domingo, 28 de julho de 2013

Com quem estamos brigando?

Não brigamos com conceitos, nem mesmo com o conceito instituição. Conceitos não nos ferem, não nos tornam amargos, não nos agridem, não nos demitem, não nos roubam, não nos depõem de cargos ou funções, não fazem nossas almas sangrar e protestar usando atitudes, palavras ou ações.

Quem nos fere não são os tijolos que recebem o nome de uma instituição, nem suas paredes que abrigam nossas vidas, nem organograma de sua estrutura organizacional, nem o dinheiro por ela angariado, nem a documentação que sustenta sua contabilidade, nem os equipamentos usados para o seu desenvolvimento.

Instituição é, antes de tudo um conceito. Pode  referir-se à família, igreja, escola, empresa com fins econômicos, enfim, mas sem poder em si mesmo para nos transtornar a ponto de reagirmos, de entrarmos em processo de colisão com ela ou mesmo difamá-la usando todos os meios acessíveis de veiculação de sentimentos e pensamentos.

Brigamos, sim, com pessoas. (Separar uma pessoa dos conceitos que a norteiam pode ocorrer apenas para fins didáticos, não na realidade. Idéias sobrevivem quando há quem delas se beneficie). São as pessoas que  nos machucam ao nos marginalizar; ao nos impedir de nos expressarmos; ao não devolver com afeto o afeto que a ela dedicamos; ao sufocar nossa criatividade; ao não satisfazer nossos instintos ou nossos anseios ou não concordar com o modo como queremos expressá-los; ao fazer prevalecer seu modo de perceber, sentir, pensar e agir no mundo sobre a nossa maneira de ser.

Sim, é contra pessoas que brigamos. Pessoas que fazem as intituições. Mas é muito mais fácil, politicamente menos desgastante, reagir atacando a instituição do que enfrentarmos àqueles que efetivamente nos magoaram. É tão complicado reconhecer, publicar o nome, encarar enfim quem nos atingiu que generalizamos atacando ou renegando um conceito que não têm vida autônoma, que se concretiza e se desenvolve somente através de gente.

Tenha certeza. Sempre que vir, ouvir ou sentir alguém atacando um conceito, inclusive o "instituição", acredite: em sua história com tal instituição, provavelmente alguém dela o feriu. Feriu seu orgulho, sua auto-estima, sua imagem, seu nome, seus interesses (legítimos ou não), sua vida...

Quando brigamos com uma instituição e não com quem dela nos fez (faz) mal, ferimos também pessoas que nenhum mal nos fizeram.  O fato de não termos contado com a simpatia ou apoio político da maioria de seus integrantes em defesa de nossa causa, ou não nos enxergarmos no rosto da maioria de seus participantes, justificaria agredir a todos?

Atacar a instituição pode até funcionar como um tipo, digamos, de "catarse", mas não corrige a pessoa  que feriu nossa alma, nem recupera o relacionamento. Discursar contra  uma instituição, além de não atacar o problema em sua origem, ainda tem o efeito colateral, repito, de ferir pessoas que dela fazem parte, mas com quem não tivemos atrito algum.

Isso não é um discurso em defesa de instituição, qualquer que seja. É uma indicação para que identifiquemos quem nos feriu, com quem estamos realmente brigando, a quem queremos de fato atingir, a fim de que resolvamos diretamente com ela nossos problemas.

Foi o pai, a mãe, o cônjuge que nos feriu? Resolvamos com ele, mas atacar a instituição família parece-me um equívoco. Foi um pastor, um padre, um pai de santo, um médium, um diácono, um lider de uma instituição religiosa que nos feriu? Admitamos seu nome, reconheçamos o mal que nos fez, invistamos na cura da amargura que contamina em vez de atacarmos ineficazmente a instituição da qual ele participa ou lidera.

Fazendo isso, não apenas nos libertamos da dor que nos escraviza, que consome inutilmente nossas energias e criatividade, mas também evita que firamos, repito, quem nenhum mal nos fez, tratando-o como "farinha do mesmo saco".

