sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Mente inquieta

Ao lado da minha cama há uma imensa janela de vidro.
Entre a janela e minha cama, uma imensa cortina feita de faixas retangulares que podem ser mantidas fechadas, abertas ou entreabertas.
Quando me sento na cama com a cortina fechada, minha cabeça se inclina. Olho para dentro de mim e mergulho na escuridão misteriosa da minha mente, buscando respostas para aflições que perturbam minha alma. Mas também agradeço por prazeres que me fazem sorrir.
Com a cortina fechada e sentado ao lado da cama, sonho possibilidades distantes, quase inatingíveis e, por instantes, sinto-me livre de algemas que me prendem e impedem minha alma de voar.
Com a cortina fechada abro livros - especialmente minha velha companheira de décadas, a Bíblia - nos quais procuro caminhos que me ajudem a conviver com a busca da liberdade da alma aprisionada ao corpo, da liberdade do corpo aprisionado à alma ou ainda da harmonia libertadora na desejável unidade intrínseca entre sentimentos da alma e possibilidades de movimento do corpo.
Quando o mergulho, com a cortina fechada, começa a se tornar profundo e a pressão da água parece querer tirar o fôlego, "emirjo" à superfície do colchão, abro os olhos, respiro fundo e entreabro a cortina que está entre a cama e a janela.
Enquanto mantenho a fresta, mesmo que por segundos, enxergo uma multiplicidade tal de realidades que as aflições da alma ou os prazeres dos sonhos se esvaem, como nuvens que se dissipam pela força do vento.
Então, com a cortina quase aberta, vejo cores e movimentos de árvores, pássaros, carros e gente que abafam meu mundo interior. E, sentado em minha cama com a cortina "frinchada", do sétimo andar do prédio onde moro, olho para fora e não para dentro, para baixo e não para cima e, em vez de sentir desejo de ajoelhar-me, sinto-me impulsionado a levantar-me para continuar a vida.
Vida feita de realidades do outro lado das esquadrias que podem ser vistas quando abro a cortina da janela e de realidades de dentro do meu corpo, quando fecho as cortinas da minha face.
Abrindo e fechando cortinas, sentado em minha cama ou me levantando, sinto pulsar meu coração interagindo com realidades, muitas vezes paradoxais, dos dois lados da mesma moeda, do (mesmo) eu, do-eu!
(Dedicado à Pra Zenilda e aos amigos Gláucia, Evie e Nando, Marina e Odílio)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Como mensurar a saúde de uma igreja?

Mensurar altura e peso é uma das primeiras providências adotadas quando nasce um bebe. A partir daí, realiza-se medições periódicas que são comparadas com os dados iniciais e expectativa para cada fase, a fim de verificar o desenvolvimento. Tais aferições não acontecem por mera curiosidade. O objetivo é constatar a saúde da criança. O pressuposto é simples: o crescimento é manifestação de saúde. Se o resultado for muito aquém ou além da média esperada, deduz-se que algo pode estar errado.

Crescimento físico não é a única dimensão a ser avaliada. Por isso, com o passar do tempo outras áreas passam a ser objeto de acompanhamento visando conferir o estado da saúde.

As dimensões emocional, cognitiva, social, espiritual, intelectual e econômica estão entre as que recebem maior atenção. Para cada uma dessas áreas, parâmetros são estabelecidos a partir de estudos científicos. A credibilidade dos resultados para definir o estado da saúde da pessoa depende dos pressupostos epistemológicos adotados. Conseguir consenso nisso é sempre um desafio.

Admitimos o fato de haver dimensões difíceis de serem medidas, mas isso não justifica a ausência de parâmetros. Também é importante esclarecer que tanto o desinteresse quanto a fixação por medições podem indicar, igualmente, que há algo errado.
Paulo usou a metáfora do corpo para explicar o que seria a igreja. Ela não seria somente um corpo, mas o corpo de Cristo. Sendo assim, como mensurar a saúde de uma igreja? Se mensurar a saúde de um indivíduo é um desafio crescente, como fazê-lo em relação a centenas deles juntos? Que parâmetros usar? Que pressupostos utilizar?

