no pastorado desta igreja.

Desejamos muito que Deus ilumine a mente e sensibilize o coração de cada membro, especialmente de cada líder, a fim de que encontrem a pessoa adequada às necessidades espirituais e aos desafios institucionais desta igreja.

Levaremos conosco as boas lembranças desta oportunidade de servir a Deus com cada irmã e irmão.

Fraternalmente em Cristo,

Edvar Gimenes de Oliveira e Gláucia Carvalho Gimenes.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Os batistas e a liberdade de pensamento e expressão

Todos - inclusive, portanto, nós batistas e especialmente nós seus líderes - enchemos os pulmões quando dizemos que defendemos a liberdade de pensamento e de expressão - mas silenciamos e até articulamos - passiva e ativamente - contra aqueles que, quando se expressam, incomodam nosso status quo.

Digo incomodam nosso status quo, pois até quando defendemos uma doutrina, um pensamento, no fundo estamos defendendo um segmento ao qual nos unimos e nos subordinamos intelectualmente, porque nos interessa fazê-lo.

O uso de expressões como "estou defendendo o evangelho" ou "estou defendendo a Bíblia" é apenas uma forma de impressionar e até coagir os que divergem do nosso pensamento, pois o evangelho e a Bíblia não precisam de defensores. Eles - o evangelho e a Bíblia - se sustentam por sua própria natureza e a história está aí pra comprovar. Nenhuma mensagem ou livro sofreu e sofre tanto ataque quanto o evangelho e a Bíblia, mas, a despeito disso, estão aí mais vivos do que nunca, não por causa dos pseudo-defensores, mas porque a mensagem, em seu espírito, produz vida.

Os que se dizem "em defesa da fé", na verdade são defensores de uma ideologia que utiliza a força da religiosidade sobre o ser humano para se impor.

O evangelho e a Bíblia não precisam de defensores, mas de humildes e amorosos seguidores. Nisso está sua força.