segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A hora da Ave Maria

As ruas eram de barro
Algumas de paralelepípedos
As casas de madeira
As cercas de balaustres
O homem carregava uma vara nas mãos
A noite começava a chegar
De poste em poste ele acendia as luzes
As luzes eram amareladas
O prato que as abrigava era branco
Na base dos postes nos assentávamos para conversar
Em um rádio qualquer dos poucos existentes
A música começava a tocar
Os ponteiros do relógio ficavam na vertical
A terra e o céu se conectavam
O sino do relógio da rodoviária batia seis vezes
E em cada canto da cidade se ouvia
A hora da Ave Maria
A voz pausada e grave dizia:
"Ave Maria cheia de graça
Bendita sois vós entre as mulheres
Bendito o fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, mãe de Deus,
Rogai por nós os pecadores
Agora e na hora de nossa morte
Amém"
A música terminava
Uma espécie de melancolia dominava o coração
A vida continuava...
Todo dia a reza acontecia
Todo dia se ouvia esta bela melodia.
http://youtu.be/RNxz_sUEHLc

domingo, 8 de novembro de 2015

Internet, a democracia da informação


Ouve um tempo em que 
A televisão
A revista,
O jornal
E o rádio
Eram deles.
Eles diziam o que queriam
E seus amigos se alegravam
Pois deles nada de mau eles informavam.

Só diziam coisas boas de si e dos amigos.
Dos outros,
Dependendo de quem eram,
Dependendo do que pretendiam,
Só diziam coisas más.
Assim, 
Seus ingênuos ou interesseiros amigos
Os achavam maravilhosos
E odiavam todos os seus inimigos.

Mas, então, surge uma tal de tecnologia
Que possibilita o principal na democracia:
A livre veiculação da informação.
Não só daquela que eles queriam
Mas também e sobretudo da que escondiam
Pois a liberdade que eles defendiam
Era só da informação que não os ofendia,
Da informação que aos adversários obscurecia.

De repente tudo começa a mudar
Eles dizem A
Vamos lá
E também dizemos nosso A
Tentam impor suas verdades
Vamos lá
E contrapomos com as nossas.

Então eles e seus coniventes amigos
Desesperados pela inevitável perda de poder
Apelam para o preconceito de cor
Pela perda do poder de manipulação
Chamam de marron toda mídia
Que tira de suas mãos
Aquilo que é mais precioso em uma relação:
O livre trânsito não só daquela notícia que interessa,
Mas a transparência em todo tipo de informação.


sábado, 7 de novembro de 2015

Minhas dúvidas


As dúvidas?
São minhas
Com elas faço o que julgar melhor
Posso guardá-las
Acariciá-las
Abraçá-las
Alimentá-las
Só não quero abandoná-las
Pois elas me fazem companhia
Comigo dialogam noite e dia
E fazem com que eu não me sinta só

Se eu quiser dividí-las,
Eu posso
Elas são minhas.
Mas não pense em querer de mim tirá-las
Pensando com isso ajudar-me
Pois, sem elas, com que irei ocupar-me
Quando tu,
seguindo teu dia-a-dia,
Deixar-me?

Não pense que elas me fazem mal
Que sinto-me infeliz por abrigá-las
Que me sinto inseguro por admití-las
Que tenho medo ou me sinta culpado por não desprezá-las
Não, elas não são uma ameaça à minha vida
Não me causam dor, muito menos feridas
Elas foram por mim incorporadas,
Elas foram por mim absorvidas

Se pretendo contigo dividí-las?
Talvez, mas não sinto necessidade
Nem necessidade das minhas tens
Pois já tens as tuas em teu coração.
Não as abafe,
Não as despreze,
Não as demonize
Dialogue com elas
Torne-as tuas amigas.
Isso te fará sentir-se gente
E sendo gente atrairás pra ti mais gente
Gente capaz de abrigar na mente
Que ter dúvidas
Não é sinal de ser demente
Muito menos de ser descrente.
É tão somente
Prova de que és gente.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

E eu com isso?

(Gênesis 4:1-16)

  No dia em que  Deus perguntou a ele por seu irmão, uma resposta com aparência de indiferença  foi usada. Indiferença, porém, não era um retrato verídico de sua realidade. Na verdade, suas palavras nada mais eram do que uma cortina de fumaça usada como escudo para mascarar o que de fato ocorreu: ele estava derrotado.



Sim, as palavras são um dos meios mais usados como esconderijo da alma. Cientes de que, como disse Jesus,  a boca fala daquilo que o coração está cheio, acreditamos poder  driblar nossos interlocutores usando-as para enganá-los. Falamos, falamos, falamos, muita vez sem ter consciência de que, agindo como uma espécie de matraca, tão somente queremos abafar algo que grita dentro do nosso coração e não nos deixa  dormir em paz.



Não era exatamente o caso dele. Suas palavras não foram usadas inconscientemente como um grito de socorro. Ele sabia muito bem o que estava dizendo através do que não dizia.



O não dizer também pode retratar uma tentativa de colocar a alma em uma caverna. O não dizer, nesse caso,  parece ser ainda pior do que o dizer porque ele se esconde numa aparência de sabedoria. Quem nunca ouviu falar que Deus nos deu dois ouvidos e somente uma boca, justamente para ouvirmos mais do que falar? Quem nunca ouviu dizer que freio na língua é sinal de sabedoria? Então, ficar calado, ouvir longa e pacientemente em silêncio, em  vez de sinal de sabedoria, de maturidade,  também pode ser nada mais nada menos do que estratégia de guerra para proteger-se do vozeirão que insiste em incomodar o coração anunciando de forma insistente, inconveniente até, nossa fuga.



Não foi esse o caso dele. Como disse, ele preferiu usar palavras ao silêncio, na tentativa de esconder seu desvio. Dizer que  o erro dele  foi por sentimento de inferioridade, por inveja, pela necessidade de poder, etc,  seria especulação, útil,  talvez, como instrumento de retórica visando encontrar, por acaso, uma cabeça na qual a carapuça pudesse servir. De objetivo, o que temos é que ele estava insatisfeito.



