sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Feliz 2012!

Essencial é não perder a capacidade de sonhar, 
é não enfraquecer a confiança, 
é não perder a esperança, 
é não se iludir com ilusões, 
é não se dobrar às forças do mal, 
é continuar lutando a despeito dos obstáculos.
Feliz 2012!


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Em busca do significado essencial do Natal


O Natal não tem significado único e pode até não ter significado algum. Tudo depende do indivíduo, do contexto sócio-cultural no qual construiu seus pensamentos e sentimentos, bem como do tipo de influência e de como reage a ela no tempo e espaço em que está vivendo.

Mesmo tendo se desenvolvido em sociedades cujos padrões culturais foram influenciados por uma cosmovisão cristã de mundo, seja ela via catolicismos, protestantismos ou pentecostalismos, o significado do Natal não é, necessariamente, igual para todos.
O que há em comum, a despeito do uso que cada um possa fazer da ocasião é o fato dele – o Natal - estar relacionado, primordialmente, ao nascimento de uma pessoa, a pessoa de Jesus de Nazaré.

Ainda que seja inevitável associarmos o Natal ao simbolismo do amor universal, oportunidade de confraternização e troca de presentes, estratégia de marketing e aquecimento da economia, ninguém deveria deixar de conhecer em profundidade àquele que é a causa original da comemoração.

As doutrinas cristãs como conhecidas hoje, nas diversas correntes que mantém algum tipo de vínculo com a história de Jesus, é fruto de uma construção teológica paulatina. Nenhuma delas, entretanto, prescindiu dos textos mais antigos e aceitos que falam a respeito do homem de Nazaré, produzidos por quem viveu mais próximo dele ou de pessoas que com ele conviveram.

Mesmo que os significados dados aos livros bíblicos – são ou não, contém ou se tornam “palavra de Deus” - ou as interpretações dadas aos seus textos sejam diferentes - umas mais populares, superficiais, outras mais acadêmicas, aprofundadas - eles são a fonte mais antiga e reconhecida de informação sobre a vida de Jesus.

Daí, qualquer pessoa que se interesse por descobrir o significado mais antigo do Natal, seja por razões espirituais, existenciais, culturais ou religiosas, não pode deixar de ler o que ficou registrado a respeito do menino que nasceu numa cocheira e seus ensinos, seja pela ótica de Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo, Tiago, Pedro ou Judas, no chamado Novo Testamento.

Se quisermos encontrar o sentido mais profundo do Natal - o bíblico-teológico - é essencial que invistamos tempo no conhecimento da pessoa de Jesus que, nos textos de João é a palavra que se tornou humana e habitou entre nós (Jo 1. 14) como manifestação do amor de Deus para salvação de todo aquele que nele – Jesus - crer (Jo. 3.16) e, nas palavras de Paulo, manifestação da graça divina (Tito 2.11) para libertação humana (Gal. 5.1).

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Sofrimento e graça na vida de Maria


"O anjo, aproximando-se dela, disse: "Alegre-se, agraciada! O Senhor está com você!" Maria ficou perturbada com essas palavras, pensando no que poderia significar esta saudação. Mas o anjo lhe disse: "Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus!" (Lc. 1.28-30) 
 
Se tivesse que indicar o ser humano cujo nome esteja mais conhecidamente associado à graça divina, certamente o de Maria seria o primeiro. Isso porque, além de sua história em si, diariamente, em cada canto do planeta alcançado pela Igreja Católica, pelo menos uma vez por dia se veicula em emissoras, a prece:
“Ave Maria,
cheia de graça,
o Senhor é convosco,
bendita sois Vós entre as mulheres,
bendito é o fruto em Vosso ventre,
Jesus.” 

Em poucas das histórias publicadas na literatura cristã, graça e sofrimento se misturaram de maneira tão explicita quanto na de Maria.

Imagino não ter sido fácil, na condição de solteira, esclarecer sua gravidez, numa sociedade com característicos diametralmente opostos, em quase todas as dimensões, aos dos nossos dias. Creio mesmo que, diante da dolorosa experiência, ela se sustentava nas palavras: "Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus!” 

Em estado avançado de gravidez ela precisou viajar para atender uma exigência legal de recadastramento. O trecho era longo, as estradas de terra não eram feitas nem mantidas com as tecnologias hoje disponíveis, não havia estrutura sanitária como conhecemos, nem os meios de transportes podiam se equiparar até mesmo às carroças que poucos de nós conhecem “ao vivo”. Mas, certamente, diante do sofrimento ela lembrava-se: "Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus!” 