Geralmente nos baseamos, por exemplo, na freqüência aos cultos e à Escola Bíblica; na receita financeira mensal; no valor das ofertas missionárias; no percentual de membros contribuintes; no número de congregações; na quantidade de ministérios em funcionamento e no número de pessoas engajadas neles; na organização e limpeza do espaço físico ou na manifestação oral de satisfação das pessoas. Esses indicadores têm seu valor, mas qual seria o grau de profundidade deles para constatarmos a saúde da igreja?

A definição de igreja como corpo de Cristo nos oferece o mais importante parâmetro de verificação: a pessoa de Cristo. Paulo escreveu: “Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef. 4.13). Assim, uma igreja saudável é aquela que mais evidencia através de seus membros, a personalidade do Cristo.

Conquanto tenhamos o parâmetro – Cristo -, a indagação persiste: que indicadores podem ser usados para constatar-se o quanto uma igreja se identifica com o Cristo? Ele disse que os frutos seriam a evidência (Mt. 7.20), o discurso não (Mt. 7.21); que deixar tudo e segui-lo é evidência (Mt. 19.27-30), mas pelos motivos errados não (Jô 6.26); que o desapego aos bens materiais (Lc. 18.22) e a manifestação da solidariedade é evidência (Mt. 25.34-36), mas se não for por amor, diz Paulo, não vale (I cor. 13.3). Pode, então, alguém, mensurar a saúde de uma igreja?

A resposta é: devemos sim, estabelecer uma série de indicadores para nos ajudar a buscar e preservar a saúde da igreja. Porém, isso deve ser feito com humildade, pois, somente Deus, que conhece nossas intenções, é capaz de avaliar sua igreja. Talvez por isso Paulo tenha dito que o importante é cada um ser fiel e, conquanto ele mesmo tenha feito uma série de avaliações da espiritualidade corintiana, afirmou não se importar com os julgamentos humanos (I Cor. 4.1-3).

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Administração, Missões e Teologia

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Percebo um fenômeno curioso no coração de alguns líderes denominacionais: um discurso de amor incondicional por missões. Ocorre, entretanto, que o referido amor veiculado nesses discursos parece-me, em alguns casos, idêntico ao de adolescentes no auge da ebulição hormonal: destituído de reflexão.

Nos amores da adolescência, o que importava era estar ao lado da pessoa amada, trocando beijos e abraços, fazendo juras de amor e sonhando com um futuro “numa ilha de fantasias”. Não era o momento para considerações sobre implicações econômicas do casamento, orçamento familiar, filosofia de educação dos filhos, escala de valores e prioridades, divisão do tempo com outras necessidades individuais e conjugais, enfrentamento de adversidades físicas, emocionais, relacionais, enfim, não havia lugar para o mundo real.

Quando ouço alguém falar que dinheiro de missões é intocável, penso duas coisas: ou a pessoa está jogando pra platéia, usando aquelas frases de efeito que disparam instintivos améns quase unânimes ou demonstra ignorância a respeito da inter-relação existente entre diversos elementos no desenvolvimento da missão da igreja. Não refiro-me ao desvio de finalidade de ofertas designadas. Falo da incapacidade de enxergarem que as convenções serão ineficientes e ineficazes em seus propósitos se não valorizarem, inclusive financeiramente, os aspectos da formação teológica e de administração de seus líderes.

Penso ser importante deixar claro que missões, no sentido usado entre nós batistas, faz parte da missão, mas missões, nem é nossa única missão, nem pode existir isolada da administração e da teologia.

Sou um admirador do Pr. Fernando Brandão. Louvo a Deus por sua chegada à direção da Junta de Missões Nacionais e, observando elementos que conheço para “ouvir clinicamente” uma pessoa, não percebi até agora evidências de que não se trate de pessoa sincera e honesta. Dos lábios dele tenho ouvido uma expressão, referente à saúde financeira de Missões Nacionais, que, para não ser distorcida, merece reflexão: “Não é coisa de administração nem gestão humana, é de Deus”.

Compreendo seu espírito humilde, "joãobatistiano" do "convém que ele cresça...", mas é inegável que Deus está usando sua experiência e conhecimentos em gestão financeira, bem como sua ética, amor ao Reino e carisma, no processo de recuperação da saúde de Missões Nacionais. Se assim não fosse, não precisaríamos incluir qualidades de administrador dentre os critérios de seleção de nossos dirigentes. Bastaria descobrir quanto tempo eles passam orando e lendo a Bíblia. Mas todos sabemos que não é assim.