Deus sabia de sua insatisfação e, por amá-lo, apontou o caminho para vencer-se a si mesmo em vez de transferir a culpa de  suas dores ao seu irmão. Foi tão gracioso com ele que até mostrou as consequências de buscar um caminho alternativo que não o levaria diretamente ao ponto. Mas, a história infelizmente prova, ele preferiu desconsiderar as palavras de Deus, agir segundo a enfermidade de sua alma, pensando que conseguiria liberta-se do sufoco que seu coração amargurado lhe impunha.



Não atentou, porém, para o fato de que “nada há encoberto que não venha ser descoberto” como disse Jesus e, pior, acreditou que pudesse esconder-se atrás de palavras.



Mais forte, porém,  do que suas palavras,  era o clamor do sangue de seu irmão. Irmão que foi usado como bode expiatório quando quem precisava de expiação era ele. Justamente ele  que ouviu de Deus o caminho da expiação,  mas preferiu não dar ouvidos. E por ter escolhido o caminho errado tornou-se vítima de maldição. Não maldição imposta por Deus, mas maldição imposta por sua desobediência  ao caminho apontado por Deus para o seu problema.



Quem é ele? Qual era o problema dele? Como deveria ter  reagido à palavra de Deus? Ele tinha algo a ver com isso?



 Talvez ele seja eu e o problema dele, meu. Tenho tudo a ver com isso. Preciso apenas de coragem para  abrir-me à própria verdade  em vez de escondê-la, pois, mais dia, menos dia,  um clamor chegará aos ouvidos de Deus e usar palavras para esconder-me é perda de tempo, prejuízo certo, é um tiro no próprio pé. Melhor é usá-las para revelar-me e assim, libertar-me da maldição de carregar comigo a morte do próprio irmão.

sábado, 24 de outubro de 2015

Escatologia: esperança futura, desejos e necessidades do presente

A linguagem poético-escatológica é um excelente meio de identificação dos reais desejos e necessidades do presente.

O problema é que a esperança escatológica tem sido usada como meio de manutenção do status quo em sociedades demoniacamente injustas e como instrumento de alienação humana e de negação do interesse de Deus pela vida presente.

Não há que se negar a esperança futura, antes ela deve ser o projeto arquitetônico que nos inspira e nos norteia na construção da realidade presente.

Nesse espírito compartilho esta interpretação queniana de um hino da Harpa Cristã.


"No céu não entra pecado
Fadiga, tristeza, nem dor;
Não há coração quebrantado,
Pois todos são cheios de amor,
As nuvens da vida terrestre
Não podem a glória ofuscar
Do reino de gozo celeste,
Que Deus quis pra mim preparar!

Irei eu p'ra linda cidade,
Jesus me dará um lugar,
Co'os crentes de todas Idades,
A Deus hei de sempre louvar.
Do céu tenho muitas saudades,
Das glórias que lá hei de ver;
Oh! Que gozo vou ter,
Quando eu vir meu Senhor,
Rodeado de grande esplendor!

Pagar não é necessário
A casa, que lá hei de ter;
E meu eternal vestuário,
No céu, nunca vai se romper.
Jamais viverei em pobreza,
Aflito no meu santo lar,
Ali há bastante riqueza,
Da qual podarei desfrutar.

No céu o luto é banido,
Enterros não hão de passar;
Sepulcros jamais são erguidos,
Lá mortos não vou encontrar.
Os velhos serão transformados;
Mudados nós vamos ficar.
Quais astros por Deus espalhados
No céu, para sempre brilhar."


sábado, 17 de outubro de 2015

Fé pior do que a do Demo

“Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios creem—e tremem!” (Tiago‬ ‭2:19‬)

Você crê em Jesus?
Por que você crê em Jesus?
Se crê, essa fé faz alguma diferença em sua vida?

Só você pode responder essas perguntas. Então, seja honesto com você mesmo e as responda!

Você pode enganar aos que contigo convivem, aos que você encontra na escola, no trabalho, na igreja...

Até a si mesmo você pode enganar, criando explicações, juntando um amontoado de palavras, fazendo belos discursos que mascaram seus verdadeiros sentimentos.

Mas, a Deus você não engana.

Dou-lhe uma segunda chance. Responda:

Você crê em Jesus?
Por que você crê em Jesus?
Se crê, essa fé faz alguma diferença em sua vida?

De repente veio à minha mente que o Demo é mais crente do que alguns de nós. Tiago diz que ele crê e treme, enquanto alguns de nós diz crer, mas vive imóvel, congelado, indiferente.

Que fé é essa que não produz nenhuma diferença em mim, quando comparado aos que dizem não crer?

Você constituiu família? Todos constituem!

Você estuda? Todos estudam?

Você dirige? Todos dirigem?

Você trabalha? Todos trabalham!

Você vai ao Shopping? Todos vão!

O que diferencia você dos que assumem não crer?

O que faz sua fé ser melhor do que a do Demo que, pelo menos, "treme"?

Que fé é essa que não te move a separar 2 horas por semana para estar com a família de Deus?

Que fé é essa que não te move a separar um tempo da semana para desenvolver algo pensando objetivamente no próximo e não somente em si mesmo?

Que fé é essa que te move a ter dinheiro para aquilo que te agrada, mas te faz incapaz de dedicar um centavo pelas causas de Deus?

Que fé é essa que te move a usufruir das programações da igreja de Jesus, mas não é capaz de te mover a dar um pouco do seu conhecimento, dos seus dons, do seu tempo, muito menos seu dízimo para que o ministério da igreja se desenvolva?

Que fé é essa que não te s nsibiliza diante de adversidades experimentadas pela igreja que te acolheu, te abençoou e possibilita que você abençoe outras pessoas?

Seja honesto consigo mesmo: que fé é a sua? Se dizendo tê-la, só te vem à mente os benefícios dela para si, se tua fé não te move a nada em favor do Reino de Deus, será que você pode dizer que ela é melhor do que a do Demo?

“Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios creem—e tremem!” (Tiago‬ ‭2:19‬)

Hoje amanheci me perguntando isso.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Aos colegas que estão sofrendo no pastorado

Saudade de um tempo que não volta mais.
As lembranças são boas,
mas insuficientes para aplacar a melancolia.
Tempos de sonhos com a alma ingênua,
sem noção dos corredores,
muito menos dos bastidores.
Tempos em que se sentia as coisas
como elas se apresentavam aos olhos.
A expectativa era o ministério,
A palavra,
A caminhada,
O companheirismo.
Depois nos damos conta
Da instituição
Das leis,
Da estrutura,
Da organização
Das reuniōes,
Da administração
Das ideologias
Das competições
Do poder
Do prestígio
Da vaidade
Da falsidade
De repente o "o que" se distancia do "por quê"
A motivação é substituida pela manipulação
A conveniência engole a convição
E aquilo que era pra ser simples como as pombas
Torna-se astuto como a serpente
E é gente engolindo gente
Em vez de gente acolhendo gente
Nos afastamos do eixo
Nos afastamos uns dos outros
Perdemos o rumo
O sentido
A alegria
Cresce a amargura
A graça se dissolve na desgraça
A amizade se dilui na desconfiança
Perdemos o compromisso
Perdemos a aliança
E nos esquecemos do:

- "Pai, pequei contra os céus e perante ti
Já não sou digno de ser chamado teu filho
Recebe-me como um dos teus empregados..."

- “Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’.”

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Amores e desamores

De repente as comportas se abriram
A explosão foi ouvida à milhas
As ondas se reproduziram em ondas
Não houve como passarem despercebidas
O movimento foi assustador
Uma espécie de atropelamento em massa
Feridas se abriram, sangue foi jorrado
Margens foram se rompendo
Deixando tudo ao redor como que gemendo
A beleza foi amedrontadora
A cena gerou uma mistura de sentimentos
A pele era predominantemente branca
A espuma maravilhosamente brilhante
A força criminosamente destruidora
Uma verdadeira explosão de riso
Uma verdadeira catarse de libertação
A poeira cobria o ar
As marcas ficavam no chão
A terra molhada foi sendo sufocada
O atropelamento deu lugar à caminhada
Um leito foi formado
Um curso começou a ser seguido
As marcas da destruição estavam gravadas
Já nåo se sabia se a beleza do movimento
Se a excitação do som
Se o embaralhar das cores
Compensava os efeitos e os horrores.
Amores e desamores.

domingo, 6 de setembro de 2015

Intolerância religiosa

Nessa quinta-feira, estive falando sobre intolerância religiosa a alunos do ensino médio do Colégio Padre Vieira, SSA, a convite de Luana Chacra. Também falaram naquela tarde, representantes do catolicismo,  candomblé e espiritismo.

Nas origens dos batistas, o valor liberdade de religião, crença e pensamento mereceu defesa. Hoje, para alguns, levantar tal bandeira seria desvantajoso, em face da competição no mercado da fé. 

Na última assembléia da Convenção Batista Brasileira, em Gramado, um orador norte-americano bradou: nós venceremos o islamismo. Fiquei pensando não somente no quanto religião e política andam juntas, mas também no tipo de política (e de religiosos políticos) que escolhemos para parceria. 

Se defendo a liberdade religiosa, mas convido para ensinar numa casa de formação de pastores ou pra falar ao povo batista alguém que não respeita o direito do outro crer ou não crer ou, pior, que trata o outro como inimigo a ser vencido por sua escolha religiosa diferente da nossa, isso indica falta de coerência entre discurso e prática. Nossa prática é o nosso verdadeiro discurso, nossa verdadeira teoria.

Já passou da hora de não apenas levantarmos esta bandeira, mas de agirmos coerentemente com ela. Se nossa fé é de boa qualidade, vivê-la intensamente é suficiente. E para que outros também possam abraçá-la, atacar a fé alheia é totalmente desnecessário. 

Foi-se o tempo de justificar a necessidade de avanço missionário tendo como referência o espaço demográfico ocupado por outras religiões. Isso não é motivação missionária, é guerra religiosa, é disputa de mercado, é despertar instintos animalescos.

Se queremos dialogar sobre nossas diferenças, que isso seja feito em nível respeitoso e não em termos belicosos. Se queremos proclamar nossa fé - isso faz parte da natureza humana e é um direito seu - não há necessidade, para isso, de atacar a do outro. Basta relacionarmos os benefícios individuais e coletivos da mensagem que pregamos e enfatizarmos isso.

Já há motivos demais para violência em nosso país. Se não posso corrigi-los todos, será uma grande contribuição à cultura da paz não alimentar desrespeito religioso em nosso raio de convivência. Religião deve ser instituto de paz, não de violência.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A ceia corintiana

Igreja dividida,
Vinho para embriaguez, 
Ceia subtraída,
Ausência de lucidez.

Gente passando fome,
Irmãos embriagados,
Enriquecidos satisfeitos, 
Empobrecidos humilhados.

Falta de educação, 
Ninguém espera por sua vez,
Encontros que fazem mal, 
Quando deveriam fazer o bem.

Pecado contra a igreja,
Participação sem reflexão
Pecado contra o senhor.
Sinal de morte no coração.

Jesus entra na história,
Não cria cerimonial, 
Não cria formalidade,
Organiza a celebração.

Incluindo solidariedade,
Consciência na comunhão,
Produz Justiça no resultado,
Esperança e vida na proclamação.

Discernimento da finalidade,
Liberdade no coração
Disciplina como igreja,
Povo livre de acusação.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O Plano Unificado da Convenção Batista Baiana e o desenvolvimento de sua igreja

 
O desenvolvimento de qualquer organização (e a igreja não é exceção) passa por dois caminhos, pelo menos: 1) solução dos problemas conhecidos; 2) qualificação e fortalecimento dos fatores que motivam sua existência. 
 
Em relação ao primeiro, podemos citar alguns exemplos: 1) se há reclamação quanto ao uso do dinheiro, que se adote transparência e se aumente a participação na definição de prioridades; 2) se há conflitos de relacionamento, que se trabalhe o caráter das pessoas ou se adote medidas que possibilitem critérios claros de justiça na distribuição de atribuições que conferem poder dentro do grupo; 3) se as estruturas patrimoniais são inadequadas à finalidade, que sejam reformadas e devidamente ajustadas. 
 
Quanto ao segundo, é essencial que se escreva qual é a finalidade da organização e o que precisa ser feito para que ela seja alcançada. 
 
