segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A hora da Ave Maria

As ruas eram de barro
Algumas de paralelepípedos
As casas de madeira
As cercas de balaustres
O homem carregava uma vara nas mãos
A noite começava a chegar
De poste em poste ele acendia as luzes
As luzes eram amareladas
O prato que as abrigava era branco
Na base dos postes nos assentávamos para conversar
Em um rádio qualquer dos poucos existentes
A música começava a tocar
Os ponteiros do relógio ficavam na vertical
A terra e o céu se conectavam
O sino do relógio da rodoviária batia seis vezes
E em cada canto da cidade se ouvia
A hora da Ave Maria
A voz pausada e grave dizia:
"Ave Maria cheia de graça
Bendita sois vós entre as mulheres
Bendito o fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, mãe de Deus,
Rogai por nós os pecadores
Agora e na hora de nossa morte
Amém"
A música terminava
Uma espécie de melancolia dominava o coração
A vida continuava...
Todo dia a reza acontecia
Todo dia se ouvia esta bela melodia.
http://youtu.be/RNxz_sUEHLc

domingo, 8 de novembro de 2015

Internet, a democracia da informação


Ouve um tempo em que 
A televisão
A revista,
O jornal
E o rádio
Eram deles.
Eles diziam o que queriam
E seus amigos se alegravam
Pois deles nada de mau eles informavam.

Só diziam coisas boas de si e dos amigos.
Dos outros,
Dependendo de quem eram,
Dependendo do que pretendiam,
Só diziam coisas más.
Assim, 
Seus ingênuos ou interesseiros amigos
Os achavam maravilhosos
E odiavam todos os seus inimigos.

Mas, então, surge uma tal de tecnologia
Que possibilita o principal na democracia:
A livre veiculação da informação.
Não só daquela que eles queriam
Mas também e sobretudo da que escondiam
Pois a liberdade que eles defendiam
Era só da informação que não os ofendia,
Da informação que aos adversários obscurecia.

De repente tudo começa a mudar
Eles dizem A
Vamos lá
E também dizemos nosso A
Tentam impor suas verdades
Vamos lá
E contrapomos com as nossas.

Então eles e seus coniventes amigos
Desesperados pela inevitável perda de poder
Apelam para o preconceito de cor
Pela perda do poder de manipulação
Chamam de marron toda mídia
Que tira de suas mãos
Aquilo que é mais precioso em uma relação:
O livre trânsito não só daquela notícia que interessa,
Mas a transparência em todo tipo de informação.


sábado, 7 de novembro de 2015

Minhas dúvidas


As dúvidas?
São minhas
Com elas faço o que julgar melhor
Posso guardá-las
Acariciá-las
Abraçá-las
Alimentá-las
Só não quero abandoná-las
Pois elas me fazem companhia
Comigo dialogam noite e dia
E fazem com que eu não me sinta só

Se eu quiser dividí-las,
Eu posso
Elas são minhas.
Mas não pense em querer de mim tirá-las
Pensando com isso ajudar-me
Pois, sem elas, com que irei ocupar-me
Quando tu,
seguindo teu dia-a-dia,
Deixar-me?

Não pense que elas me fazem mal
Que sinto-me infeliz por abrigá-las
Que me sinto inseguro por admití-las
Que tenho medo ou me sinta culpado por não desprezá-las
Não, elas não são uma ameaça à minha vida
Não me causam dor, muito menos feridas
Elas foram por mim incorporadas,
Elas foram por mim absorvidas

Se pretendo contigo dividí-las?
Talvez, mas não sinto necessidade
Nem necessidade das minhas tens
Pois já tens as tuas em teu coração.
Não as abafe,
Não as despreze,
Não as demonize
Dialogue com elas
Torne-as tuas amigas.
Isso te fará sentir-se gente
E sendo gente atrairás pra ti mais gente
Gente capaz de abrigar na mente
Que ter dúvidas
Não é sinal de ser demente
Muito menos de ser descrente.
É tão somente
Prova de que és gente.