Ao fazer essa consideração, meu objetivo é esclarecer que administração, definida na linguagem religiosa paulina como dom, não é algo menos espiritual ou necessário do que "amor por missões". Muito menos, reconhecer a participação humana no sucesso da missão, falta de honra a Deus. Afinal, não somos seus cooperadores? Assim, vejo como equívoco comum em nossas igrejas, o discurso de que administração não faz parte da espiritualidade cristã. Não por acaso, o principal motivo de queda de pastores não são desvios éticos ou doutrinários, mas esgotamento administrativo.

A administração é a estrada sobre a qual a missão da igreja viaja e a teologia, seu combustível. Se enfatizarmos missões e nos descuidarmos da administração e da teologia, o cumprimento da missão "desacelera". Quando, por exemplo, declaramos a ação de Deus em nossos empreendimentos, estamos fazendo uma afirmação teológica, portanto, passível de análise. É a ausência de estímulo à reflexão teológica uma das principais causas do surgimento de líderes nocivos à saúde da igreja e da sociedade e a principal causa dos membros de nossas igrejas serem presas fáceis de seus discursos biblicamente diabólicos, como na tentação de Jesus.

Lamentavelmente missões parece estar para os batistas, assim como o futebol para os brasileiros. O investimento previsto para hospedar a Copa do Mundo de 2014 é 230% maior (ou numa linguagem mais correta, duas vezes mais 30% superior) do que o orçamento anual de educação do país. Se compararmos nossos investimentos em missões com os em educação encontraremos proporção semelhante ou ainda pior.

Da mesma forma, se compararmos o "amor" que manifestamos por missões (não com a missão) com o que manifestamos pela administração das organizações batistas, o resultado será o mesmo. Estamos tão neurotica e medievalmente condicionados a livrar individuos de um inferno futuro que não percebemos o "inferno" que muitas igrejas vivem por ineficiência administrativa ou influencia de teologias construidas nos e não de joelhos.

Todos ficamos encantados com os momentos devocionais das assembléias da CBB. Duas coisas, porém me preocupam: a primeira, é que a supervalorização de tais momentos pode indicar a pobreza deles no cotidiano de nossas igrejas. A carência pode ser tal que precisamos encontrar alguma fonte para suprí-la. Assim, acreditamos que o que nos falta o ano todo em nossas igrejas deve ser suprido em doses cavalares durante uma assembléia.

A segunda é com a negação da importância das sessões administrativas. Já fui, por oito anos, executivo de instituição denominacional. Sei o quanto se sofre durante os dias das assembléias por termos que ouvir alguns discursos destituídos de fundamentos sólidos a respeito do trabalho que desenvolvemos. Mas não podemos, por isso, desestimular a participação democrática daqueles que representam os interesses das igrejas locais, que são a razão de ser da existência das convenções batistas.

Fui a Brasília com o pensamento focado na defesa de dois temas. Um deles decidi aguardar mais este ano e, a depender de como as coisas caminharem, levantarei na próxima assembléia. Durante toda a assembléia fiz uso do microfone três vezes. Duas em defesa da criação da Câmara de Ação Social (o segundo dos meus temas-foco) que foi aprovada. O outro uso do microfone, foi em favor dos direitos de participação nos conselhos da CBB, dos membros das igrejas fiéis ao Plano Cooperativo, oriundos de convenções estaduais cujos administradores retiveram indevidamente o repasse do Plano Cooperativo nacional. Sobre isso escreverei oportunamente.

Pois bem, reconheço que há oradores que alugam os microfones e cujas intervenções nos debates, tanto em quantidade quanto em qualidade, seriam dispensáveis. Devemos cuidar, entretanto, de não usar isso para inibir aqueles que têm somente aquele espaço para fiscalizar as instituições financiadas por suas igrejas e se calam por receio de serem estigmatizados como falastrões. Diga-se de passagem, alguns não falam nas assembléias, mas manifestam suas insatisfações, inclusive retendo o Plano Cooperativo ou não enfatizando ofertas especiais.

Todos sabemos o pensamento que diz que, se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente. Portanto, é, também, visando evitar brechas para corrupção, malversação dos recursos financeiros enviados mensalmente às convenções, bem como garantir a finalidade da nossa "filiação" que devemos estimular a participação consciente de cada representante das igrejas nas sessões administrativas das assembléias.