Distante de sua casa, num lugar onde conhecia poucas pessoas e ainda sem estruturas adequadas para hospedar-se, chegou o tempo de dar à luz. Isso se deu num espaço construído para abrigar animais e uma cocheira foi usada como berço para seu bebe. Certamente as dores provocadas eram aplacadas pela declaração: "Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus!” 

Ter que fugir para o Egito, diante da determinação de Herodes de tirar a vida de seu bebe, deve ter sido angustiante. Não somente em decorrência dos efeitos dolorosos de mais uma viagem nas condições de então, com uma criança nos braços, mas também porque sabia que todos os meninos de sua cidade e região seriam exterminados “por causa de seu filho”. À dor física, somou-se a experiência emocional tão bem descrita por Mateus: 

"Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação; é Raquel que chora por seus filhos e recusa ser consolada, porque já não existem" (Mt. 2.18) 

Suponho que, em mais essa experiência de sofrimento, suas dores eram acalentadas pela mensagem: "Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus!” 

Quando seu filho, já adulto, sofreu as dores da crucificação, João escreveu: 

“Perto da cruz de Jesus estavam sua mãe,...” (Jo 19.25) 

Penso que, enquanto sofria diante de tamanha tortura, sua vida era sustentada pela voz que não silenciava em seu coração: "Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus!” 

A graça divina não nos torna imunes ao sofrimento; antes, em meio a ele, revigora nossa esperança. Firmados nela compreendemos que, se no mundo teremos aflições, o ânimo não deve ser perdido, pois assim como Jesus foi vitorioso também poderemos ser. (Jo. 16.33).

A experiência da graça, esse sentimento misterioso que toma conta do nosso ser excedendo todo o entendimento é o elo que nos mantém unidos ao mistério da vida, ao “absolutamente outro”, àquele que se convencionou chamar de DEUS. Sua manifestação entre nós na pessoa do Cristo, relembrada no Natal, é consolo, força e “lâmpada para nossos pés, luz para nossos caminhos” em meio às trevas do sofrimento.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A lembrança de um dia triste

Uma releitura de *Mateus 2.1-18

Aquele dia ficou marcado como um dos mais tristes da história de um povo. Foi caracterizado como dia de muito choro e lamentação. Até mesmo o consolo foi recusado. A causa não é difícil de ser compreendida. Basta apenas relembrarmos os fatos.

Tudo começou com uma notícia que se tornou motivo de alegria para muitos, inclusive menos favorecidos. Porém, houve quem dela se desagradasse profundamente.

Inicialmente a manifestação do desagrado não foi clara. Pelo contrário, ele – o desagrado – recebeu uma roupagem diametralmente oposta à realidade dos sentimentos. O sentimento real era de profunda perturbação, começando no coração do chefe do povo e contagiando a população da cidade.

A cidade não era qualquer uma. Tinha uma história de religiosidade, mas, sobretudo, de poder político. E porque era a sede local do poder político, os sentimentos negativos que dominaram especialmente o chefe, foram transformados rapidamente em articulação.

O que motivava a articulação era impedir o surgimento de alguém que poderia alterar o status quo vigente. Mas isso não poderia ser dito, publicado, pois não pegaria bem. Esconder a real motivação atrás de uma linguagem religiosa, porém falsa, foi o caminho seguido.

Inicialmente precisavam resolver um problema. O chefe temia aquele que havia chegado e que poderia alterar o “establishment” - a ordem ideológica, política e econômica estabelecida -, mas não sabia exatamente onde ele estava.

Então, a liderança político-religiosa foi convocada e a grande pergunta foi lançada: onde está o recém-nascido? Seus súditos do primeiro escalão religioso, usando os conhecimentos que tinham, deram uma verdadeira, porém insuficiente informação. Faltavam detalhes. Foi aí que o monarca resolveu buscar a cooperação de terceiros para atingir o objetivo desejado.

Não podendo manifestar seus reais sentimentos, ética e politicamente incorretos, ele usou a mentira como arma para convencer alguns viajantes a o apoiarem, pedindo-lhes que descobrissem informações mais precisas a respeito de onde estava o menino prodígio (leia-se: “ameaça para o reino”), “para que eu também vá adorá-lo” (leia-se, exterminá-lo).