No caso de uma Convenção Batista, suas finalidades básicas são: 1) gerar cooperação visando plantar igrejas saudáveis e 2) oferecer condições para que as igrejas cooperadoras se desenvolvam saudavelmente. O crescimento numérico é importante, mas deve ser decorrente da saúde da igreja e não fruto de "pedalada" ministerial. (entenda-se por "pedalada" qualquer tipo de ação que cria uma impressão de que tudo está bem, quando não está). 
 
Um exemplo bíblico de "pedalada" pode ser lido em Atos 21:20-25. 1) Paulo é recebido com alegria pela igreja de Jerusalém (V 17); 2) Tiago e os líderes apreciam o relatório de Paulo (V 19); 3) Tiago fala do crescimento numérico da igreja de Jerusalém (V 20); 4) Tiago antevê os problemas que a presença de Paulo causaria e propõe que ele adote uma política de boa vizinhança com os judeus, fazendo concessões ao legalistas (V 21-25); 5) Paulo age de acordo com a orientação deles, seguindo a filosofia do "fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei" (V. 26); 6) Paulo, mesmo assim, não escapa de uma boa surra (V 27-36). 
 
O que vemos aí? Uma igreja que se acomodou ao crescimento numérico e à aceitação social, sacrificando o essencial do evangelho que são a manifestação da graça de Deus e da liberdade amorosa conquistada em Jesus Cristo. Crescimento numérico que não é decorrente da qualidade sincera do caráter dos crentes e de suas palavras e ações no mundo, sem falsos moralismos, é "pedalada" ministerial e precisa ser repensado. 
 
Pensando assim, defendemos que o anseio missionário por envio de obreiros ao campo e por plantação de igrejas jamais pode ser separado de investimento concomitante em educação cristã, formação teológico-ministerial e responsabilidade social. Ter visão missionária é desenvolver a compreensão de que não há como enviar obreiros aos campos se as igrejas não forem saudáveis e se seus pastores não forem bem preparados. Técnicos em multiplicação de igrejas serão capazes de construir currais de ovelhas, mas incapazes de compreender o ser humano, dialogar com ele e plantar igrejas capazes de exercer o papel amoroso de sal da terra e luz do mundo. 
 
Nesses últimos anos nos empenhamos, como lideranças batistas, para: 1) sanear a administração e as finanças dos órgãos executivos e auxiliares e da Secretaria Geral da Convenção; 2) reestruturar as relações políticas definindo com clareza a finalidade e atribuições de órgãos e seus cargos nos estatutos; 3) Buscar uma melhor comunicação e transparência dos órgãos e da Secretaria Geral para com as igrejas cooperadoras; 4) elaborar as Assembléias Anuais de tal maneira que se tornem fonte de capacitação, inspiração e fortalecimento da comunhão; 5) manter uma política de visitação às associações e igrejas que nos tornem sensíveis às suas necessidades. 
 
Agora, queremos elaborar um Plano Unificado - plano que envolve os órgãos executivos (CBTE, EBKW, STBNE) e auxiliares (ADBB, AECBA, AMUBAB, ARI, JUBAB, OPBB, UFMBB, UMHBB), bem como a Secretaria Geral e suas gerências (Administração, Comunicação, Educação Cristã, Expansão Missionária e Responsabilidade Social) - visando definir um norte, sempre para um horizonte de dois anos. 
 
Para isso, precisaremos de sua ajuda, respondendo-nos duas perguntas: 
 
1) Que problemas relacionados à Convenção Batista Baiana, segundo sua percepção, precisam ser corrigidos com urgência?
2) Que necessidades sua igreja tem que poderiam ser supridas com o apoio dos batistas da Bahia? 
 
Nessa segunda, pedimos que relacione os pontos que julga deficientes em sua igreja nas áreas de: 1) Administração (pessoal, patrimônio, finanças, organização, formatos de reuniões, organização de eventos, estatutos e Regimento Interno...); 2) Adoração (elaboração de cultos, seleção de hinos e cânticos, composição, execução instrumental, ensaios de grupos e corais, solos...); 3) Comunhão (recepcionistas e introdutores, visitação, elaboração de programas para dias especiais (das mães, dos pais, do pastor, da esposa do pastor, dos namorados, de aniversário...) 4) Educação Cristã (trabalho com crianças, adolescentes, jovens, adultos (mulheres ou homens), família, EBD, conteúdos, liderança...); 5) Educação teológico-ministerial (interpretação da Bíblia, preparação de mensagens, conhecimento da história e identidade dos batistas, regras parlamentares...); 6) Proclamação (testemunho amoroso, evangelização individual, campanhas para levantamento de ofertas, viagens e manutenção de frentes missionárias...). 
 
Se sua igreja não necessita de apoio externo, coloque-se à disposição para abençoar as que precisam, abrindo as portas para receber estagiários de outras igrejas, nas áreas que ela mais se destaca ou que está fazendo algo diferenciado. 
 
Ajude-nos a elaborar um Plano Unificado que atenda as necessidades das igrejas, respondendo as perguntas acima e enviando-as por e-mail para diretoria.cbba@gmail.com ou por carta, à Secretaria Geral, até 30 de agosto. 
 

Ajude-nos!

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O Dia do País - A propósito da operação “lava jato” e suas consequências


Gostaria de usar a expressão “Dia do País” no sentido de um momento especial do tipo “Dia D”, para expressar um desejo que cresce no coração de muitos brasileiros de que estamos vivendo perto de um tempo que poderá ser lembrado como divisor entre duas partes da história do Brasil: a da corrupção desenfreada e a da punidade ou, se preferirem, punibilidade.

Digo isso reconhecendo em mim um grau tal de credulidade que beira a ingenuidade. Porém, exceto se houver uma extraordinária virada de mesa – fato que não ocorreria sem consequências traumáticas imprevisíveis e incalculáveis – os fatos nos levam a crer que estamos vivendo algo nunca visto antes na história do país: corruptores e corruptores do topo das pirâmides indo pra trás das grades.