Penso que estamos num momento crucial em relação aos investimentos que as convenções estaduais e nacionais fazem com o dinheiro dos dízimos, devolvidos até com sacrifício às igrejas. Chegou a hora de aprofundarmos a administração da coisa batista, a partir de dados objetivos, transparentes, sem receios ou amarguras, amando não só missões, mas também a educação e a administração, a fim de cumprirmos nossa missão integral, ajudando o ser humano em todas as dimensões de sua vida, a partir da comunhão com Deus.

Um dia de pescador

(Odílio (esquerda), representanto a I.B. da Graça e Waldir (direita), representando a I.B. Esperança)

Pois é amigas e amigos, segunda-feira é meu dia de folga. Então aproveitando as férias do Alonso, nos juntamos - Tavinho, filho dele, o Odílio, o Valdir, da equipe pastoral da IB Esperança, eu e ele - e fomos pescar no quebra-mar perto do Mercado Modelo.






O trajeto é simples. Deixamos o carro perto do Elevador Lacerda, pagamos R$ 6,00 cada um e somos transportados de barco até o local. Acertamos a hora e o cidadão volta nos buscar. Assim saimos pela manhã e, às 3 da tarde, como combinado, lá estava o barco como acertado.


Detalhe: o pagamento ao barqueiro é feito só quando retornamos. Se pagarmos antes, ele pode encher a cara de cachaça e nos esquecer por lá? rs






Nunca me interessei muito por pescaria. As primeiras experiências aconteceram na infância nas redondezas de Garça. Devia ter por volta de 10 anos quando ia com meu primo Samuel, sem que meus pais soubessem, pescar em riachos próximos da cidade.




Samuel, meu primo, é um palmeirense fanático. Pelo menos era. O símbolo do Palmeiras é o porco. Do glorioso Santos Futebol Club, meu time, o símbolo é o peixe. Acho que não gostava muito de pesacaria porque detestava ver o peixe dependurado num azol, agoniando até morrer. Isso, além de ter que aguentar piadinhas bíblicas do tipo: "Preciosa é a aos olhos do Senhor a morte do SEU Santos".




Além disso sou um tanto pragmático e gosto de ver o resultado mais rápido naquilo que faço. Lembro-em de que o Pr. Luis de Assis, ex-missionário de Missões Nacionais, tinha um acordo comigo no primeiro pastorado. Como ele era muito bom de português, pedi a ele que sempre corrigisse meus erros. Não faltaram bilhetes com recomendações.




Certa vez o bilhete nada tinha a ver com português. Percebendo que eu estava angustiado com a demora dos resultados na igreja, ele mandou um bilhete que dizia: coentro nasce rápido, mas também rapidamente desaparece. Carvalho não! Desde então, tento ser mais paciente, sem muito sucesso, admito.




O bom de pescar no quebra-mar é que ficamos do alto olhando os cardumes. O problema é que os peixes grandes passam de largo pelo tipo de isca usado. Já os "piabas", aqueles que cabem na palma da mão, pegamos aos montes.




Assim passamos o dia cortando isca, pegando "peixinhos" - que o Alonso disse que trataria e comeria frito - e jogando muita conversa fora.




Quem sabe, apesar do "peixe" dependurado no anzol, passe a curtir mais a pesca em meus dias de folga. Se quiser, podemos combinar sua participação!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Indicadores Sociais: "a resposta, meu amigo, está no ar"