O Soberano, entretanto, não imaginava que, depois de descobrirem exatamente onde estava o suposto perigo, os tais homens teriam uma revelação indicando que deveriam mudar o caminho da volta para não o ajudarem na execução de plano tão maquiavelicamente elaborado.


Também não previa que os pais do menino receberiam uma revelação e resolveriam mudar-se de localidade, visando preservar a vida daquele que, na sua ótica, representava uma ameaça.

Ao descobrir que os visitantes, também conhecidos como magos, foram infiéis, ele ordenou, desesperada e furiosamente, a morte de todos os meninos com idade inferior a dois anos, da cidade (e região circunvizinha) apontada pelos “pelos chefes dos sacerdotes e mestres da lei”.

Esse dia ficou marcado pela profunda tristeza que provocou. Foi um verdadeiro infanticídio movido por interesses políticos. “Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação; é Raquel que chora por seus filhos e recusa ser consolada, porque já não existem”. (Mt. 2.18).

E hoje, como temos reagido à morte de milhares de crianças em consequência da corrupção assustadora, presente nas diversas esferas da sociedade, especialmente na administração pública? Como nos sentimos diante do número assustador de crianças cujas vidas não seguem um curso saudável em face da profunda injustiça social? Lamentamos, reagimos, somos coniventes ou simplesmente nos omitimos silenciando?

* Em palavra-chave ou referência bíblica, escreva Mt 2 e de ok, no site indicado

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Sinais da generosidade de Deus com a I. B. da Graça.SSA

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

História e narrativas da história

A propósito dos 45 anos da Igreja Batista da Graça

Há diferença entre história e narrativas da história. História seriam fenômenos, de diversas naturezas, que se sucedem no tempo e espaço. Narrativas históricas têm a ver com aquilo que os sentidos humanos perceberam, julgaram relevantes, memorizaram e, de forma oral ou escrita, nos foi repassado.
Isso significa que as narrativas de histórias devem ser vistas como a percepção do narrador a partir do ponto de vista de onde se encontrava. Tal ponto de vista não deve ser entendido somente em sentido geográfico, mas, sobretudo, social, político, econômico, religioso, psicológico, cultural enfim.   
Sendo verdade que “cada ponto de vista é a vista de um ponto”, como cunhou Leonardo Boff, podemos afirmar que toda narrativa de história sempre será parcial e contaminada pelo olhar de quem a narra.
A interpretação das narrativas depende muito mais de significados previamente introjetados na mente do interprete do que da intenção de quem escreveu. Por isso, podemos afirmar que o leitor de um texto precisa ser ainda mais cuidadoso do que uma testemunha dos acontecimentos, pois está lendo algo que é fruto da percepção de outrem.
O mesmo ocorre numa narrativa oral.
Faço essa elucubração pra dizer que os 45 anos de história da Igreja Batista da Graça poderiam ser narrados a partir de milhares de percepções, cada uma retratando aquilo que o perceptor julgou relevante em face dos seus sentimentos, crenças e valores, bem como dos objetivos que pretende atingir através da narrativa delas - as percepções.
Um narrador magoado, por exemplo, poderia omitir fatos ou destacar apenas aspectos ruins que caracterizaram um período; outro, não tendo de que reclamar daria ênfase às coisas boas. Daí, quanto mais distantes no tempo e menor envolvimento com os acontecimentos, maior a probabilidade de avaliarmos as narrativas com mais neutralidade.
Se quisermos formar uma opinião que retrate a maior proximidade possível dos fatos, é essencial procurarmos a maior e mais diversificada quantidade de testemunhas ou narrativas.
Estudar história não é memorizar datas, nomes e feitos tidos como extraordinários, mas compreender o significado sócio-cultural dos acontecimentos, visando corrigir rotas equivocadas e construir caminhadas mais saudáveis para todos. Portanto, estudamos também para não repetir os mesmos erros.
Ao iniciar o 46º ano da Igreja Batista da Graça, nos é dada a oportunidade de gerar novos fatos e relacionamentos. Avaliemos, portanto, os 45 anos passados empenhados em repetir o menor número possível de erros e a maior quantidade de acertos, visando vivenciar “justiça, paz e alegria no Espírito Santo”, pois isso caracteriza o reino de Deus que almejamos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Para que a Graça não perca a graça