Disse corruptores e corruptores porque da maneira como os fatos estão sendo narrados, ainda não consigo definir quem subornou quem. Não sei se os empresários das grandes construtoras subornaram políticos partidários ou se políticos partidários subornaram empresários. O fato é que ambos - e de quebra os que tiraram sua “casquinha” dessa “relação incestuosa” – não apenas institucionalizaram, profissionalizaram, sistematizaram os processos de corrupção causando prejuízos às empresas, mas também provocaram um quadro político de instabilidade tal que todos estamos pagando de maneira explícita os prejuízos.

Creio que a grande decisão agora gira em torno de ganhar a curto ou a longo prazo.  Se nossa visão for de curto prazo, optaremos por colocar panos quentes, minimizando a gravidade do que está ocorrendo; se for de longo, enfrentaremos as consequências da situação atípica que vivemos acreditando que, havendo punição severa, exemplar e aproveitando a oportunidade para efetuar mudanças na legislação, poderemos alcançar dias melhores nesse aspecto da caminhada nacional.

Sem deixar de reconhecer que nenhum de nós é perfeito, que todos somos pecadores, sou da opinião que onde não impera nem se defende princípios éticos, seja por consciência ou imposição legal, falta um dos pilares essenciais à qualidade de vida em qualquer grupo que é a credibilidade. Sem relações caracterizadas por credibilidade a vida é um inferno.

Claro que, diante da crise, uns se posicionam politicamente, procurando perder menos poder; outros economicamente, na expectativa de manter seus ganhos financeiros, mas, repito, se relevarmos a importância da ética, todos perderão infinitamente mais.

Estou entre os que desejam este “Dia do País”, entre os que, mesmo não tendo influência significativa nas decisões que norteiam a vida nacional, acreditam que na força de cada um somos capazes de fazer diferença. Não apenas a força do desejo, mas o uso consciente das mídias, a aplicação correta dos conhecimentos técnicos no círculo de influência e a disposição para pagar algum preço em favor de dias melhores para todos.

Nesse contexto temos duas oportunidades que não devemos perder:
1. Participar da manifestação do dia 16 de agosto sem se deixar dominar pela ideologia ou interesses deste ou daquele partido político. Creio que devemos focar no combate a corrupção, venha de onde vier, e exigir do Congresso Nacional, a aprovação de reformas políticas que eliminem, por exemplo, o financiamento de campanha por empresas. Então, saiamos às ruas neste dia 16 de agosto;
2. Participar efetivamente do levantamento de um milhão e quinhentas mil assinaturas para o projeto “10 medidas contra a corrupção”. Para isso, entre no site do Ministério Público Federal: http://www.combateacorrupcao.mpf.mp.br/10-medidas, imprima a folha lá disponibilizada, colha o máximo de assinaturas possível e siga as demais instruções.


Sei que o tema, bem como essas duas sugestões têm algum grau de controvérsia, mas o que não podemos é deixar de agir, ficando “à toa na vida”, vendo “a banda passar”. Lembremo-nos das palavras de Jesus: “vós sois a luz do mundo... vós sois o sal da terra”

O Brasil à beira de um abismo?

Nessa semana um profundo sentimento de que o pior poderia acontecer em nosso país começou a invadir meu coração. Lembrei-me de que a Ucrânia vivia em paz, mas no momento em que resolveu-se tirar um presidente corrupto, o país desabou e entrou em guerra que até hoje não cessou.


Difícil pra nós pensar em guerra por razões políticas, mas a possibilidade de uma guerra civil é maior, talvez, do que estamos calculando. 

1) Grandes empresários estão sendo presos e há muitos outros mais do que imaginamos com as barbas de molho;
2) Políticos que ocupam ou ocuparam os principais cargos em nível nacional ou estadual estão com os dias contados para responder em juizo por seus maus feitos, com grande probabilidade de serem presos;
3) A presidente tem o mais baixo índice de popularidade das últimas décadas, portanto não tem credibilidade;
4) A economia está parando;
5) A inflação corroendo salários;
6) Os juros voltando a patamares indesejáveis;
7) Os indicadores de desemprego aumentando;
8) O dólar subindo num sinal de que investidores estão em estado de alerta.

Ontem, após ver a capa de uma revista semanal, pensei em mudar a foto do meu perfil no Facebook, pra chamar a atenção dos meus amigos. Independente da ideologia da revista ou da veracidade da notícia, ela serve par nos mostrar que chegamos à beira do abismo.

Por uma questão de coerência, se o juiz Sérgio Moro receber delação de Leo Pinheiro, da OAS, nos termos que a Revista publicou, ele não terá outra opção senão a de fazer o que fez até aqui: prender preventivamente. Sabe o que isso significa se Lula for preso?

Entendo que, se ele tiver culpa no cartório deve mesmo ser preso, como devem ser presos os dos outros partidos na mesma situação,  mesmo que não haja - e não haverá - cela suficiente, pois a lei é para todos. Mas ninguém é tão ingênuo a ponto de pensar que não haverá uma ida às ruas com manifestações violentas.

Sim, vislumbrei a possibilidade de uma guerra civil, daí a mudança de minha foto no perfil do Facebook.

Ao ler há pouco um texto de Cristovão Buarque, n'O Globo, constato que o sentimento começa a ser público. Alegra-me quando ele diz: "Ainda é tempo de evitar a tragédia e o desastre, mas esta ideia parece ingenuidade diante da nossa incapacidade como líderes nacionais. Neste momento, a culpa é de todos nós, por não estarmos à altura do desafio histórico do momento. E se não encontrarmos uma saída negociada, o povo na rua convocará por cima da Constituição uma eleição geral antecipada, com impeachment de todos."

Os desfecho apresentado por ele é mais otimista do que o meu.

Creio que já passou o tempo de ficarmos como expectadores admirados diante de cada notícia de mais uma descoberta e de mais uma decisão séria do Poder Judiciário. 

Creio que já passou a hora de ficarmos discutindo quem é mais ou quem é menos culpado. 

Creio que já passou a hora de ficarmos comentando que o Brasil está em crise. 

A hora é de assumirmos, ainda que atrasado, que o problema é meu e seu e todos sofreremos duramente se não for encontrada uma saída negociada, com reconhecimento de erros, com aceitação de punição para todos e não apenas para os do partido adversário ao nosso.