Com quem estamos brigando, só nós mesmos podemos dizer. Se não estamos conseguindo identificar a pessoa que nos fez mal, que procuremos ajuda profissional em busca de cura para nossa alma. Fazendo isso salvaremos a própria vida e aumentaremos significativamente a possibilidade de sermos mais felizes e vivermos melhor com quem nos cerca.

(Em tempo: Já me envolvi em algumas "brigas", umas legítimas outras talvez nem tanto, umas acertadas outras equivocadamente. Não  as procuro,  mas "não fujo à luta" se acredito nos valores  que as envolve, empenhando-me mais em focar o centro do que a periferia dos problemas).

domingo, 14 de julho de 2013

A Convenção Batista Baiana e as manifestações do povo brasileiro nas ruas


Posicionamento da Assembléia Anual da Convenção Batista Baiana reunida em Juazeiro, de 25 a 29 de junho de 2013, sobre as manifestações políticas da população brasileira, naquela semana: 

"1 – Considerando as recentes manifestações pacíficas e ordeiras que tem acontecido em todo o território nacional; 

2 – Considerando que a maioria dos pleitos dessas manifestações são por demais justos e urgentes e dizem respeito a necessidades básicas do nosso povo, como, saúde, educação segurança pública, mobilidade urbana e justiça social; 

3 – Considerando que a insatisfação popular com a corrupção e a má utilização de recursos públicos campeia coincide com a nossa mensagem por justiça; 

4 – Considerando que a reclamação por uma reforma política é um pleito necessário para o bom andamento do país e tem sido um dos gritos das ruas, os Batistas Baianos reunidos em Assembleia na cidade de Juazeiro, Bahia, resolvem: 

1 – Declarar apoio à mobilização popular pacifica e ordeira;

2 – Denunciar que a corrupção é uma prática nefasta que dentre outras
agruras impede a maioria da população, especialmente a menos favorecida, de
ter acesso à serviços básicos com qualidade, como saúde, educação,
segurança, saneamento básico e transporte; 

3 – Declarar que é dever de todos combater a corrupção com veemência, seja aperfeiçoando as leis para que se tornem mais rigorosas, seja colocando o aparato do Estado em prontidão para efetivar o cumprimento dessas leis; 

4 – Reforçar o pedido das ruas para uma reforma política com participação popular;

5 – Repudiar toda forma de violência nas manifestações; 

6 - Declarar a nossa alegria em perceber que o “Gigante adormecido Acordou” e que os nossos jovens acordaram, saíram do marasmo, assumindo a sua vocação à esperança e se motivaram para lutar, visando construir um país mais justo."

(Este documento foi elaborado por convencionais, apresentado à Comissão de Assuntos Eventuais, na forma do Regimento Interno, apresentado à Assembléia e aprovado por unanimidade.)

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Algo estranho no ar


Algo está acontecendo,
há um sentimento no ar.
A gente não vê, 
a gente não ouve, 
a gente não toca, 
mas o coração capta e, 
por mais que palavras não sejam pronunciadas, 
ações, 
gestos, 
e até a ausência deles,
denunciam, 
e o silêncio declara,
eloquentemente, 
que há algo no ar.

Há algo no ar com cara feia.
Rosto invisível,
Homem invisível,
Mulher invisível,
Criança invisível,
Som inaudível
Sentimento perceptível.
Notícia não dada,
Preanunciada,
Já conhecida,
Mas desacreditada.

A alma sente,
Os olhos lacrimejam,
A garganta sofre um nó,
O corpo reage,
Mas parece inevitável.
Há algo acontecendo,
Sua cara é feia,
Bonita,
Triste,
Alegre,
Dolorida,
Prazerosa,
Mas terá que ser enfrentado.
Mesmo não sabendo
Quem é
Porquê é
Por quem é
E carregar consigo 
a certeza de que algo aconteceu.
E alojar, pra sempre,
Uma dúvida,
Nas profundezas do coração,
Destilando seu veneno,
Amargo ou doce, talvez,
Gota a gota.