A denominação IGREJA BATISTA DA GRAÇA é, como se vê, formada de três palavras: igreja, batista e graça. A compreensão do que isso significa é de grande relevância para nossa caminhada. Cada uma dessas palavras – como todas as palavras – se retirada do seu contexto sócio-cultural, poderia tornar-se apenas um ajuntamento de grafia de sons.
Quando, porém, cada uma delas é situada num contexto sócio-cultural, não apenas será a expressão de uma dada realidade, mas, a partir daí, elas mesmas passam a ser definidoras de como desejamos que tal realidade deva ser.
A palavra igreja, 
por exemplo, é uma tradução da palavra grega “ekklesia”. Na cultura grega dos dias de Jesus, referia-se a uma reunião público-política de cidadãos gregos. Jesus partiu desse sentido para referir-se a uma reunião de pessoas, não mais subordinadas às leis de determinada cidade ou país, mas espontaneamente vivendo em comunhão com ele, pelo sentido que suas vidas ganharam à luz das atitudes, palavras e ações dele.
Como é natural, ao longo desses mais de 2000 anos, em cada tempo e lugar, esta palavra continuou ganhando novos significados, uns mais distantes, outros mais próximos, uns mais profundos, outros mais superficiais, mas sempre mantendo algum tipo de vínculo com sua origem em Jesus.
A palavra batista
também tradução de palavra grega, baptistés, refere-se em sua origem àquele que batiza. Em documentos históricos, entretanto, vemos que denominava um grupo que surgiu na Inglaterra do século XVII, cuja marca litúrgica que mais chamou a atenção foi o batismo de adultos por imersão, contrariando o de crianças por aspersão.
Este aspecto chamou a atenção nem tanto pela forma de batismo – imersão – mas por ser ministrado a adultos. A ideologia disso representava não somente uma obediência aos ensinos de Jesus, mas também era expressão de respeito à liberdade e responsabilidade do indivíduo de escolher o percurso religioso que gostaria de dar à sua vida, sem imposição da família, do Estado ou de quem quer que seja.
Entretanto, tal grupo fazia muito mais do que batizar adultos por imersão. Defendia, por exemplo, uma igreja livre, num estado livre, cujo referencial de conduta deveria ser a vida de Jesus, conforme registros nas Escrituras Sagradas judaico-cristãs; defendia a liberdade de se reunirem em igrejas locais e autônomas para expressarem sua fé, construírem e expressarem livremente seus pensamentos e, definirem, democraticamente, a forma e conteúdo que serviriam de norte para caminharem juntos; defendia inclusive, a liberdade de cada um poder interpretar as Escrituras Sagradas, contrapondo-se ao então privilégio reservado à hierarquia eclesiástica subordinada ao Estado.
Com o passar do tempo, tais “pequenos grupos” se uniram em convenções, mantendo suas autonomias, e definindo, conjuntamente, princípios norteadores que os caracterizariam como “batistas”. Desses princípios, 6 ou 7 tem se mantido presentes na maioria absoluta das igrejas que se chamam “batistas”, em todas as épocas e lugares.
A palavra graça, 
charis em sua origem grega, foi associada ao nome desta Igreja Batista, não, primeiramente, por seu significado teológico, mas pela localização geográfica – o bairro da Graça, em Salvador – onde um pequeno grupo começou a reunir-se em 1966.
Já devidamente registrado em cartório, o nome foi mantido, apesar da mudança de localização para o Largo da Garibaldi, no vizinho bairro da Federação.
A manutenção do nome não se deu, certamente, apenas porque assim fora registrado, mas também por seu significado teológico. Tal significado faz parte do legado da primeira igreja chamada batista, formada na colônia inglesa na Holanda, em 1609.
Fruto de uma terceira geração de reformadores e herdeiros de conceitos que ganharam evidência nas reformas iniciadas no século XVI, cujo expoente foi Martinho Lutero, os batistas sempre defenderam que a salvação é fruto da graça divina, se contrapondo à tese católica que definia a salvação como resultante do esforço humano.
Graça, portanto, indica a possibilidade de vivermos em comunhão com Deus, sentido último de nossa existência, como fruto do seu desejo de nos amar, conjugado à nossa livre vontade de corresponder.
Por isso, para que a Igreja Batista da Graça não perca a graça, é fundamental sempre retornarmos ao significado do seu nome, aprofundando-o e nos empenhando a viver coerentemente com ele.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Marcos marca

Por ocasião do 60º aniversário de Marcos Monteiro

É impossível conviver qualquer quantidade de tempo com MarcosAdoniram Lemos Monteiro e ficar indiferente. Marcos Marca.