É hora das igrejas redobrarem as orações e os compromissos de ser sal e luz em meio a tão densas trevas, a fim de que o povo que está em trevas possa ver uma grande luz e superemos mais este momento difícil de nossa história.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

A antiga questão do dízimo


Vez por outra sou procurado para esclarecer a questão do dízimo, por isso, também vez por outra, trago de volta o tema, como agora.

Meus pais tiveram 8 filhos. Até certo tempo somente ele trabalhava fora e minha mãe dentro de casa, inclusive como costureira. No período da colheita do café, ela não tinha nenhuma dificuldade de aproveitar a oportunidade para aumentar a renda familiar. Levava os filhos com ela e, pela ajuda deles, lhes dava alguns trocados no sábado. Não era exploração de trabalho infantil, era pedagogia materna.

Quando o salário chegava, a primeira coisa a ser feita era separar o dízimo. Meu pai, então, distribuía o valor em nome de todos nós nos registros da igreja. Pedagogia paterna.

Quando, aos 15 anos, recebi o primeiro salário – meio salário mínimo - do meu primeiro emprego, comuniquei-lhe que compraria um violão e um “toca-disco”.  Ele concordou, mas disse: não se esqueça  de separar o dízimo.

Conto isso pra dizer que ser ou não ser dizimista não tem a ver com riqueza ou pobreza, mas com compromisso, generosidade, aprendizado e disciplina.

Aprendi assim e nunca mais parei. Separo 10% já na planilha orçamentária. Calculo as  despesas familiares sobre os 90%. Em situações adversas, até já arrisquei a usar o que não considerava meu, mas enquanto não devolvia, me sentia “caloteiro”. 

Cada um se sente de um jeito. Meu sentimento tinha a ver com minha concepção. Pra evitar tal sentimento, comecei a aprender a administrar e continuo aprendendo. Didaticamente defino que o que é para meu sustento  é meu, o que é para investir no Reino, a Deus pertence. 

Aprendi também a analisar minhas motivações, minhas necessidades e a estabelecer uma escala de valores. Decidi que jamais contaria com  100% do salário em meus projetos de despesas ou investimentos e a dizer não a mim mesmo, sempre que necessário fosse ou sempre que a tentação surgisse.

Cresci. Acabei com alguns dos sentimentos e motivações equivocados, mas continuo convicto de que 10% é o mínimo que devo dedicar a causas específicas do Reino de Deus, desenvolvidas pela igreja. 

Quando me perguntam se o dízimo é bíblico, minha resposta é simples: claro. Está presente nas páginas do primeiro e do segundo testamentos. Quanto à interpretação teológica dos textos, cada um que avalie seus sentimentos, pensamentos e valores diante de Deus e decida. Quem quiser continuar sendo legalista e dando rigorosamente 10%, que continue. Quem quiser ser gracioso e dar 90% ficando com apenas 10%, é livre. Quem quiser ser avarento e apenas usufruir sem contribuir com nada, que o faça. Enfim, cada um dará conta de si mesmo a Deus.

Importante é lembrarmo-nos de que ninguém é tão pobre que não possa contribuir e que, na matemática de Deus, duas moedas dadas com dedicação valem mais do que muitas dadas sem representar qualquer sacrifício ao doador, como nos ensina Jesus no episódio da viúva pobre (Lc. 21:1-4). 

Lembremo-nos também das palavras de Jesus quando diz: “Mais feliz é quem pode dar do que quem precisa receber” (At. 20:35). 

Lembremo-nos, finalmente de que mais feliz ainda é quem desenvolveu a firme confiança de que “o Senhor é o meu pastor e nada me faltará” (Sal. 23:1). 

Até aqui minhas necessidades foram supridas e os obstáculos financeiros superados e nunca precisei vender minha alma.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

92ª Assembléia da Convenção Batista Baiana, a Assembléia do Afeto


Então tomou Samuel uma pedra, e a pôs entre Mizpá e Sem, e chamou-lhe Ebenézer; e disse: Até aqui nos ajudou o Senhor. (I Samuel 7:12)


Estamos em plena campanha de Missões Estaduais e nada melhor do que poder informar que a instituição responsável pela manutenção dos missionários, que nos motiva a levantar uma oferta neste mês de julho, está vivendo um momento singular.

 

Digo momento singular porque há vários anos a tensão vinha caracterizando a vida das assembleias anuais da Convenção Batista Baiana, seja por divergências doutrinárias em função do G12, seja por diferenças de posicionamentos políticos frente a dificuldades administrativo-financeiras.

 

Geralmente, quando uma instituição experimenta momentos de crise, não se pode apontar uma única razão ou muito menos uma única pessoa como sendo responsável pelo quadro. Sempre há um contexto que inclui uma diversidade de atores e fatores, com maior ou menor evidência, que contribuem para isso.

 

O fato é que podemos afirmar que o ocorrido na última Assembléia de Ipiaú, nos coloca numa situação de alegria. Depois de muito tempo, tivemos uma Assembléia na qual não ocorreu  manifestações públicas de desafeto. As diferentes opiniões manifestas em torno dos assuntos se deram em clima de respeito e as decisões, quando não houve unanimidade, teve o voto da maioria aceito sem contestações.

 

A que isso se deveu? As causas são múltiplas e podemos destacar algumas:

 
                                                                                          By www.giroemipiau1.com.br
1.  A qualidade dos estudos bíblicos matutinos;

2. A oferta de oficinas nas quais temas de interesse da maioria dos mensageiros foram abordados;

3. A quantidade e qualidade de mensagens musicais de boa qualidade, apresentadas por solistas, quartetos, corais ou mesmo cantadas congregacionalmente;

4. O espaço adequado para receber as reuniões diurnas e noturnas;

5. O empenho da igreja hospedeira e dos batistas de Ipiaú no sentido de oferecer estruturas adequadas às necessidades dos mensageiros;

6. A dedicação da equipe da Secretaria Geral em organizar tudo com antecedência e o empenho na execução de cada tarefa;

7. A seriedade dos dirigentes de órgãos executivos e auxiliares, bem como da Secretaria Geral, na administração das organizações sob suas responsabilidades, mantendo e aperfeiçoando o foco de suas finalidades institucionais, com equipe de pessoal comprometida, equilíbrio financeiro, rigor quanto a documentação contábil, cumprimento de prazos das tarefas e cuidado com o patrimônio denominacional;

8. O trabalho dos dirigentes dos órgãos executivos e auxiliares, bem como da Secretaria Geral e Conselho Fiscal, no sentido de apresentarem relatórios transparentes retratando a realidade do que está ocorrendo com as instituições, sem deixar de reconhecer publicamente eventuais dificuldades existentes;

9. A dedicação de um Conselho Fiscal independente que se reuniu semanalmente para examinar documentação e avaliar a situação contábil e financeira das instituições;

10. O empenho da Diretoria, Secretário, Conselho Geral e lideranças associacionais na identificação de problemas e busca de soluções.