Segundo matéria publicada pela Rede Globo nessa semana, a Bahia, juntamente com Pernambuco, possui o judiciário mais lento do país.
Por outro lado, o Jornal A Tarde, dessa sexta-feira, informa que 83% da população de Salvador - uma das 10 cidades mais ricas do Brasil - tem renda inferior a 3 salários mínimos (em fevereiro, R$ 1.395,00).
Segundo o Correio da Bahia, 1.420.000 famílias baianas são alcançadas pelo Bolsa Família. Para uma família entrar no programa, a renda per capta de seus membros deve ser inferior a R$ 137,00. (Pasmem, 12 milhões e trezentos mil famílias no país se encaixam neste critério).
Não disponho de dados oficiais, mas posso afirmar, por pesquisa e comparação pessoal, que em Salvador, o aluguel é mais de duas vezes mais caro do que em Pernambuco. A justificativa é que Salvador teria somente 20% de vazio urbano, dos quais 10% seriam protegidos como reserva ambiental. Assim, pela escasses de terreno, seu custo se tornaria elevado.
O fato é que, segundo veiculado na mídia, Salvador necessitaria de 7 bilhões de reais para que o problema do déficit habitacional fosse resolvido até 2025.
Complicando este belo quadro social, o Prefeito João Henrique teria afirmado, textualmente: "O que acontecia: a gente acabava deixando de pagar a merenda escolar, os remédios do posto de saúde para pagar as despesas do carnaval."
(O Jornal A Tarde, de hoje, garante que tem a entrevista gravada; o prefeito, declara que não disse.)
Será que cruzando essas poucas informações a respeito da nossa cidade poderíamos entender o elevadíssimo indice de violência registrado nessas primeiras semanas do ano? O que justiça lenta, brutal concentração de renda e falta de priorização da educação e saúde teria a ver com isso?
A outra pergunta é: o que, como cidadãos, poderíamos fazer? Que tipo de movimento poderíamos desenvolver a fim de que o foco dos gestores - do executivo, do legislativo e do judiciário - se concentrasse na busca de soluções, dentro do seu raio de poder, visando alterar este quadro social?
E a igreja, o que tem a ver com isso? À luz de nossos discursos e ações, nos identificamos mais com o sal, segundo Jesus ou com o ópio, segundo Karl Marx? Os cultos que celebramos sensibilizam os participantes para uma nova postura social ou funcionam como anestésico da consciência? A educação em nossas EBDs favorece a conformação ou a reação?
Ou será que já desisitimos do nosso papel neste mundo e giramos em função da vida celestial futura?
Como diria Bob Dylan: "a resposta, meu amigo, está no ar".

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O custo da falta de educação

Nos primeiros 35 dias de 2009, aproximadamente 7 pessoas foram assassinadas por dia, na região metropolitana de Salvador. Drogas são a principal causa apontada.

O Brasil vai investir 35 bilhões de reais na realização da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, segundo a FGV. O investimento representa 230% (2 vezes + 30%) acima do orçamento previsto para educação em 2009.

A Bahia, juntamente com Pernambuco, é o estado brasileiro no qual o poder judiciário é o mais lento no país. Salvador deverá investir 235 milhões na reforma da Fonte Nova, se for escolhida como uma das sedes.

O futebol está para o Brasil assim como missões para a CBB. O investimento dos batistas em educação provavelmente também. A idéia reinante em parte da liderança batista é simples: salva-se individuos do inferno futuro, mesmo que as igrejas caminhem num "inferno" presente por ineficiência e ineficácia adminitrativa e falta de investimento em educação teológica e cristã.

Em termos de prioridade, nos batistas somos um retrato do Brasil. Ou o Brasil é um retrato nosso?

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A primeira vez numa Assembléia da CBB

Era sexta-feira, 18 de janeiro. Acompanhado, entro no auditório do Centro de Convenções onde aconteceria a Assembléia Anual da CBB. Seguindo desejo de Gláucia procuramos um lugar de onde houvesse uma melhor visibilidade para ela. Pedindo licença, um por um, chegamos a um lugar bem no meio do auditório e nos acomodamos.

Eu estava com uma camiseta do tipo pólo e ao meu lado um jovem com terno. Claro, imaginei tratar-se de pastor. Cumprimentei-o e não demorou muito ele comentou rindo:
- "Tô de paletó pois quero me exibir" E continuou: - "Minha esposa não queria que eu o usasse, mas eu seria capaz de vir a pé. É a primeira vez que participo de uma "convenção".

Comecei então a observar seu comportamento durante a programação. Seus olhos brilhavam de prazer. Quando mais de 3000 pessoas começaram a cantar "A Deus demos glória..." ele olhou pra mim, emocionado e disse: - "tem coisa melhor do que isso". A programação continuou e, após o "cântico da colheita" ele olhou, com olhos cheios de lágrimas, e comentou: "Eu não aguentei não, pastor, eu chorei"

De fato, o momento era bonito, o ambiente agradável, a música de boa qualidade, fato que gerou um novo comentário, após ouvir "mestre o mar se revolta" ao som de uma harpa muito bem tocada. - "É de lavar a alma".