Uma pessoa pode divergir de outra em relação aos sonhos acalentados, mas, jamais, na importância de sonhar; pode discordar dos pensamentos desenvolvidos, mas, nunca, da necessidade de pensar; pode se diferenciar na forma de expressar sentimentos, mas não reprimir o que sente. Marcos marca não somente porque, como todo ser humano, sonha, pensa e sente, mas também porque socializa, com muita espontaneidade, essas experiências.

Marcos já era uma marca quando cheguei ao Recife, em 1979. Ainda calouro, saindo cronologicamente da adolescência, dependente e em busca de referenciais ministeriais, o nome de Marcos chegou aos meus ouvidos associado aos “Voluntários de Cristo”, um movimento jovem na capital pernambucana.

Falado sob as mangueiras do STBNB por sua inteligência, por ter trocado uma carreira socialmente cobiçada, pelo ministério pastoral; por sua participação no projeto missionário Trans-amazônica, da Junta de Missões Nacionais da CBB e, porque não, por sua habilidade, como jogador de dama, reconhecida nas praças da Veneza Brasileira, o nome Marcos Monteiro já era uma marca e, muito mais do que isso, uma possibilidade de forte referencial ministerial.
(Em 1986, no Acampamento Palavra da Vida, em Paudalho, PE, em encontro promovido pela Visão Mundial. Marcos, o do meio dos que estão de cócoras, era um dos líderes e eu, na segunda fila, em pé, na ponta direita, iniciante)
Por volta de 1983, Marcos passou a despontar para mim por seu envolvimento com as questões sociais começando a ser associado à Visão Mundial, organização que fomentava a difusão da missão integral da igreja, à época. Para quem buscava referenciais, saber de alguém que conciliava “missões”, questões sociais e ainda jogava dama, despertava claro, muito interesse.

Por essas e outras, no processo da minha saída do pastorado da Igreja Batista do Pinheiro, fiquei feliz quando seu nome foi lembrado, pois, pelo que dele conhecia, sabia que sua participação na construção da história dessa igreja seria relevante. E foi.

Hoje, depois de algumas décadas e por ocasião do seu sexagésimo aniversário temos muito a agradecer a Deus pelas marcas que ele deixa em nossas vidas.

Marcos marca pela humanidade numa sociedade em que papéis circunstanciais são muito mais valorizados do que a própria condição humana. Ele parece empenhar-se em administrar sua vida sem permitir que papéis sociais predominem em detrimento de sua humanidade.

Se, como se diz, ser pouco sincero é perigoso e ser sincero demais é fatal, Marcos parece não temer a fatalidade na maneira como expõe e se expõe. Essa sinceridade nos marca, pois faz dele uma pessoa simples, sem ser simplista.

Marcos marca pela humildade, mantendo os pés no chão e algumas vezes, literalmente, na estrada, construindo sua história, interagindo, sem querer controlar ou deixar-se controlar.

Sobretudo, porém, Marcos marca por levar a sério sua condição de discípulo de Jesus. Num contexto religioso no qual discipulado tem sido entendido como um programa educacional eclesiástico no qual pessoas são transformadas em objetos programados para reproduzir conceitos e preconceitos, Marcos marca por manifestar interesse em conhecer, reconhecer, identificar-se e relacionar-se com uma pessoa, a pessoa de Jesus de Nazaré.

Se me perguntarem sobre os pecados que marcam Marcos, não haveria razões para publicá-los, especialmente porque o que glorifica o Cristo que ele tão bem anuncia com sua vida, são suas boas obras. Por isso Marcos nos marca de maneira tão profunda.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Minha vida, impacto para a nação

Iniciei, recentemente, a mensagem: “Brilhar para a glória de Deus”, da série: “Imperativos de Jesus”, mencionando a situação de corrupção endêmica no Brasil, presente nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, no Exército e também nas igrejas. Tal realidade foi ilustrada por artigos das revistas CARTA CAPITAL (nº 666, de 05.10.2011) E VEJA (nºs 39 e 40 de 28.09 e 05.10 de 2011) e do site “The Lausanne movement” (“Leaders in India Gather toAddress Corruption”) que, embora se refira à realidade da Índia, retrata realidades presentes no Brasil.