 

Hoje, os órgãos executivos e auxiliares, bem como a Secretaria Geral da Convenção não têm dívidas externas. Os compromissos financeiros estão sendo administrados com cuidado, pois há casos que merecem atenção especial e a Secretaria Geral dispõe de liquidez adequada às previsões de médio prazo.

 

O Seminário de Feira está trabalhando na transformação do seu patrimônio em recursos financeiros sem desfazer-se dele.

 

Não há perspectiva de venda de patrimônio para pagamento de dívidas externas e os casos que estão sendo estudados como investimento e foram autorizados pela Assembléia – terreno em Porto Seguro, parte do pertencente ao CENTRE e ao CBTE - são propriedades que não fazem parte de visão estratégica de longo prazo.

 

Os recursos financeiros oriundos de vendas serão usados exclusivamente para investimentos de interesse dos batistas, após processos transparentes e democráticos, tais como requalificação do Acampamento Batista, requalificação das edificações existentes no Colégio Batista Taylor-Egídio e construção de edifício para funcionamento da Escola Batista Kate White, Seminário Batista Campus Salvador, Escritório das organizações, com estacionamento, livraria e lanchonete.

 

Com as ofertas para Missões Estaduais deste semestre, planejamos abrir pelo menos 10 novas frentes missionárias. As organizações auxiliares estão recebendo apoio dos dirigentes da Convenção na realização de seus eventos e um Plano Geral será preparado neste semestre.

 

Cremos que tudo isso, somado, sobretudo à boa vontade dos mensageiros, contribuiu para que a última assembleia pudesse ser chamada de assembleia do afeto. E assim desejamos que continue pelo menos no que depender do nosso empenho.

 

 

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Convenção Batista Baiana - Carta de Ipiaú

CARTA DE IPIAÚ

As Igrejas Batistas da Bahia, reunidas em sua 92ª Assembleia da Convenção Batista Baiana, na cidade de Ipiaú, nos dias, 30/06 a 04/07, fazem uma declaração pública em resposta ao cenário de intolerância vivido em nosso país.

SOBRE O CENÁRIO CONTEMPORÂNEO

O Brasil está vivenciando um período crítico extremamente preocupante: crise econômica e política, falta de um projeto político nacional, falta de estadistas, lideranças políticas medianas, falta do senso de bem comum e a prevalência dos interesses pessoais e privados sobre o interesse comum.

Há tensões de toda ordem: gênero, gerações, étnicas, regionais e religiosas que tem produzido toda forma de violência, inclusive homicídios. Há violências, conflitos sociais, étnicos, abusos de drogas. O medo parece comum e a resposta violenta que imponha mais medo parece a resposta mais óbvia e a única solução. Exemplo mais visível dessa cultura de imposição de uma força mais bruta e de mais violência é a proposição da redução da maioridade penal no Congresso Nacional.

Lideranças, inclusive religiosas, incitam a agressão, o fundamentalismo, o fanatismo, o ódio, a demonização do outro. As religiões muitas vezes são utilizadas para obtenção de poder econômico ou político, desviando-se completamente do seu propósito original.

Vivemos, no Brasil, numa jovem democracia. A redemocratização política tem menos de 30 anos.  Ainda há necessidade de políticas públicas de gênero e etnia num claro reconhecimento de que há ainda desigualdades entre pessoas de gênero e etnias diferentes, ou seja, ainda não vivemos uma democracia plena, madura.

Num Estado democrático religião é assunto do indivíduo e seu Deus e não do Estado. A jovem democracia brasileira só passa a experimentar essa realidade a partir da década de 50 do século XX e só chega às religiões mais excluídas na metade da década de 70, quando deixa-se de exigir das religiões de matriz africana a obrigatoriedade de licença junto às autoridades policiais para realização dos seus cultos. Portanto, também no campo da tolerância religiosa ainda somos aprendizes e por certo temos grandes desafios, mas temos que ter a firme convicção de que não queremos retroceder ao tempo da religião oficial onde os desafetos eram apedrejados e aprisionados.

Todavia, apesar do avanço democrático, há claramente um retrocesso que se revela preocupante.  Há um ressurgimento de preconceitos que julgávamos mortos e sepultados.  A famosa “cordialidade brasileira” parece dar lugar a um espírito beligerante.  Há guerras e intolerância num nível que julgávamos superados.

É bom lembrar que por trás de toda intolerância há sempre disputa de poder. A intolerância é ainda uma das formas de opressão contra os mais fragilizados por sua condição econômica, religiosa, étnica e sexual. A intolerância via de regra, produz um imperialismo social onde o diferente não é tolerado estabelecendo-se uma ditadura.

Diante desse cenário, agravado pela fala de supostos representantes do segmento evangélico, nós os batistas baianos decidimos manifestar publicamente e oficialmente sobre este tema.

CONSIDERANDOS
Os princípios batistas consideram que “cada indivíduo foi criado à imagem de Deus e, portanto, merece respeito e consideração como uma pessoa de valor e dignidade infinita”; que “cada pessoa é competente e responsável perante Deus nas suas próprias decisões e questões morais e religiosas”; que “cada pessoa é livre perante Deus em todas as questões de consciência e tem o direito de abraçar ou rejeitar a religião, bem como testemunhar sua fé religiosa, respeitando os direitos dos outros”.

Diante disso é correto afirmar que cremos que o indivíduo pode se relacionar com Deus sem a imposição de credos, interferência de mediadores ou intervenção do governo civil.