Com sua máquina digital, fotografando tudo, em dado momento ele virou para nós e pediu permissão para nos fotografar. De repente nos sentimos importantes por entrarmos para a história daquele jovem pastor.

Tudo foi muito bonito e inspirativo naquela manhã. Nenhuma proposta em discussão, nenhum debate, nenhuma questão de ordem, nada de manifestações da advocracia batista.
À tarde, os assuntos seriam deliberativos. O outro lado da mesma moeda estaria em evidência. Mas aí, infelizmente, já não estaria perto dele para ouvir suas impressões e opiniões.

Meu problema com uma operadora de celular

Oi, você já teve algum problema com operadora celular? Eu acabo de ter um.

O problema inicial foi meu. Efetuo os pagamentos dos investimentos mensais que faço através de débito automático. Cartões de crédito, energia elétrica, previdência social e telefones são pagos entre 1 e 12 de cada mês, com concentração entre os dias 5 e 7.


Antes de sair de férias no dia 1, entrei em minha conta pela internet, somei o valor do que venceria naqueles dias e transferi o dinheiro da conta de poupança (onde meu salário é depositado) para a conta corente (onde os débitos são pagos).


Viajamos tranquilos, nos instalamos na casa da matriarca, lá em Garrrrça e, somente depois que a grana do bolso acabou, procurei um caixa eletrônico. Aí começou minha novela, pois descobri que havia errado nas contas, a CC ficou sem saldo suficiente e as contas do telefone retornaram por falta de saldo.


Imeditamente transferi novos valores, mas a operadora não reapresentou as contas. Então, fiquei sem poder fazer ligações.


Inicialmente ligava para os número indicados pela operadora, mas nada de conseguir. Viajamos para Brasília e, no caminho, entrei em Itumbiara (GO) fui ao BB, a gerente disse-me que não me preocupasse pois a operadora reapresentaria. Continuei a viagem tranquilo.


Em Brasília tudo continuou igual. A operadora não reapresentou a cobrança, o telefone de acesso indicado não atendia nem ligando do fixo do Hotel, nenhum caminho encontrado pra resolver via internet e assim passei os dias viajando, sem poder fazer ligações.


Imagine, sem celular, como faria os acordos com os amigos para almoçar, compartilhar carona? Como encontrar Gláucia em meio a multidão? Bobagens, é verdade, mas a irritação se dava por estar na era da internet e não conseguir resolver algo simples como pagar uma conta.


Voltei pra Salvador sem poder fazer ligações, torcendo pra não ter problemas na estrada e, chegando em casa, comecei tudo de novo.


Em Salvador os número de atendimento da operadora funcionaram, mas a atendente era virtual. Ela até se esforçava para me ajudar, mas nenhuma das palavras para as quais foi programada a ouvir e apontar caminhos fazia parte exatamente do vocabulário do meu problema.


A impaciência aumentava quando me lembrava que eu estava "falando" com uma máquina burra e não com uma mulher de carne e osso. Me sentia ricículo! Interjeiçoes variadas brotavam de minha alma, mas meu superego, representado pelo pastor que sou, não permitia que eu dissesse, mesmo a uma máquina, aquilo que meu ego recomendava.


Com algum tempo de experiência descobri que, se usasse seguidamente palavras diferentes das que ela esperava, surgia na "boca dela" a alternativa de ser encaminhado a atendente de carne e osso. Eureka!


Assim procedendo cai nas mãos, digo, nos ouvidos, de uma mulher. Nunca ansiei tanto por falar aos ouvidos de uma mulher!


O problema é que ela me disse: o sistema está fora "do ar" e somente poderemos saber se o senhor pagou a conta, daqui a meia hora, quando ele voltar. E arrematou um dolorido gerundismo: quando o sistema retornar vou estar checando sua informação.


Liguei uma hora depois pra não dizer que estava impaciente. Novo processo com a virtual. Novo tempo enganando-a pra ser encaminhado a uma de carne e osso e nova resposta que o sistema estava fora "do ar".


E assim se repetiu diversas outras vezes!


Perdi as estribeiras, perdi a batalha e o telefone voltou a funcionar somente quando o sistema da operadora quiz.

Oi, você quer saber o nome da operadora?