Saliente-se também que, ainda que o destaque seja desproporcional à publicidade dada, sabemos que o envolvimento da classe empresarial é determinante na maioria dos casos de corrupção em pauta nas mídias, em todas as esferas onde ocorrem. Em outras palavras: por detrás de cada corrupção, interesses empresariais são tão ou mais fortes do que individuais.

Alegra-nos saber que a Convenção Batista Brasileira focará, em 2012, o tema integridade. É extremamente oportuno que as igrejas batistas do Brasil estudem e debatam este assunto, pois, ou estancamos a corrupção ou a corrupção estanca nossas vidas.

O que isso tem a ver com a campanha pró Missões Nacionais? Isso é importante porque a corrupção afeta diretamente a qualidade de vida de toda a sociedade. A qualidade da segurança, da saúde, da educação, dos transportes, da alimentação, da habitação, enfim, depende fundamentalmente da honestidade e justiça nos relacionamentos interpessoais de uma sociedade. Então, se queremos impactar o Brasil, não podemos deixar de lado a preocupação e até priorização deste assunto.

Impactar significa provocar forte reação em dada realidade, alterando-a. Portanto, se nossa intenção é levar a sério o tema proposto pela Junta de Missões Nacionais da CBB, alguns aspectos precisam ser considerados:

1.      Ter clareza teológica do projeto de vida desejado por Deus para a humanidade. Em nossa tradição protestante, reconhecemos os textos bíblicos como fonte de revelação do Cristo, parâmetro de humanidade desejada por Deus. Portanto, sem conhecimento do Cristo, sua história, sua vida, seus ensinos e, consequentemente das Escrituras que o revelam, podemos saber o que não queremos, mas não saberemos como alcançar o que queremos;

2.      Ter clareza da realidade que nos cerca, não somente em relação ao que nos afeta direta e visivelmente, mas também das causas espirituais, técnicas e políticas geradoras de tal situação. Por isso, estudos individuais e debates coletivos nos ajudam no impacto que queremos causar;

3.      Manifestar compromisso com a construção de uma sociedade pautada nos valores universais do reino de Deus. Digo universais e não somente bíblicos, pois há valores sócio-culturais de uma época e local cuja transferência de forma simples e irrefletida não impactariam positivamente nossa realidade;

4.      Agir, priorizando a disponibilização de recursos como conhecimento, tempo, dinheiro e outros bens a serviço do reino de Deus. Não basta conhecer o Cristo, a realidade e vislumbrar um projeto de vida se não tivermos consciência de que cada um de nós é chamado a fazer uma parte.

Dar uma oferta para sustentar missionários, plantar igrejas, manter escolas, orfanatos, centros de recuperação de dependentes químicos e de qualificação para inclusão sócio-espiritual é uma parte das ações possíveis para impactar o Brasil. É algo que todos podemos fazer, pois ninguém é tão pobre que não possa participar. Que Deus, então, fale tão profundamente aos nossos corações que impactar o Brasil, com nossas vidas apaixonadas pelo evangelho integral, seja nossa principal motivação como discípulos e servos de Jesus Cristo.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Processo de elaboração de estatuto para igrejas batistas

Sabemos que um estatuto é muito mais do que uma peça jurídica. Antes de tudo é um pacto político através do qual, pessoas que formam uma instituição definem diversos elementos que nortearão sua caminhada. Nas igrejas batistas, cujo sistema de governo é democrático e, portanto, a assembléia de membros é soberana, essa compreensão é essencial. Por isso, pelo menos dois elementos devem ser considerados antes da elaboração de estatuto: 1) que áreas de conhecimento devem estar representadas numa comissão responsável pela elaboração; 2) que princípios devem nortear a definição dos regulamentos. Pensemos nesses dois elementos:

1)   Que áreas de conhecimento devem estar representadas numa comissão responsável pela elaboração?

1.1.      Teologia
Coloco a representação teológica em primeiro lugar porque é a teologia o diferencial das igrejas. Embora haja semelhanças no funcionamento de um empreendimento batista, quando comparado com outros empreendimentos, há diferenças que não podem ser desprezadas.

Além disso, a eclesiologia batista é construída a partir de uma teologia neo-testamentária. Portanto, não há como dissociar eclesiologia de teologia.

Nesse sentido, é fundamental que pessoas com conhecimento teológico e, preferencialmente, bom trânsito nas demais áreas de representação, se façam presentes, a fim de que não se perca de vista a natureza da instituição e a prioridade das finalidades espirituais do empreendimento.