Tendo sido, nós, batistas, vítimas da intolerância e perseguição religiosas ao longo da nossa história de 400 anos, desenvolvemos uma paixão pelo tema da liberdade religiosa.  Já em 1612 foi escrito por Thomás Hellwys o primeiro apelo em língua inglesa em favor da completa liberdade religiosa. Neste documento ele reafirma sua lealdade ao Estado, mas declara o que acredita ser a delimitação do poder do Estado e o princípio da liberdade religiosa para todos os indivíduos: “quer sejam eles heréticos, turcos, judeus ou o que quer que sejam, não compete a qualquer poder terreno puni-los...”.

Os Batistas fundamentaram sua crença na liberdade religiosa em verdades extraídas da própria Bíblia Sagrada. O Deus soberano criou seres livres.  Impedir o uso da liberdade de seres criados à imagem e semelhança de Deus é aviltar a criação de Deus e intentar contra a sua mais sagrada criação. Impor uma religião ou impedir o exercício da fé de alguém é impedir o exercício de uma fé autêntica, visto que esta só é fé se for livre.

Aquele que é o nosso Senhor é Mestre conviveu num mundo semelhante ao atual, permeado por cosmovisões diferentes da sua, tais como gregos, cananeus, discípulos de João e até pseudodiscipulos seus e em diversas ocasiões, mesmo incitado a exterminá-los ou impedir de exercerem a sua fé, recusou-se a fazê-lo: “não sabeis de que espírito sois?” E “não os impeçais”.

Os batistas ensinam que a salvação é pessoal, a fé individual e relacional, não ritual e que a conversão se dá mediante convicção dos próprios pecados, arrependimento e confiança na graça salvadora de Deus, na pessoa bendita de Jesus. Portanto não convém ao Estado, nem mesmo a qualquer religião impor a sua verdade como única.

DECLARAÇÕES

O ser humano deve ser considerado o valor mais elevado da vida (Salmo 8) e disto decorrem quatro declarações:

SOMOS VEEMENTEMENTE CONTRÁRIOS À CULTURA DA VIOLÊNCIA E ADEPTOS DO RESPEITO À VIDA E A CULTURA DA PAZ
Toda forma de violência cometida ou ensejada, mesmo e principalmente, em nome de Deus não apenas é repudiada, mas negada como procedente de Deus que é o autor da vida, reconciliador, que para pacificar a relação com o ser humano foi capaz de realizar o sacrifício supremo de entregar o seu próprio Filho (João 3:16). Dentre as formas de violência descritas genericamente acima podem ser incluídas: ódio, egoísmos, inveja, rancor, discriminações, opressão, indiferença e desrespeito à liberdade do outro.

SOMOS DEFENSORES DA SOLIDARIEDADE E COOPERAÇÃO ENTRE AS PESSOAS
Denunciamos como antidivinas a cultura do egoísmo e toda ordem econômica que destrói os recursos naturais e explora o indivíduo, que alimenta a corrosão social e aumenta o fosso que separa os ricos, cada vez mais ricos, dos pobres, cada vez mais pobres (Isaias 58). Valorizar a pessoa humana como idealizada por Deus implica em construir uma sociedade mais justa e fraterna com uso racional dos recursos naturais, onde os que governam o façam para todos, onde instituições sirvam as pessoas, onde os direitos prevaleçam independentemente do poder econômico dos envolvidos e onde a resistência seja sempre pacífica.  Para isso defendemos em nosso país as grandes reformas estruturais iniciando com uma ampla reforma política, que independentemente do modelo se paute pelos valores acima descritos.

SOMOS FAVORÁVEIS À CULTURA DE PARCERIA E DIREITOS IGUAIS ENTRE OS SERES HUMANOS INDEPENDENTEMENTE DO GÊNERO
Criados à imagem de Deus, homem e mulher são iguais em valor e dignidade. Todavia temos experimentado milhares de anos de exclusão, opressão e dominação injustificáveis e condenáveis de um sexo sobre o outro. Defendemos que a espiritualidade bíblica conduz a uma relação de respeito mútuo, de tolerância, de reconciliação e de amor entre os gêneros.

SOMOS DEFENSORES DA CULTURA DO DIÁLOGO, DA TOLERÂNCIA E DO RESPEITO A DIVERSIDADE
Estamos comprometidos historicamente com a plena liberdade, não apenas a mera tolerância. Queremos e lutamos pela liberdade de todos os indivíduos ou  instituições/religiões, mesmo para aqueles com os quais temos posicionamentos diametralmente opostos. Como disse o pensador: “posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las”. O diálogo é a via humana desejável para o entendimento, mesmo entre opositores ferrenhos.  Dialogar é fundamental para evitar ou resolver conflitos que ameacem a vida em qualquer das suas dimensões e onde a solução não seja possível com a decisão de apenas uma das partes. “Se não conversarmos uns com os outros agora, iremos atirar uns nos outros amanhã”.

O diálogo não produzirá um pensamento uniforme, nem uma religião única, mas possibilitará a coexistência, a convivência e por fim a “diversidade reconciliada” e a diferença suportada.

Bibliografia utilizada direta ou indiretamente

Shurden, Walter B. As Quatro Frágeis Liberdades: resgatando a identidade e os princípios batistas. Recife: MLK-B, 2005. 137p
Moltmann, Jürgen. EXPERIÊNCIAS DE REFLEXÃO TEOLÓGICA: caminhos e formas da teologia cristã. São Leopoldo/RS: UNISINOS, 2004. 295p
Kung, Hans. Declaração do Parlamento das Religiões do Mundo.


Salvador, BA, 4 de julho de 2015

Comissão de redação:
Pr. José Roberto Amorim – relator
Pr. Francicláudio Gomes da Silva
Ivone Santana
Marília Ceo Porto
Pr. Petrônio A. Borges Jr.

Diretoria da Convenção:
Pr. Edvar Gimenes de Oliveira, presidente
Pr. Carlos Cesar Januário, 1º vice
Pr. Edson Carmo da Silveira, 2º vice
Pr. Matheus Guimarães Guerra Gama, 3º vice
Margareth Gerbase Gramacho Fadigas, secretária
Pr. Daniel Costa Pereira, 1º vice
Pr. César Santos de Brito, 2º vice