1.2.      Administração

A definição da(s) finalidade(s) da organização como um todo e de cada órgão (conselho, ministério ou departamento) em particular é um dos elementos que precisam ser profundamente clareados. Se não sabemos previamente quais são as finalidades, atribuições, composição e forma de eleição, como regularemos o funcionamento? Como criaremos órgãos e cargos que farão com que os objetivos sejam alcançados?

A existência de um organograma da instituição é essencial à elaboração. Através dele sabe-se quais são os órgãos da igreja e como se relacionam entre si.

Também é essencial que se acredite na importância da agilidade nos processos decisórios antes de redigir-se o documento. Igrejas burocráticas e lentas não são sinônimo de bem controladas e produtivas. Pelo contrário, geralmente emperram o funcionamento causando ineficácia e diversos outros tipos de prejuízos tais como de relacionamento e financeiro.

O custo, financeiro, político ou relacional do funcionamento e manutenção da estrutura é outro elemento que deve ser considerado preliminarmente. É um problema quando, para satisfazer interesses particulares nem sempre compatíveis com os interesses do empreendimento, uma série de órgãos e cargos é criada para, depois, não terem do que sobreviver, gerando pulverização de recursos, insatisfações e ineficácia.

Como o sistema será fiscalizado e quem fará a fiscalização é essencial em qualquer organização, especialmente das igrejas batistas, pela natureza democrática que as caracteriza. Instituição democrática sem forte fiscalização se torna meio de corrupção. A quantidade de prejuízos decorrentes de ineficácia na fiscalização e até mesmo de acordos pouco virtuosos é suficiente para priorizarmos a fiscalização, definindo claramente a finalidade, atribuições, composição, tempo de mandato e forma de eleição dos componentes.

1.3.      Política
A democracia batista fundamenta-se essencialmente na compreensão teológica de que todos os seres humanos foram igualmente criados à imagem e semelhança de Deus e exercem individualmente o sacerdócio, sem necessidade de intermediários, além de Jesus Cristo. Sendo assim, acreditamos que a democracia é a melhor expressão desses pressupostos teológicos num governo eclesiástico. Como a política é elemento central numa organização que se define como democrática, não seria diferente nas igrejas batistas.

Geralmente esse elemento político não é publicamente discutido, como se não existisse, mas, na verdade, aqueles que estão conduzindo o processo geralmente agem a partir de uma compreensão não declarada de que precisa ser definido que cargo terá mais ou menos poder decisório.

O poder decisório na organização deve ser estabelecido através das atribuições conferidas a cada órgão ou cargo e não necessariamente pela posição hierárquica num organograma. O poder, portanto, deve ser entendido como pertencente ao cargo ocupado e não à pessoa que o ocupa.

Percebe-se o nível de democratização que norteia uma igreja, já a partir da forma de escolha da comissão responsável pela elaboração. Uma comissão nomeada é menos representativa do que uma eleita, mesmo quando a nomeação é submetida a referendo da Assembléia. Quem nomeia geralmente escolhe componentes que, de maneira geral, representam seus pontos de vista e vão garantir a manutenção do status quo que lhe (s) interessa. É contraditório quando um indivíduo ou grupo declara nomear pensando no interesse da instituição, negando aos membros, a priori, o direito de eleição.

Para entrar em vigor, um estatuto de igreja batista precisa ser aprovado por uma Assembléia. Assim, o desejável é que antes do material ser submetido à Assembléia, ele passe por fóruns nos quais, de maneira sincera, se esclareça o poder de cada órgão e cargos nele contidos.

Quando a criação ou reforma de um estatuto vai direto pra Assembléia sem a realização preliminar de fóruns ou não há respeito às regras democráticas da igreja, corre-se o risco de viver um clima de tensão, durante e depois.


1.4.      Jurídica

Um dos equívocos cometidos na elaboração de estatutos nas igrejas batistas é acreditar que a presença de grande quantidade de profissionais da área jurídica significa garantia de qualidade. Essa quantidade, em vez de ajudar pode atrapalhar uma vez que o jurídico é totalmente privilegiado em detrimento do teológico e administrativo, além de se tornar uma ferramenta política de imposição de pontos de vista, sob a alegação da legalidade.

Na verdade, um bom profissional do direito é suficiente para orientar as questões de legalidade. A razão de ser de sua participação no grupo é ajudar a minimizar equívocos de natureza jurídica e não engessar o funcionamento da instituição pelo predomínio de uma cosmovisão legalista da organização.

Quando há divergências jurídicas, a Assembléia deve estar ciente das alternativas de interpretação de cada caso e, soberanamente, responsabilizar-se pela decisão entre uma e outra. Divergência de interpretação legal sempre haverá. Se assim não fosse, tribunais de arbitragem não precisariam existir. O inconcebível é uma assembléia de pessoas adultas ficar subordinada à palavra interpretativa de uma ou outra pessoa quando por detrás da defesa jurídica, outros interesses e motivações podem ser identificados.

2)   Que princípios devem nortear a definição dos regulamentos?

2.1.      Soberania da Assembléia
Soberania da Assembléia não é sinônimo de democratismo. A Assembléia deve ser poupada de reunir-se para discutir cor da porta do sanitário ou tamanho do papel usado no Boletim Dominical.

 A soberania de uma assembléia manifesta-se no seu poder exclusivo de reformar o estatuto e regimento interno; de eleger ou destituir sua diretoria; de aprovar seu orçamento e fiscalizar sua vida financeira; de aprovar o plano geral da organização; de arbitrar quando conflitos se estabelecem entre órgãos ou membros da igreja; de receber ou desligar membros.

Assim, a administração do cotidiano da igreja será conferida a órgãos internos cuja finalidade, atribuições, composição e forma de eleição de seus dirigentes são claramente estabelecidas no Estatuto e Regimento interno.

2.2.       Distribuição do poder
A palavra poder não tem aqui natureza pejorativa. Ela significa a quantidade e qualidade de atribuições dadas a um cargo ou órgão, fazendo com que o nível de dependência do sistema em relação a ele seja desequilibrado, desproporcional.

Uma vez definidos órgãos e cargos, é fundamental que dispositivos sejam incluídos visando impedir que uma mesma pessoa ocupe mais de um cargo simultaneamente. A simultaneidade de ocupação de cargos por uma mesma pessoa aponta a pobreza de visão de uma organização formada por tantas pessoas qualificadas ou o nível de subserviência e até de exploração política de uns pelos outros. A exceção só se justifica como algo transitório e na ausência comprovadamente reconhecida de alternativas.

2.3.       Alternância no poder
A alternância no exercício do poder é essencial a uma organização que pretende não se deixar dominar por vícios inevitáveis ao continuísmo. Além disso, a alternância propícia o arejamento dos órgãos pela presença de pensamentos diferentes dos estabelecidos de maneira contínua e ininterrupta.

Por isso, é fundamental que haja dispositivos claros quanto ao tempo de permanência e forma de eleição para os cargos, visando forçar a alternância. O fato de uma pessoa ser querida e, portanto, sempre ser eleita pelo povo, não significa, necessariamente que sua presença continuada seja saudável para a organização. O agir político de cada pessoa, os mecanismos usados para manipular os “eleitores”, os interesses envolvidos, muita vez camuflados, faz com que desejos pessoais falem mais alto do que o desenvolvimento institucional em casos de continuísmo.

2.4.      Transparência
Geralmente órgãos e cargos são criados para servir a instituição, mas é comum  ocupantes se servirem deles. Isso pode se dar em termos psicológicos, financeiros e políticos. O uso da estrutura eclesiástica de maneira promíscua, em diversos casos, é fácil de ser demonstrado.

Há pessoas cujo objetivo principal na ocupação de cargos parece ser o de alimentar o prestígio pessoal e até de usar a instituição como moeda de troca político-eleitoral. Entre os membros das igrejas batistas tal postura é ínfima, mas, como a cosmovisão clientielista da política é um cancro que destrói qualquer organização cuja natureza política é democrática, se elementos que forcem a transparência não forem incluídos nos estatutos as conseqüências podem ser nefastas.

Em face disso, é fundamental que o próprio sistema disponha de mecanismos que tornem transparentes os processos que envolvam suas caminhadas, a fim de minimizar a possibilidade de desvio de finalidade das organizações, dos cargos, dos recursos financeiros, enfim.

Considerações finais: Claro que outros princípios podem ser levados em conta na elaboração de um Estatuto, mas acredito que esses são essenciais. Se forem levados a sério, no que depender desta ferramenta chamada estatuto, as relações internas têm maiores chances de serem saudáveis e isso é tudo que desejamos numa igreja batista.